sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Relações com a Argentina

A importância de se estar informado acerca do que ocorre no país e nos países vizinhos com os quais temos relações diplomáticas e comerciais evita com que o populismo neles afetem os negócios de empresas brasileiras que acreditaram em um padrão ético de relacionamento.



BARREIRA ARGENTINA 
EDITORIAL
JORNAL COMMERCIO (PE)


A exportação para a Argentina passa a ser dificultada a partir desta semana, quando entram em vigor medidas protecionistas que inibem o comércio internacional. Exigências burocráticas que incluem licenças antecipadas de importação e comunicados detalhados por e-mail preocupam os empresários brasileiros. Diversos produtos integram a pauta de exportações do Brasil para o país vizinho, como motos e aparelhos eletrônicos produzidos na Zona Franca de Manaus. Para se ter uma ideia do grau da burocracia, figura entre os detalhes solicitados a data de embarque e desembarque do produto. Acontece que, enquanto o governo argentino não aprovar a operação, é impossível saber em qual data será efetivada. 

A reação tem sido forte entre o empresariado brasileiro. “Podemos rasgar o Mercosul”, disse Roberto Gianetti da Fonseca, diretor da Fiesp. De fato, a implantação de dois formulários diferentes e de um prazo de dez dias para a aprovação de cada pedido de importação significa um retrocesso no âmbito do mercado comum, empatando relações comerciais que deveriam, pelo contrário, ser facilitadas. Cada vez mais o bloco econômico sul-americano se revela como uma ficção. Notadamente com um parceiro menos interessado no apoio dos outros do que decidido a assumir sozinho a conta de suas próprias mazelas – que não tem condições de pagar. As medidas – na prática, anti-importação – refletem a indisposição do governo de Cristina Kirchner para o Mercosul, e a evolução da política, nem sempre sutil, de inibir a importação de produtos brasileiros. 

Enquanto a crise financeira se acentua na Europa, a cooperação em nosso continente seria aconselhável, como afirmou em entrevista para a Folha de S.Paulo o ex-ministro da Economia da Argentina Martin Lousteau. “Os países do Mercosul estão perdendo tempo discutindo travas internas sem ter claro o que vem por aí. A crise global vai ser dura para todos nós. A região teria de encontrar um modo de defender-se unida”. A barreira argentina, contudo, vai na direção inversa, comprometendo o futuro do bloco e de suas nações.

A Câmara Argentina de Comércio e a União Industrial Argentina tentam exercer alguma pressão institucional para reverter a tendência protecionista, mas o problema deve se acentuar ao longo dos próximos meses, caso os procedimentos sejam de fato seguidos e as operações entrem numa fila desnecessária e lenta para serem efetuadas. A declaração do ministro Fernando Pimentel, publicada no jornal La Nación, de que apesar das boas relações políticas, no campo econômico a Argentina é um “problema permanente, difícil de lidar economicamente”, além de desabafo logo após a divulgação das restrições, pode ser apenas o início do conflito comercial que vem por aí. Afinal, é possível que o governo brasileiro resolva usar as mesmas armas, e jogar pesado, fechando as portas para os produtos argentinos. Como fez no ano passado, limitando a entrada de automóveis argentinos. Será uma guerra de dois perdedores, não há dúvida – no entanto necessária, diante da insensatez da Casa Rosada.
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