Luiz Gonzaga Bertelli
Correio Braziliense
Presidente da Academia Paulista de História (APH), vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e conselheiro e diretor da Fiespe/Ciesp
O gás combustível (liquefeito de petróleo — GLP), conhecido como gás de cozinha, foi introduzido no Brasil, a partir de 1937, pelo empresário Ernesto Igel, tendo sido inicialmente importado em sua totalidade, sendo o país, nos dias atuais, quase autossuficiente na produção, o que é um monopólio de fato da Petrobras. Isso decorre do fato de a organização estatal possuir estrutura de terminais marítimos e dutos de distribuição, o que seria muito custoso para potencial concorrente. A legislação atual permite a importação por qualquer empresa e não somente a Petrobras, mas a liberalização esbarra nas limitações existentes de estocagem e vazão até os pontos de distribuição.
Hoje, o GLP, mistura de propano e butano, é fornecido a cerca de 90% das residências brasileiras, aplicações industriais e agrícolas, por intermédio de empresas permissionárias de serviço público, através de grande rede de representantes e revendedores, espalhados por todo o território nacional. A presença do GLP no Brasil é, atualmente, maior do que a eletricidade, água encanada e rede de esgotos. Em torno de 53 milhões de residências utilizam o combustível , enquanto o gás natural abastece menos de 2 milhões.
Para chegar ao usuário, as empresas usam ferrovias, caminhões, carroças, bicicletas, motocicletas, navios e até canoas nos rios São Francisco e Amazonas. Outro aspecto interessante e pouco ressaltado é que o GLP, utilizado em regiões interioranas, preserva as reservas florestais brasileiras. Cada tonelada de GLP consumida equivale à energia de 150 árvores de bom porte, transformadas em carvão. A queima de lenha nos fogões das residências ou em qualquer ambiente fechado provoca, ademais, enfermidades pulmonares, como bronquite e pneumonia. O gás reduz a poluição do ar e possui combustão limpa e completa.
O preço desse derivado do petróleo não é mais subsidiado pelo governo. O Brasil consome mais de 7 milhões de toneladas de GLP anuais e, ainda, importa 20% desse volume. No ano passado, manteve crescimento perto de 4% em comparação com o período anterior, correspondendo a cerca de 4% da matriz energética brasileira.
Os botijões, os mais utilizados de 13 kg, são examinados todas as vezes que eles voltam aos parques de enchimento e se procede ao seu recondicionamento, na ocasião em que se evidenciam problemas. As estatísticas divulgadas pelos bombeiros mostram que a maioria dos acidentes ocorre por descuido do usuário.
Depois de mais de meio século de abastecimento do DLP pela iniciativa privada, a Petrobras/BR ingressou no comércio do energético, com a compra da Liquigás italiana. O mercado de GLP envasado movimenta cerca de R$ 15 bilhões/por ano e as vendas a granel outros R$ 5 bilhões/anuais.
O GLP é um combustível complementar ao gás natural, mais do que um competidor, podendo ser armazenado e transportado com facilidade e custos reduzidos, sem a necessidade de construção de gasodutos. É dotado de alto poder calorífico e cresce o seu emprego, à medida que a indústria produz mais aparelhos e descobre novos campos para aplicá-lo.
No tocante ao gás natural, o país não é, ainda, autossuficiente, o que nos obriga à importação da Bolívia de 27 milhões m³ diários, para um consumo perto de 50 milhões m³/diários, sujeitando a nação aos possíveis riscos de desabastecimento. Até 1980, o gás natural tinha participação muito modesta na matriz energética brasileira, com pequenas jazidas então existentes na Bahia e Sergipe.
Com as descobertas de Campos, essa participação nacional aumentou, com uma produção total prevista de 35 milhões de m³ diários, sendo que os campos marítimos respondem por 74% de toda a produção nacional de gás natural.
Uma das grandes vantagens do gás natural é que gera cerca de 20% a menos do que o óleo combustível nas emissões de CO² e 50% a menos do que os combustíveis sólidos, como o carvão mineral. Ele elimina também por completo as emissões de enxofre e fuligem.
Nos dias atuais, o maior problema que a atividade econômica da distribuição do GLP enfrenta é o mercado ilegal, que acarreta sensíveis perdas em até R$ 850 milhões/anuais, consoante o Sindigás. Pelas estimativas, 25% dos 33 milhões de botijões vendidos mensalmente no imenso território nacional provêm de revendedores ilegais.
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