Amigos, para os que esperam algum tipo de mudança espontânea na sociedade sob a percepção de que tudo está muito errado sugiro a leitura deste livro de um excelente cientista social orientado pelo nosso mais internacionalmente conceituado antropólogo Roberto DaMatta.
O autor utilizou-se dos dados coletados pela Pesquisa Econômica Social Brasileira, conduzido também por pesquisadores da UNICAMP e UFF (salvo engano nesta) que iniciarem este trabalho científico por ocasião da "Caravana da Esperança" que Lula capitaneou após sua segunda derrota para FHC. De lá para cá os trabalhos foram intensificados e o "retrato científico" fiel de como o cidadão brasileiro, bem afora os grandes centros, pensa. Assim, conhecer o material tabulado dessa pesquisa e publicado com fartos comentários sociológicos facilita o cidadão a conhecer de fato sua realidade e vislumbrar o que pode, e talvez como, ser feito para auxiliar nossa marcha rumo a, pelo menos, redução da desigualdade social.
Sem conhecer o que se trata, via de regra se chuta muito e se propõe ações cada vez mais populistas e risíveis.
Abaixo segue uma resenha do livro feita por outro cientista de peso.
Resenha do livro « A Cabeça do Brasileiro »
Gilberto Gnoato*
A Cabeça do Brasileiro, lançado em 2007 pelo sociólogo e cientista político Alberto Carlos Almeida é, tomando as palavras do próprio autor, “um teste quantitativo da antropologia de Roberto DaMatta”.
Este, para quem o sociólogo, em primeiro lugar, dedica sua obra, é o Tocqueville brasileiro. O francês analisou a democracia na América igualitária, enquanto que DaMatta revela no Brasil uma sociedade tremendamente hierarquizada. Almeida nos mostra que pessoas de escolaridade baixa têm menos propensão a expressar os valores democráticos e igualitários, enquanto que “pessoas mais educadas tendem a se afastar da autoridade superior e rejeitar as relações sociais verticais, em benefício de relações de poder mais horizontais”
Seu trabalho e suas conclusões se realizaram através da aplicação de 2.363 entrevistas feitas nas cinco regiões do país, cujos questionários foram confeccionados a partir da teoria antropológica de DaMatta. Os
temas investigados na pesquisa, e apresentados ao longo dos 11 capítulos de seu livro, variam entre racismo, o jeitinho, hierarquia, relações parentais, sexualidade, a presença do Estado, o público e a lei na sociedade brasileira. Entre outras observações, concluiu que quanto menor o grau de instrução dos entrevistados, maior o índice de aprovação da quebra das regras sociais patrocinadas pelo “jeitinho brasileiro”. “Entre esta população de baixa escolaridade, há também uma tendência em mostrar-se tolerante com a corrupção”, afirma o autor.
O ponto que gerou polêmica em seu trabalho é que sua pesquisa retira o véu religioso, que no Brasil encobre o discurso acerca da pobreza e dos menos instruídos. Tradicionalmente, o governo e a Igreja sempre se encarregaram de “cuidar” dos pobres e dos analfabetos. Sobre eles, historicamente foi depositada, uma película de comiseração ideológica acerca de qualquer crítica que por acaso se pudesse fazer aos pobres ou iletrados.
Outro aspecto impactante da pesquisa é a revelação de que a escolaridade baixa é a causa principal dos problemas brasileiros, num país (a observação não é do autor) onde o seu presidente se orgulha de não ter precisado de diploma para chegar à presidência do Brasil. Para o autor, “é a educação que comanda a mentalidade”. A pesquisa mostra que a população de baixa escolaridade tende a aprovar mais a censura e a intervenção do Estado, entre outras coisas. Por exemplo, 17% da população de baixa escolaridade tende a aprovar mais a censura e a intervenção do Estado, entre outras coisas. Por exemplo, 17% da população aprovam o nepotismo nos cargos públicos. Também tem um índice maior de aprovação no que se refere ao tão famoso jeitinho brasileiro. As práticas sociais da população se agravam mais ainda, porque o jeitinho – da pechincha, da lábia, da ginga, das manobras políticas e dos favores – a c a b a s e n d o a porta de entrada da corrupção. Mas, tragicamente, a pesquisa revela que, “o favor ainda é concebido pela população como algo legítimo na esfera pública”.
Basta o leitor ouvir dos nossos políticos o número de vezes que estes se utilizam da palavra negociação quando deveriam se referir à palavra discussão. É sabido que o favor e o jeitinho sempre foram as práticas políticas mais convencionais da nossa história passada.
Porém, daquela sala de visitas, o governo atual passou definitivamente para o âmbito seguinte: o espaço das negociações.
Lugar onde se fazem negócios. Transformaram a política em compras e vendas de votos, projetos e medidas provisórias. Sequer as pessoas se dão conta do significado trágico desta semântica forçada. Eu perguntaria ao leitor esclarecido se esse tipo de política relacional feita na Casa do Povo entre parentes, amigos e amantes, é da ordem do jeitinho, do favor o u d a corrupção? Afinal, é “uma questão de ordem excelência!”.
*
Psicólogo, mestre em Psicologia da Infância e da Adolescência, professor do Curso de
Psicologia da Faculdade Dom Bosco e coordenador do Projeto Gincana de Morretes.
Jefferson, eu costumo ilustrar o modo como, não só os Brasileiros mas todos os Latinos (Europeus ou Americanos) vêem a vida e as Relações Sociais com uma piada que digo sempre quando minha Esposa me chama ao telefone.
ResponderExcluirMorei 6 anos em Paris-França; sou nascido no Brasil; viajei pela África, Ásia, Américas como um todo; e hoje vivo nos Estados Unidos.
Quando em ocasiões sociais, no escritório ou etc, minha esposa me chama ao telefone, costumo dizer aos demais que a Policia esta me telefonando pois ela sempre pergunta como/onde estou e o que estou fazendo.
Em países Latinos, tal Piada/Brincadeira e compreendida normalmente por todos. Em países Anglo-Saxões e Germânicos, as pessoas que possuem suficiente intimidade pra me fazer perguntas pessoais indagam se minha mulher possui alguma desconfiança sobre como me porto quando longe dela. Claro que este não e, e nunca foi, o caso, minha mulher sempre confiou em mim e usa tais perguntas sem nenhuma outra intenção, ate como, eu mesmo faço quando converso com ela ou qualquer outra pessoa com quem possuo intimidade ao telefone.
Cultura? Sim.
Religião? Sim.
Tudo isso influencia na forma como vemos o Mundo e interagimos socialmente.
Costumo fazer outra comparação sobre como Católicos e Protestantes enchergam as consequências de seus actos.
Para os Católicos, a maioria de seus erros ou pecados podem ser perdoados com uma simples confissão dos mesmos a um Sacerdote. Desta forma, os mesmos não se martirizam por erros ou pecados pois estes, em sua maioria, são perdoados.
Já quanto aos Protestantes, não existe Confissão. Estes são obrigados a suportar as consequências Psicológicas e Físicas de seus erros ou pecados sendo que somente poderão obter perdão caso o Próprio Deus os perdoe no Juízo Final. Isto os leva a pensar severamente antes de cometer erros ou pecados pois, mesmo os insignificantes dependerão unicamente da Misericórdia Divina e somente no Juízo Final.
Tais considerações reflectem em todos os aspectos Sociais das vidas dos Latinos e Católicos e dos Anglo-Saxões e Germânicos Protestantes.
Faço tais comparações sem algum viés Religioso, gostaria de frisar bem antes que alguém possa tentar me imputar tal "pecado".
Um livro que lerei com toda a certeza.