Boa educação de berço, cidadão com fortes valores morais.
Espero que não queiram lhe macular oferecendo cargos políticos apesar de já terem feito antes.
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Leopoldo Mateus
Época
Tostão irrita ex-colegas da Seleção ao recusar um benefício estranho pago com dinheiro público
Tostão é um homem acostumado a recusar. Quando surgiu, foi logo apelidado de Pelé Branco. Sua persistente modéstia repeliu o apelido. Obrigado por um deslocamento de retina a deixar os gramados aos 26 anos, se recusou a viver de fama. Prestou vestibular para medicina e passou 11 anos sem dar entrevistas. Queria ser apenas o doutor Eduardo Gonçalves de Andrade. Clínico geral bem-sucedido, deixou a profissão após 18 anos. Disse que se recusava a trabalhar em hospitais sem estrutura. Recomeçou como comentarista esportivo na TV e agora escreve. Apaixonou-se pelo novo ofício. Recusa propostas financeiramente sedutoras para voltar à televisão.
Na semana passada, este homem teimoso e fiel a si mesmo driblou a vocação nacional para tomar dinheiro público e recusou uma proposta de aposentadoria oferecida aos ex-campeões mundiais de futebol de 1958, 1962 e 1970. O projeto tramita no Congresso sob o olhar vigilante de Carlos Alberto Torres, o ex-lateral direito e capitão do time que conquistou o Tri no México. Tostão disse que o Estado tem, ou deveria ter, outras prioridades. Carlos Alberto respondeu com um carrinho verbal. "É um demagogo. Ele teve mais sorte que os outros, é médico, não sei nem se é ele quem escreve aquela coluna lá no jornal. Mas tem gente que não foi preparada. Esse filho da p... deveria falar algum tipo de verdade", disse. Elegante, Tostão saltou sobre as pernas do adversário e, de cabeça erguida, disparou para o gol. "Não sou demagogo nem sou bilionário. Só entendo que o governo não pode pegar dinheiro e distribuir assim", disse. "E os campeões de outros esportes? Um artista que elevou o nome do Brasil também poderia pedir esse benefício?"
O Projeto de Lei nº 7.377/2010, apresentado pelo presidente Lula, foi encaminhado ao Congresso em 2008, já passou por três comissões e deverá ser apreciado pela Comissão de Constituição e Justiça nos próximos meses. Se aprovado, premiará 51 ex-jogadores com R$ 100 mil, pagos imediatamente, e um auxílio mensal "para jogadores sem recursos ou com recursos limitados" que pode chegar a R$ 3.400. Em termos do orçamento nacional, o dinheiro é pouco – cerca de R$ 5,1 milhões. Mas a lógica que orienta o projeto de lei é indefensável. Quem lutou pelo Brasil, perdeu a Copa e passa dificuldades não merece ajuda? E os campeões do basquete, do vôlei e do atletismo, valem menos?
"Entendo que o governo não pode pegar dinheiro e distribuir assim"
TOSTÃO, ex-jogador e cronista esportivo
Quatro vezes campeão mundial com a Seleção Brasileira, duas delas como jogador, Mário Jorge Lobo Zagallo respeita a opinião de Tostão, mas não concorda. "É um direito adquirido pelo que o futebol brasileiro fez mundialmente como maior embaixador do país. Uma propaganda que uma pessoa só não faz", diz. O ex-ponta-esquerda Pepe, campeão mundial em 1958 e 1962, também é a favor do reconhecimento financeiro pelos serviços prestados à nação. "Muitos jogadores da minha época atravessam situação difícil. O Moacir está muito doente no Equador. Nilton Santos e Bellini também estão mal. O pessoal daquela época ganhou muito pouco perto do que merecia", diz. Pepe e Zagallo acreditam que Tostão está sozinho entre os colegas em sua recusa. "Você conhece mais alguém que seja contra?", pergunta Pepe.
Tostão não é exatamente um sujeito igual aos outros. Maior ídolo da história do Cruzeiro, entrou com 16 anos na equipe principal depois de ser comprado, ainda juvenil, do América-MG, time do coração de seu pai. Tostão foi a sua primeira Copa no mesmo ano, já apontado como sucessor de Pelé. Mas uma fatalidade se interpôs. Em 1969, num jogo contra o Corinthians, seu olho esquerdo foi atingido pelo zagueiro Ditão, na disputa por uma bola rebatida. O deslocamento da retina exigiu operação. Bem-sucedida, ela permitiu que ele disputasse a Copa de 70, mas, logo em seguida, os problemas no olho voltaram. Tostão se transferiu para o Vasco em 1972 e no início de 1973 deixou o futebol.
Ao contrário da maioria de seus contemporâneos, Tostão conseguiu um bom dinheiro como jogador, mesmo tendo deixado os gramados tão cedo. Juntou o suficiente para comprar uma bela casa num luxuoso condomínio, na região metropolitana de Belo Horizonte. De alma e comportamento reservados, quando deixou o futebol resolveu se dedicar exclusivamente à medicina e não falou com a imprensa entre 1973 e 1984. Contou que acompanhava o futebol de longe, com pouco interesse.
A mudança veio na década de 1990. Ele se separou de Vânia Lúcia, mãe de seus dois filhos – o engenheiro ambiental André e a juíza Mariana – e reaproximou-se do futebol. Voltou a ser presença constante nos estádios a partir de 1993. Comentou partidas pela Bandeirantes por três anos, mas deixou a emissora se dizendo incomodado com "o merchandising excessivo". Foi para a ESPN Brasil e cobriu a Copa de 1998. Logo depois, deixou a TV e tornou-se colunista da Folha de S.Paulo, onde está desde 1999. Seus textos às vezes tratam de temas alheios ao futebol: poesia, cinema, ética... Quando se trata de bola, Tostão é crítico do pragmatismo técnico e moral que domina os gramados e o mundo ao redor deles. Uma de suas frases mais famosas distingue os craques dos medíocres: "A diferença de um grande jogador para o outro é a capacidade de inventar o momento. De repente, sai uma jogada que não estava prevista". Tostão foi assim dentro de campo, e tem sido assim fora dele.
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ESTE É GRANDE! VALE MUITO MAIS QUE UM TOSTÃO!!!
ResponderExcluirCRISTINA PUMAR