Movimentação do Palácio do Planalto e de lideranças do Congresso para reduzir os preços da gasolina e do gás ocasionou a saída do executivo com o cargo mais alto da Petrobrás
Adriana Fernandes, Vera Rosa, Igor Gadelha e Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo
02 Junho 2018
BRASÍLIA - A saída de Pedro Parente do comando da Petrobrás foi motivada pela movimentação do Palácio do Planalto e de lideranças do Congresso para reduzir os preços da gasolina e do gás, depois do congelamento do preço do diesel, e pelo interesse do governo e de parlamentares nos R$ 100 bilhões do leilão dos barris de petróleo excedentes do pré-sal para bancar novos subsídios.
Entrevista Pedro Parente
Em carta, Parente disse ter entregado o que prometeu com o apoio do conselho da estatal e dos funcionários Foto: Wilton Junior/Estadão
Parente sabia que a crise não estava no fim e sem solução à frente, apesar do pacote de medidas do governo para acalmar os caminhoneiros, que até agora já custou R$ 13,5 bilhões de recursos do Orçamento. Além do diesel, o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, passou a defender publicamente um “colchão” para amortecer os preços de outros combustíveis, como a gasolina, ao consumidor. Pré-candidato ao Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), elegeu como prioridade subsidiar o preço do gás de cozinha.
O sinal de que governo buscava alternativas fiscais rápidas para bancar novas medidas – com o temor de que a greve terminasse num processo de convulsão social – ficou evidente para Parente nos últimos dias. Na quarta-feira, ele conversou com Maia por telefone. Uma semana antes, em meio à paralisação dos caminhoneiros, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), em entrevista ao Estado, disse que entre Parente e os consumidores, ficaria com os últimos.
No feriado de Corpus Christi, numa conversa reservada com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, em São Paulo, expôs as dificuldades e o caminho que seguiria. Era a prévia do que apresentaria ontem ao presidente Michel Temer, em reunião que durou 20 minutos.
Segundo informações obtidas pelo Estado, Parente percebeu o movimento político e decidiu entregar o cargo. Não tomou a decisão de última hora nem pegou Temer de surpresa. Sob pressão, ele avaliou que sua permanência seria contraditória com tudo o que sempre defendeu.
O agora ex-presidente da Petrobrás já tinha enviado sinais ao Planalto, durante a negociação para pôr fim à greve dos caminhoneiros, de que não faria mais concessões. Dois anos depois de ter assumido uma empresa que virou alvo da Lava Jato, com seu último presidente, Aldemir Bendine, preso, Parente deixou o governo convencido de que suas decisões na Petrobrás não foram uma “escolha caprichosa”, como afirmou em vídeo postado na rede interna da estatal. As tentativas de culpá-lo pela crise dos caminhoneiros o incomodavam.
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