Comunicação baseada em Princípios Stephen R. Covey
Primeiro passo: Identificando os problemas
Alguns executivos justificam o uso de métodos arbitrários em nome de um objetivo maior. Eles dizem que “negócios são negócios” e que algumas vezes a “ética” e os “princípios” precisam ser sacrificados em nome dos lucros. Muitos acreditam que não haja correlação entre a qualidade de sua vida pessoal, em casa, e a qualidade de sua comunicação, no trabalho. Por causa do ambiente social e político dentro de suas organizações e dos mercados fragmentados fora dela, eles acreditam que podem fazer e desfazer de relacionamentos, e ainda atingir resultados.
O fenômeno é semelhante à história que um técnico de um time de futebol profissional me contou certa vez, de que alguns jogadores cometem muitos excessos, não se cuidam durante as férias e retornam aos treinamentos e competições fora de forma. "Por algum motivo, eles acham que podem me tapear, ser escalados e ainda ter excelente desempenho nos jogos.”
Na mesma lógica de raciocínio, quando eu pergunto em meus seminários sobre quantos dos presentes concordam que a maior parte da força de trabalho possui muito mais capacidade, criatividade, talento, iniciativa e recursos a oferecer que suas atuais funções permitem ou requerem que usem, aproximadamente 99% concordam com a afirmação. Ou seja, todos admitimos que nossos maiores recursos são desperdiçados.
Geralmente nossos ídolos são pessoas que ganham muito dinheiro. E quando um ídolo – um ator, artista, atleta ou outro profissional sugere que podemos conseguir o que queremos sendo inescrupulosos em nossas negociações, fechando acordos ganha/perde e jogando de acordo com nossas próprias regras, nós acreditamos neles, especialmente quando as normas sociais reforçam o que eles dizem.
Comunicação fechada
Alguns pais não querem ter o trabalho de educar seus filhos corretamente e pensam que é suficiente manter as aparências, gritam e se fecham para qualquer comunicação. Depois ficam chocados quando vêem seus filhos adolescentes utilizando drogas, álcool, e sexo para preencher o vazio que existe na vida deles.
Quando peço aos executivos que se envolvam com todo o seu pessoal e que juntos trabalhem por seis meses na elaboração da declaração de missão da empresa, alguns dizem: “o que é isso, Stephen. Nós matamos isso em um final de semana." Aliás, é comum ver pessoas tentando resolver tudo em um final de semana – até mesmo tarefas difíceis, como reconstruir um casamento, são prometidas para serem realizadas em um final de semana. Imaginem mudar a cultura de uma empresa em um único final de semana, tentando criar uma proposta comercial importantíssima em apenas um final de semana. Algumas coisas simplesmente não podem ser feitas em um final de semana.
Outra observação comum nas empresas refere-se aos processos de crítica à atitude dos executivos no trabalho. Grande parte dos profissionais as leva para o lado pessoal porque têm a necessidade de ser aceitos por seus funcionários. E são comuns situações em que executivos e funcionários criam um ambiente de conluio e, em função de suas fraquezas mútua, não expõem suas percepções e observações críticas, uma ótima maneira de justificar suas próprias improdutividades e até mesmo a falta de produção.
Manipulações consentidas
Quando se trata de gerenciamento das ações dentro das empresas, tudo precisa ser mensurado. É comum observar, por exemplo, que o mês de Julho é dos operadores, mas Dezembro pertence aos controllers. Muitas vezes, os números são manipulados no final do ano para fazer com que todos pareçam bem para a diretoria da empresa. E aqueles números que deveriam ser precisos e objetivos, para melhor sustentar decisões como mudanças estratégicas ou reprogramações de produção, acabam sendo baseados em hipóteses subjetivas. Todos sabem que há uma maquiagem, mas todos acobertam para não revelarem suas ineficiências.
O mesmo problema ocorre em processos de treinamento. A maior parte das pessoas se aborrece com palestrantes “motivacionais”, que nada têm a oferecer além de histórias divertidas combinadas a chavões tradicionais. Elas querem substância; elas querem processo; elas querem mais que aspirinas e band-aids para as dores intensas que estão sentindo em seu dia-a-dia. Elas querem resolver seus problemas crônicos e alcançar resultados de curto prazo.
Certa vez, eu fiz uma palestra para um grupo de executivos em um evento de treinamento e descobri que eles estavam lá contrariados porque o CEO os havia “forçado” a “comparecer e ficar quatro dias ouvindo um punhado de conceitos abstratos.” Eles faziam parte de uma cultura paternalista que encarava treinamento como uma despesa, não como um investimento. A organização deles gerenciava pessoas como se fossem coisas.
