Hélio Schwartsman- Folha de S. Paulo
Demandas como bolsas de estudos introduzem distorções difíceis de justificar
Não vejo futuro para o Brasil que não passe pela educação. Sem ensino básico de qualidade, o país não será capaz de navegar pela economia do conhecimento que, cada vez mais, irá impor-se como fonte de riqueza e bem-estar.
E, para obter uma educação de excelência, precisamos de bons professores. A literatura mostra que há uma correlação forte entre a qualidade do sistema e o nível intelectual daqueles que são recrutados para dar aulas. Se quisermos atrair os bons para o magistério, precisamos oferecer-lhes atrativos, normalmente uma combinação de salários com prestígio social.
Vejo com simpatia, portanto, a mobilização de professores por melhores condições de trabalho. Constato, porém, com uma ponta de tristeza, que também eles se deixaram levar pelo encantamento das gambiarras.
Eu me explico. Como é difícil arrancar aumentos do patronato, professores de instituições particulares frequentemente aceitaram barganhar demandas salariais por outros benefícios. O problema é que alguns deles, a exemplo do que ocorre com os subsídios, introduzem distorções difíceis de justificar.
Penso especificamente nas bolsas de estudo que as escolas, por força de convenção coletiva, têm de oferecer aos filhos dos mestres que nelas trabalham. O tamanho da deturpação fica evidente se imaginarmos duas professoras com currículos semelhantes, tendo uma delas dois filhos e a outra, nenhum. Se elas forem funcionárias de um dos colégios de elite paulistanos, a prolífica pode ganhar até R$ 9.000 mensais mais do que a nulípara.
Não sou daqueles que defendem a isonomia em estado bruto. Diferenças salariais são até bem-vindas, desde que baseadas em critérios relevantes, como a capacidade de ensinar. Não penso que a fecundidade esteja entre eles.
O Brasil precisa trocar com urgência a cultura das gambiarras e meias-entradas pela transparente objetividade de salários e preços.
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