segunda-feira, 12 de julho de 2010

Você já alcançou a realização profissional?

O sentimento de realização profissional permeia milhões de pessoas, das mais variadas idades e segmentos de atuação. Contudo, nem todos conseguem sentir-se realizados quando olham para trás e fazem um balanço do que realizaram ou não. Será que é possível escapar, driblar ou mesmo enfrentar de frente algumas armadilhas que se apresentam no caminho e que, consequentemente, nos desviam dos objetivos que se deseja alcançar? Para responder essa e outras questões, o RH.com.br entrevistou Carlos Hilsdorf, consultor, pesquisador do comportamento humano e autor do livro Atitudes Vencedoras, Editora Senac São Paulo.
Segundo ele, a realização profissional envolve aspectos emocionais e psicológicos, que se sobrepõem aos materiais. "A realização possui muitos níveis e subníveis, para que seja vivenciada como uma experiência altamente significativa. Mas, isso muda de pessoa a pessoa. A realização tanto depende de fatores subjetivos, particulares e intransferíveis como de fatores objetivos", alerta. Como a natureza humana sempre está à procura da superação de obstáculo e se você está entre os que buscam um lugar ao sol, no mínimo, essa entrevista o fará refletir sobre os caminhos que escolheu e se precisa repensar algumas metas na trajetória profissional. Boa leitura!

RH.com.br - O sentimento de realização profissional é um processo em constante evolução ou é possível chegar a um ponto máximo?
Carlos Hilsdorf - Para todo profissional que mantenha sua lucidez e escape das armadilhas da vaidade e do ego, a realização será sempre um processo em constante evolução, uma busca incessante. Porque quanto mais sabemos sobre um tema, mais nítida torna-se a certeza sobre o quanto ainda desconhecemos sobre ele. Quanto maior o nosso nível de realização, maior a clareza com que percebemos os detalhes que nos escapavam antes, detalhes que elevam exponencialmente a nossa performance. O vencedor é aquele que continua evoluindo onde os outros se dão por satisfeitos.

RH - 
Que fatores contribuem para que uma pessoa sinta-se realizada profissionalmente?
Carlos Hilsdorf - A realização possui muitos níveis e subníveis, para que seja vivenciada como uma experiência altamente significativa. Os aspectos emocionais e psicológicos sobrepõem-se aos aspectos materiais sempre que estes últimos estejam satisfeitos no nível que consideramos minimamente justo para nossa condição atual. Isso muda de pessoa a pessoa. Um profissional à procura de sua realização pode buscar uma empresa onde receba menos benefícios financeiros, mas maior satisfação pessoal, desde que isso não represente risco às condições mínimas que ele estabelece como critério de qualidade de vida material. A realização depende de fatores subjetivos, particulares e intransferíveis como, por exemplo: prazer em realizar o trabalho; melhoria da autoestima devido às vitórias frente aos desafios; paz de espírito; desafios estimulantes ao seu potencial. E depende de fatores objetivos, tais como: reconhecimento financeiro de seu trabalho; oportunidades de ascensão profissional claramente sinalizadas; carga de trabalho; demais benefícios materiais envolvidos, entre outros fatores.

RH - Milhares de pessoas dedicam anos da vida a uma profissão e quando olham para trás têm a sensação de que tudo não passou de tempo perdido. O que, geralmente, ocorre com esses profissionais?
Carlos Hilsdorf - Esta sensação é muito comum nas pessoas que se esquecem de fazer um planejamento estratégico de vida. Elas são envolvidas pelo trabalho de uma forma e em um ritmo que acaba por desviá-las de suas metas pessoais e prioridades de vida. Acabam vivendo no piloto automático, perdendo o comando do leme de suas próprias vidas.

RH - A ausência de foco para a "causa" e a "finalidade" nas atitudes é perigosa para uma carreira bem-sucedida?
Carlos Hilsdorf - Sem foco, ou seja, sem uma definição clara de causa e finalidade, não se alcança a realização profissional. Para tudo o que fazemos na vida precisamos buscar a causa - ontologia - e a finalidade - teleologia. A causa responde à pergunta "por quê?", e a finalidade responde à pergunta "para quê?". A finalidade é a missão, é o significado. Enquanto, a causa é a justificativa racional para que a finalidade seja atendida. A causa deve estar ligada à finalidade, deve atender aos seus pré-requisitos. Devemos sempre perguntar "por quê?" e "para quê?"; fazendo isso observamos se existe sincronismo entre causa e finalidade.

