CORREIO BRAZILIENSE
A baixa qualidade do ensino brasileiro não constitui nenhum fato novo. Há muito as avaliações nacionais e internacionais põem o país na rabeira de nações desenvolvidas e em desenvolvimento. Apesar da notoriedade, porém, não deixa de chocar a notícia das reprovações maciças no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Nada menos de 88% dos bacharéis não alcançaram a nota mínima. Das 610 faculdades que participaram do teste, 13% amargaram 100% de fracasso. São 90 instituições que vendem serviços, cobram caro e não entregam profissionais aptos a disputar uma vaga no mercado de trabalho.
Sem dúvida, alguma coisa está errada. A oferta de cursos de direito prolifera Brasil afora. Segundo a OAB, são 661 mil vagas. Significa que, anualmente, pelo menos em tese, igual número de advogados são postos à disposição da sociedade para representá-la no Judiciário. A avaliação da entidade da classe, porém, lhes barra a pretensão. Diz-lhes, com base no desempenho nas provas, que os anos e os recursos despendidos de nada valeram. Tempo, esforço e poupança escorreram pelo ralo.
Vale lembrar que muitas das faculdades que tiraram nota vermelha recebem bolsas do ProUni. O programa do Ministério da Educação visa incluir alunos de baixa renda no ensino superior. Ocorre, então, verdadeiro paradoxo. O investimento torna-se desperdício. Em vez de contribuir para a ascensão social dos estudantes, rouba-lhes a talvez única oportunidade de disputar bom emprego e, com ele, melhorar as condições de moradia, saúde, educação. A falta de excelência contribui para a reprodução da pobreza.
A tragédia vai além. Embora ganhem destaque em razão do concurso da OAB, os cursos de direito não constituem exceção no mar de ineficiência que avança pelas capitais e interior. Medicina, odontologia, engenharia, letras, pedagogia sofrem do mesmo mal. O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sianes), aplicado anualmente pelo MEC, radiografa o estado de milhares de faculdades. Com o diagnóstico em mão, por que não tomar medidas eficazes para evitar que a doença prolifere? É importante supervisionar os cursos que pecam pela qualidade. Se necessário, fechá-los. Mantê-los em funcionamento é crime de leso-futuro.
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