Editorial | Folha de S. Paulo
Embora contido por ora, nervosismo dos mercados já deixa sequelas na economia
A sexta-feira (8) se encerrou com indícios de que o Banco Central e o Tesouro Nacional haviam controlado, por ora ao menos, a ameaça de pânico nos meios financeiros.
O primeiro fez promessas de intervenções maciças no mercado para assegurar proteção contra prejuízos decorrentes da escalada das cotações do dólar. O segundo recomprou títulos da dívida pública que se desvalorizaram com a elevação dos juros dos últimos dias.
Estancou-se, dessa maneira, a sequência de perdas que acentuavam as tensões dos investidores e levavam a novos solavancos dos ativos, num círculo vicioso. Mas o saldo da turbulência é, sem dúvida, negativo —e nada indica que seus efeitos estejam esgotados.
A moeda americana chegou a ser negociada a R$ 3,96 no auge do tumulto de quinta (7). No dia seguinte, a cotação média caiu a R$ 3,79, e a de fechamento, a R$ 3,71.
Os juros de mercado recuaram nas últimas horas, mas o custo do financiamento, em especial o de prazos mais longos, já subiu de patamar de modo significativo. Trata-se das taxas que balizam decisões de investimento das empresas.
Os exageros nos negócios financeiros têm origem na queda da confiança no panorama econômico do país —e, ao mesmo tempo, tendem a agravar o pessimismo e dificultar a retomada da atividade.
Há, decerto, fatores palpáveis a explicar, em parte, os movimentos dos mercados. No plano internacional, as perspectivas de elevação do Produto Interno Bruto e dos juros nos Estados Unidos levam à alta do dólar em todo o mundo.
No Brasil vive-se tensão adicional devido à extrema fragilidade das contas públicas, à qual se somam as incertezas do cenário eleitoral e a indefinição da agenda de governo a partir de 2019.
Fica claro agora como a coalizão situacionista foi imprudente ao abandonar, no início do ano, a votação da reforma da Previdência, fiando-se, ao que parece, num cenário externo favorável que se modificou rapidamente.
O país, felizmente, dispõe de instrumentos para evitar uma crise mais grave —em particular, as reservas de US$ 380 bilhões em poder do Banco Central. A inflação tende a subir com a desvalorização cambial, mas se encontra em patamar confortável.
O quadro, porém, demanda cautela extrema. Não podemos nos dar ao luxo, sobretudo, de manifestações de irresponsabilidade e desgoverno como as que se viram na paralisação dos caminhoneiros.
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