RH - A realização profissional está mais próxima de quem alcança a maturidade em relação aos que, por exemplo, têm apenas cinco anos de atuação do mercado? Ou isso é relativo?
Carlos Hilsdorf - É relativo, pois como a realização é um processo constante, haverá vários níveis de realização para cada fase de nossa carreira. A maturidade influencia enormemente nos níveis de realização que podemos experimentar, mas a maturidade não é função exclusiva dos aspectos quantitativos do tempo, quantidade de anos de mercado, por exemplo, mas dos qualitativos - a qualidade com a qual vivemos estes anos. Não importa, apenas, quanto tempo passa, mas como vivemos o tempo que passa. Um profissional com menos tempo de mercado pode apresentar uma maturidade superior a de outro com mais tempo, em função de seu nível de consciência e de como ele vive o tempo.

RH - Quais as características mais evidenciadas em uma pessoa realizada profissionalmente?
Carlos Hilsdorf - Poderia estacar: sensação de satisfação e plenitude; orgulho de pertencer à categoria de profissionais que escolheu; prazer em continuar aprendendo e atingindo novos níveis de realização; sensação de equilíbrio entre o que doa e recebe da vida através do trabalho, não envolvendo somente os aspectos materiais; autoestima elevada; desejo de buscar metas mais ousadas e sonhar novos sonhos; certeza de estar deixando um legado altamente significativo aos seus sucessores.

RH - Há regras para se alcançar o estado de "Nirvana" no campo profissional?
Carlos Hilsdorf - Depende do que consideramos como ‘Nirvana". Se for uma metáfora para máxima realização, não há regras, mas seguramente há dicas que contribuem para este atingi mento. Tomando o termo "Nirvana" como sinônimo da máxima realização profissional, vejamos algumas dicas: manter-se sempre interessado e dedicado a aprender mais e melhor; manter-se aberto a ideias e experiências profissionais muito diferentes das suas, faça benchmarking com outras áreas e segmentos; estabeleça um network de extrema qualidade com pessoas com as quais vale conviver e trocar experiências - Peter Drucker fazia isso; dedique tempo a você, coloque-se na agenda; aprimore suas inteligências, especialmente a emocional e social; olhe para as dificuldades como oportunidades e não como problemas; esteja à frente das mudanças, observe cenários e tendências e adapte-se mais rápido. Agora, se tomarmos o termo "Nirnava", não como metáfora, mas como conceito em suas conotações espirituais mais profundas, aí o assunto fica bem mais delicado, porque envolve desapego, vencer as ilusões do ego, temas que para alguns profissionais, ainda não são uma realidade no cotidiano, muitas vezes pautado por atitudes opostas à busca deste estado de espírito.

RH - A participação efetiva da empresa é fator preponderante para que o profissional alcance o patamar sempre desejou?
Carlos Hilsdorf - Sim, evidente. O fato de que algumas empresas sejam consideradas "as melhores empresas para se trabalhar" explica porque são mais lucrativas que as demais: atraem e mantêm os melhores talentos. Estes talentos não permanecem em empresas onde não consigam experimentar autorrealização, reconhecimento e novos desafios. As melhores empresas têm algo muito importante em comum: um RH atuante, com maior liberdade, reconhecimento e autonomia. Por isso, sempre alerto em minhas palestras: "Toda reunião que trate do presente ou futuro da empresa, para a qual RH não tenha sido convidado e ouvido atentamente, é uma reunião míope!".

RH - Os constantes desafios impostos pelo mercado são fatores estimuladores para os que buscam a realização na carreira?
Carlos Hilsdorf - Pessoas em busca de realização são orientadas para desafios. Neste sentido, a extrema competitividade que vivemos na era atual é incrivelmente estimulante para os profissionais que querem construir uma carreira brilhante. Claro que somente os melhores vibram com este alto nível de exigência, os demais se amedrontam ou fogem na busca de encontrar áreas de conforto menos sujeitas a turbulências. Estes últimos ainda não perceberam que estas áreas não existem mais.

RH - Realização profissional e sucesso caminham sempre lado a lado? Podem ser confundidos?
Carlos Hilsdorf - Podem ou não caminhar lado a lado e são frequentemente confundidos. Até porque em português costumamos confundir fama ou celebridade, com sucesso. Sucesso não é a fama, não é o patrimônio material, não é o lugar de destaque na hierarquia. Sucesso é o que resta se tudo isso se perder. Sucesso é o que não pode ser tirado de você, é a sua essência realizada. Para os que entendem que sucesso é autorrealização, da qual a realização profissional é parte muito importante, então, ambos caminham lado a lado. Do contrário, uma pessoa pode ter fama, pode ser uma celebridade e não ter sucesso, porque não está se autorrealizando. É comum pessoas famosas declararem sua sensação de vazio e fuga para psicotrópicos. Elas têm fama, mas não têm sucesso - no sentido conceitual, não apenas semântico do termo. O verdadeiro sucesso não é um fenômeno passageiro, é um estado de evolução e realização pessoal. Assim, é possível ser um professor de sucesso sem ser um professor famoso, o mesmo ocorre com médicos, profissionais de TI e todas as demais profissões.
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