segunda-feira, 19 de julho de 2010

O petróleo é nosso, mas não os equipamentos

Eu não tenho a pretensão de  entender de tudo, todavia tenho a obrigação de ver os fenômenos sociais e econômicos à nossa volta com o olhar mais crítico.

Na mesma linha que se comemora o desempenho internacional da Petrobrás e do contínuo aumento da produção científica do país, à frente da Rússia e Índia, este lapso não é questionável. O  que está errado em nossa formação de quarto e quintos graus que, apesar de festejados, não se consubstanciam em resultados necessários? Boa reflexão, não acham?








O petróleo é nosso, porém os equipamentos que ajudam a extraí-lo em geral não o são, como mostrou o levantamento que fizemos em nossa edição de ontem.





Cada país tem uma atividade-chave que impulsiona o setor industrial. No Brasil, nos últimos anos, esse papel foi desenvolvido pela construção civil, que apresentou no primeiro trimestre do ano, em relação ao mesmo período de 2009, um crescimento de 14,5%, ante 9% do PIB.





Poder-se-ia pensar que os grandes investimentos da Petrobrás, calculados em US$ 40 bilhões por ano, dariam a essa empresa o papel de impulsionar a indústria. Mas não é o que se verifica, pois a Petrobrás vem exibindo uma balança comercial deficitária em virtude das suas encomendas de equipamentos no exterior. Na década de 80, a Petrobrás tinha um papel mais importante do que hoje nas compras à indústria nacional.





Sem dúvida, a Petrobrás se destaca no mundo pela exploração de petróleo em águas profundas, desenvolveu uma tecnologia toda especial e formou técnicos especializados nesse tipo de exploração.




No entanto, parece ter-se esquecido de estimular a indústria nacional no fornecimento dos equipamentos necessários a essa atividade.





Entre 2002 e 2010 a Petrobrás encomendou 15 plataformas no exterior, das quais 7 tiveram seu casco produzido no Brasil, com equipamentos importados. Alugou 15, num período em que era particularmente difícil encontrar plataformas a preço razoável, e os compressores de gás e geradores de energia sempre foram importados.





Essas importações são estranhas num país como o Brasil, que há muitos anos constrói geradores gigantes para suas usinas hidrelétricas. O caso das sondas é pior, pois todas são importadas, e a Petrobrás explica que os equipamentos produzidos no Brasil são mais caros e não respondem às exigências técnicas.
Pode-se entender que a Petrobrás se mostre exigente em relação à qualidade que esses equipamentos devem apresentar, mas é lícito perguntar se se pensou em desenvolver no País, que produz todos os tipos de aços especiais, uma tecnologia nacional não apenas para economizar divisas estrangeiras, mas também para colocar o Brasil em condições de oferecer produtos de alta qualidade no mercado externo.
A dependência externa para a produção de petróleo - ainda mais no caso de uma empresa tão nacionalista como a Petrobrás - ilustra com clareza o problema da falta de planejamento de nossa economia. 
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