domingo, 5 de fevereiro de 2012

Livros, conhecimento e liberdade




Gostei muito desta figura, ela é simples mas profunda e representativa.
Um garoto faz uma pilha de livros para ultrapassar a barreira da ignorância imposta pelo seu meio, muito bem representado por um muro com palavrões e palavras de ordem desconexas e irrealistas, apesar de fascinantes para os que chafurdam na ignorância.

Livros e leitura libertam, de fato.

Lembro-me, por causa desta figura, de minha infância em Mesquita RJ, bairro simples, pobre, bem antes de ser cidade, onde em minha rua meus iguais de pelada de rua sem asfalto, de bolas de gude na rua molhada para melhorar a firmeza da bola para um bom "teco", da rua seca para o peão de madeira rodar retinho, na vertical sem bambear ou afundar, da rua do vento quente para a pipa subir para a "guerra nas alturas" e na rua descalça da tarde morna, sem sol, boa para "piques" e "polícia e ladrão".

Sim, tive sorte de ter tudo isto. Pai operário de poucos recursos para cinco filhos e mãe zelosa nos poucos recursos e rígida na educação e nos limites de "hora de rua" e televisão. Aliás ela nem chamava, quando eu, ou os demais colegas, esquecíamos da hora, elas simplesmente apareciam no portão e olhavam. Só isto, mais nada para um "Tá na hora, tô saindo!!".

Também tive sorte de ter professoras de colégio do Primário dedicadas em uma educação pública sem ideologias mas também com parcos recursos. Elas indicavam leituras, falavam dos livros com olhos brilhando e cumpríamos a programação do "dever de casa" com seriedade e prazer. Havia uma gostosa e silente cumplicidade. Acordar cedo para pegar o ônibus lotado para Anchieta RJ era um prazer enorme. Era gostoso estar na sala de aula. Bem, tive sorte.

Os livros para mim me libertavam do cenário das ruas quentes de Mesquita. Eu podia viajar junto a Pedrinho e Narizinho nos dez livros de Monteiro Lobato. Também me senti no balão de Júlio Verne na Volta ao Mundo em Oitenta dias ou no submarino Nautilus. A cada palavra diferente o velho dicionário abria a curiosidade para novas palavras. A cada nome ou lugar ou evento diferente os livros de História e a professora ajudava.


Depois veio o Ginásio, no glorioso Pedro II do Engenho Novo RJ. Quando, no trem Japeri, e no "parador" Deodoro, procurava escapar dos trogloditas do SENAI, sempre querendo encrenca, estava entretido nos bolsilivros de faroeste (far west), FBI e ZZ7. Cheguei a ler 600 deles ao longo dos quatro anos no ginásio. Pequenos, de fácil leitura, lia um na viagem da ida e da volta nos trens. O tempo não demorava, voava.

Foi bom, pois pesquisava e conversava mais. Tínhamos uma brincadeira de adivinhação. Fazíamos uma roda de mais de dez, contávamos os dedos e a letra de desse dávamos o nome de uma música, um jogador de futebol, de um evento histórico, um composto químico, uma personalidade, uma palavra etc etc. Por causa da leitura eu sempre me dava bem. Disputava letra a letra com o Arlindo Cruz, este mesmo, o sambista compositor, que faz agora a vinheta do carnaval para a Globo. Ele era muito estudioso, culto, e ganhar dele era difícil.

Eu, Arlindo e outros tínhamos, no último ano do CP II, o hábito de comprar os simulados dos concursos para as escolas do científico e militares e resolver os exercícios. Eu ficava feliz em ver que em História, Geografia e Português eu acertava muitas e ficava atrás do Arlindo em Matemática e Ciências. Ele era muito bom nessas matérias. Meu sucesso eu creditava a leitura. E me dei muito bem nos concursos.


Avançando eu vi, ao longo de minha carreira, que os livros que tive sorte de ter nas mãos me ajudavam a ver o mundo de forma menos superficial. Daí meu interesse aumentava. A leitura me ajudou muito na faculdade de Administração me poupando muito tempo de estudos. Depois no MBA da FGV e nos mestrados.

Eu insisto com minha filha, minhas afilhadas e sobrinhos: A leitura liberta, dá segurança, amplia nossa curiosidade e vontade de sempre querer ir além das notícias superficiais que a mídia e a internet nos mostram.

Espero que as palavras de Confúcio funcionem: "Se as palavras mobilizam, o exemplo arrasta!!" Minhas filhas, em casa, não me veem na televisão nem grudado no computador. Elas me veem na poltrona...sempre com um livro na mão.

É com elas e com a geração delas que me preocupo e me comprometo. Eu quero que elas e seus iguais sejam livres e seguros...a sociedade vai ganhar muito com isto.
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