Nas escolas, pedimos aos alunos que nos digam o que aprenderam em nossas aulas. Aplicamos apenas testes sobre o conhecimento adquirido ou decorado e rapidamente os alunos percebem como o sistema funciona: durante as aulas podem ir para baladas, enrolar à vontade, e depois, na véspera dos testes, racham de estudar para conseguir as médias necessárias. Saem da escola pensando que podem utilizar atalhos semelhantes para tudo na vida.
A Solução: Centrar em Princípios
Todos esses problemas não conseguem ser resolvidos pelos métodos comuns de administração das empresas e das pessoas. Métodos rápidos, fáceis, gratuitos e divertidos não darão resultado nessas situações comuns da vida das pessoas nos ambientes de produção, sejam escolas ou locais de trabalho, simplesmente porque lá sempre estaremos sujeitos às leis naturais e princípios determinados pelo ambiente.
As leis naturais, baseadas em princípios, atuam independentemente de nossa consciência e não se submetem a ela.
Com freqüência, hábitos de ineficácia têm origem em nosso condicionamento social de buscar soluções rápidas e fáceis, geralmente de curto prazo. Se na escola, muitos de nós enrolávamos e deixávamos para rachar de estudar na véspera das provas – e, éramos bem sucedidos, essa lógica comportamental torna-se um padrão a ser reproduzido ao longo de toda a vida profissional.
Mas será que esse esforço de última hora funcionaria na administração de uma fazenda, por exemplo? Você poderia deixar de ordenhar uma vaca por duas semanas e depois ordenhá-la como louco em poucas horas para retirar todo o leite retido? Você poderia “esquecer” de semear na primavera, ficar na boa durante o verão inteiro e depois "atacar” o solo a fim de conseguir colher?
Podemos até rir dessa abordagem ridícula quando se trata de agricultura, mas quando observamos os ambientes acadêmicos, percebemos que, provavelmente, é possível rachar de estudar apenas às vésperas dos exames para obter as médias e os diplomas.
A “lei da fazenda”
Ao longo da vida profissional, porém, o que resta é a lei da fazenda: você precisa preparar o solo, plantar a semente, cultivar, controlar as ervas daninhas, aguar e cuidar da planta durante seu crescimento, se quiser alcançar resultados. Assim são os negócios ou mesmo um casamento de sucesso – para os empreendimentos de longo prazo, não existem soluções rápidas e milagrosas com as quais você, num passe de mágica, consiga consertar tudo com uma atitude mental positiva e um pacote de fórmulas de sucesso.
Os princípios corretos são como as bússolas: eles estão sempre nos mostrando a direção. Se soubermos interpretá-los, não ficaremos perdidos, confusos e nem seremos enganados por vozes e valores contraditórios. Princípios como imparcialidade, igualdade, justiça, integridade, honestidade e confiança não foram inventados por nós. São leis universais, aplicáveis às relações humanas e às organizações. Os princípios fazem parte da condição, percepção e consciência humanas.
As pessoas instintivamente confiam naquelas cuja personalidade está alicerçada nos princípios corretos. A prova disso está em nossos relacionamentos de longo prazo. Aprendemos que a técnica tem relativamente pouca importância quando comparada à confiança e que a confiança é o resultado de nossa confiabilidade no decorrer do tempo. Quando a confiança é alta, nós nos comunicamos com facilidade, sem esforço e de forma rápida. Podemos cometer erros, mas as pessoas ainda entenderão nossa intenção. Mas, quando a confiança é baixa, a comunicação é exaustiva, demorada, ineficaz e excessivamente demorada.
A maioria das pessoas prefere trabalhar sua personalidade a trabalhar seu caráter. A primeira envolve a aquisição de uma nova habilidade, estilo ou imagem, mas a segunda requer mudança de hábitos, desenvolvimento de virtudes, controle de desejos e emoções, cumprimento de promessas ou demonstração de respeito em relação aos sentimentos e convicções do próximo.
O desenvolvimento do caráter é a maior manifestação de nossa maturidade. Valorizar a si mesmo, e, ao mesmo tempo, sujeitar-se a propósitos e princípios mais elevados, é a paradoxal essência de uma humanidade melhor, e base para a liderança eficaz.
Os líderes centrados em princípios são homens e mulheres de caráter que trabalham com competência nas "fazendas" com “semente e solo”, em harmonia com princípios naturais, de “norte verdadeiro” e com a lei da colheita. Eles colocam esses princípios no centro de sua vida, no centro de seus relacionamentos, no centro de suas comunicações e contratos, em seus processos de gestão e em suas declarações de missão.
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