sábado, 30 de junho de 2018

Eleições, Lava-Jato e BC aceleram agenda

Angela Bittencourt- Valor Econômico

As "condições financeiras" por Bradesco, Itaú, UBS

O primeiro semestre do ano termina nesta semana. Além do relevante calendário contábil, de fechamento de balanços de bancos, empresas e grandes investidores, neste 2018 julho abre a agenda eleitoral e uma maratona a pré-candidatos e partidos políticos interessados em disputar para valer a presidência da República em outubro. A maratona se estende ao governo que, em seus três níveis federal, estadual e municipal, se apressa a executar sobretudo transferências de recursos nos próximos 15 dias. A partir de 7 de julho, a administração pública estará impedida, pela Lei Eleitoral, de gastar mais do que o pré-contratado e justificado, demitir e admitir servidores.

Também neste fim de semestre, a Operação Lava-Jato acena com uma nova etapa, a partir da homologação do acordo de delação firmado entre Antonio Palocci e a Polícia Federal anunciada na sexta-feira. Palocci teve participação decisiva nas eleições dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e sua sucessora Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto, comandou o Ministério da Fazenda de Lula e a Casa Civil de Dilma. E conquistou o setor privado tornando-se o ministro do Partido dos Trabalhadores (PT) com maior prestígio junto a empresários e banqueiros por mais de uma década.

O ex-ministro está preso desde 2016 e é um dos expoentes do PT que melhor conhece as mudanças que podem ocorrer em consequência de uma sucessão presidencial e num momento único da história do país. O momento é único pela judicialização da política, pela possibilidade de radicalização entre direita e esquerda no 2º turno de votação ao comando da República, pela péssima avaliação que os brasileiros fazem do atual governo e do presidente Michel Temer e também pela dificuldade de a economia brasileira engrenar um ciclo de crescimento.

O Brasil está empacado em condição ímpar. A inflação está há 11 meses consecutivos abaixo de 3%, piso da meta vigente; a taxa de juro segue em queda; há uma inédita liberação de bilhões de reais que trabalhadores, empregadores e próprio governo depositaram obrigatoriamente em fundos institucionais durante décadas; e o Banco Central (BC) domina o mercado de câmbio - o ativo financeiro que atordoou governos durante sucessivas crises que sacudiram o Brasil na história recente.

Nenhum dos componentes do cenário acima representa reformas estruturantes, uma espécie de passe livre para crescimento consistente a médio e longo prazo. Contudo, esse cenário é superior ao que se viu no passado. Até por isso, o BC não precisa exibir parcimoniosa cautela em suas decisões. O comando da instituição sabe o que está em risco. Em cerca de 40 dias, o BC colocou no mercado mais de US$ 42 bilhões, em contratos de swap que ajudaram a aplacar uma movimentação contra o real não só por razões domésticas. Também porque o dólar se fortaleceu no mercado internacional.

Hoje, o BC colocará à venda US$ 3 bilhões, além da oferta de swaps. Esse dinheiro sairá das reservas internacionais, mas os interessados em participar do leilão de dólares deverão se comprometer formalmente, diga-se, com a devolução desses recursos em determinada data que será definida pelo BC. Esse "compromisso" garante que o Brasil não perderá seus dólares.

A agenda de eventos desta semana - divulgação da Ata do Copom na terça, Relatório Trimestral de Inflação, na quinta, com entrevista do presidente Ilan Goldfajn e o resultado das contas públicas -, justifica, para além de razões operacionais, o cerco que o BC ergue em torno de eventuais especuladores.

Na sexta-feira, a coluna conversou com economistas do Bradesco, Itaú Unibanco e UBS Brasil. Os três bancos calculam índices de condições financeiras (ICF). Perguntamos se os indicadores haviam identificado um enfraquecimento da atividade em momento anterior à paralisação dos caminhoneiros. E os economistas ainda não dão o ano de 2018 por "perdido".

O economista Igor Velecico, do Bradesco, conta que o ICF não antecipou a retomada mais gradual. "Nos chamou a atenção, porém, uma divergência observada entre a velocidade de crescimento sugerida pelas condições financeiras (entre 3% e 4%, em termos anualizados) e pelos dados correntes (mais próximos de 2%). Num primeiro momento, desconfiamos que isso poderia ser algum efeito 'devolução' da liberação das contas inativas do FGTS, que impulsionou o consumo e o emprego em meados do ano passado, e que seria, portanto, temporário. Mas os dados do 1º trimestre continuaram indicando que a velocidade de retomada seria mais gradual do que a esperada."

O Itaú Unibanco tem um índice antecedente de atividade (IAM-IU) e, segundo o Departamento de Pesquisa Macroeconômica, chefiado por Mário Mesquita, esse indicador antecipou a retomada mais gradual. "Percebemos que o IAM-IU apresentou recuo expressivo, ainda que ao longo do 1º trimestre tenha permanecido em patamar positivo. E, se mantido nos níveis atuais, é compatível com atividade econômica bastante fraca. Algumas das variáveis financeiras trazem cenário parecido: recuo dos preços de ativos, alta da taxa de câmbio (que afeta a economia via aumento da alavancagem das empresas que têm dívida em dólar) e aumento dos juros de mercado. De fato, os patamares atuais do Ibovespa em dólares (30% abaixo do fim do ano passado) e dos juros de mercado (como indica o swap pré-DI de 360 dias em 8,2%) também são consistentes com o enfraquecimento da atividade econômica. No entanto, mesmo se ocorrer uma estagnação de agora em diante não significa que 2018 será um ano perdido, mas é necessário melhora das condições financeiras dos atuais patamares."

O economista Fábio Ramos, do UBS Brasil, informa que o ICF não antecipou "no momento" anterior à greve dos caminhoneiros um enfraquecimento da atividade. "Agora, sim, o ICF traz resultados mistos. Ainda há empuxo por conta dos juros reais baixos, mas variáveis como câmbio real e bolsa, entre outros, já contaminam as expectativas. Hoje, o indicador sugere crescimento entre 1,5% a 2% ao ano. Mas já sugeriu 3%."



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