sábado, 24 de julho de 2010

O insustentável preconceito do ser!

Sensacional!!!
Grato mana Lisy!!

 O insustentável preconceito do ser!                                         Rosa Jatobá - jornalista
  

Era o admirável mundo novo! Recém-chegada de Salvador, vinha a convite de uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como repórter. Solícitos, os colegas da redação paulistana se empenhavam em promover e indicar os melhores programas de lazer e cultura, onde eu abastecia a alma de prazer e o intelecto de novos conhecimentos. 


Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:



- Recomendo um passeio pelo nosso "Central Park", disse um repórter. Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!



-Então estarei em casa, repliquei ironicamente.


-Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um tipo de gente.


-A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da capital paulista?
-Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e fazem "farofa" no parque.
-Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a janela do carro e atirou uma caixa de sapatos.

-Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a sua terra, seu jeito de falar....


De fato, percebo que não existe a intenção de magoar. São palavras ou expressões que , de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.



Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os "Paraíba", que, aliás, podem ser qualquer nordestino. Com ou sem a "Cabeça chata", outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.


Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude censurável.


Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava:


-O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando.

 A letra diz o seguinte:


"O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, quero o teu amor".


"É ofensivo", diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar, como se fosse doença? E as pessoas nunca percebem.



A expressão "pé na cozinha", para designar a ascendência africana, é a mais comum de todas, e também dita sem o menor constragimento. É o retorno à mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala.


O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo no qual ressalta:


"Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra 'niger' para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um versinho assim:


'Eeny, meeny, miny, moe, catch a niger by the toe'...que quer dizer, agarre um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se quer diminuir um negro, usa-se a palavra crioulo).


Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra , os negros cunharam o slogan 'black is beautiful'. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém".


Será que na era Obama vão inventar "Pé na Presidência", para se referir aos negros e mulatos americanos de hoje?


A origem social é outro fator que gera comentários tidos como "inofensivos" , mas cruéis. A Nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a mesma que o picha o próprio Presidente de torneiro mecânico, semi-analfabeto.



Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir:


- A minha "criadagem" não entra pelo elevador social !


E a complacência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes humilhantes, dirigidos aos homossexuais ? Os termos bicha, bichona, frutinha, biba, "viado", maricona, boiola e uma infinidade de apelidos, despertam risadas.
Quem se importa com o potencial ofensivo?



Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito, e desagrada o código masculino, ouve frequentemente:


- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque!

Dependendo do tom do cabelo, demonstrações de desinformação ou falta de inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino:
-Só podia ser loira!
Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco:
- Só podia ser judeu!



A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica aos árabes. Aqui, todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndega, baleia ...


Gosto muito do provérbio bíblico, legado do Cristianismo: "O mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem".



Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo as teias do comportamento humano.


A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável.



O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque , em doses homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a ignorancia e alimenta o monstro da maldade.


Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcóolatra, passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado:


-Só podia ser mendigo!


No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata 111 detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover:
-Só podia ser bandido!



Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor para dizer uns aos outros.


PS: Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos. ..

________________________
Rosana Jatobá é jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologias ambientais da Universidade de São Paulo. Também apresenta a Previsão do Tempo no Jornal Nacional, da Rede Globo. 

Esse texto é parte da série de crônicas sobre Sustentabilidade publicada na CBN

2 comentários:

  1. Estar Firmes na Fé | Pr. Dilson Mendonça

    1 Coríntios 16:13 - ¶ Vigiai, estai firmes na fé; portai-vos varonilmente, e fortalecei-vos.

    No meio das recomendações, ao finalizar a Carta dos Coríntios, o Apóstolo Paulo exorta: “Vigiai, estai firmes na fé; portai-vos varonilmente e fortalecei-vos” (I Coríntios 16:13).

    Em mais de uma vez o Apóstolo esclarece que ter fé é um dom de Deus. Mas ele também nos esclarece sobre nossa responsabilidade de exercitar e fortalecer esta fé. Em outras palavras, deixamos de exercitar nossa fé quando, no dia a dia ou nos momentos mais difíceis, só apoiamos para nossa inteligência, nossa força física, nosso dinheiro, nossas amizades. Aí, quando nos damos conta, o que descobrimos em nós é uma fé anêmica, raquítica.

    Para nos ajudar a firmar nossa fé o Senhor tem uma abordagem interessante: Ele permite problemas e dificuldades em nossa vida. Ele permite injustiças. Ele permite enfermidade. Permite desemprego. E até luto. Por isso, a Bíblia diz que devemos dar graças, “quando passarmos por muitas provações”. Por isso, também, Ele diz: “Eu disciplino os filhos, a quem amo”. O alerta de Paulo é claro: “vigiai”. É um dos jeitos de “estar firmes na fé”.

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  2. Parece que todos têm preconceitos e todos são vítimas dos mesmos preconceitos!

    Faltou uma outra característica a ser mencionada... a característica física. O preconceito em relação aos deficientes físicos (os "PNE") e em relação aos 'feios' e até mesmo aos 'bonitos'!!

    Até os grandes mestres da humanidade foram vítimas de preconceitos! Ninguém escapa. Talvez, aí, estejam escondidos diversos sentimentos que nos corroem por dentro, como a INVEJA, o CIÚME, a INSEGURANÇA, a GANÂNCIA, o ÓDIO e tantos outros, além da IGNORÂNCIA no sentido da falta de conhecimento.

    Só esclarecimento, a disseminação de informações não é suficiente para abolir o preconceito. É necessário, além disso, um preparo interior para acolher a si e ao outro. No fundo, as pessoas ditas preconceituosas, por não aceitarem determinadas características de uma pessoa ou de um grupo de pessoas, pode, na verdade, não aceitar aquela determinada característica em si mesmas.

    Cristo foi muito sábio, assim como outros mestres da humanidade, ao afirmar "Amai ao próximo como a ti mesmo"; ou seja, só poderemos amar e aceitar aos outros, se, primeiro aprendermos a nos amar e a nos aceitar do jeito que somos, com as qualidades e defeitos pertencentes ao nosso ser.

    Bom... quanto aos tipos de preconceitos... sofri ou sofro ainda... por ser MULHER, LOIRA, NORDESTINA, CEARENSE, MAGRA, ENFERMEIRA, CATÓLICA, ESPÍRITA, 'CARETA', por ter tido DEPRESSÃO e por aí vai... Até por ser 'branca' também já fui 'vítima'!! E também por outras características que são consideradas qualidades para muitos, mas que para outros não são. Cada um pensa de um jeito diferente...

    Engraçado, que, até entre os nordestinos há preconceito... nesse mesmo ano, fui a uma determinada cidade em outro estado, mas também nordestino e senti uma certa hostilidade por parte das pessoas do local só pelo fato de eu ser do Ceará. Enfim...

    ... ter preconceitos é aprisionar-se dentro de um mundo fechado que impede a pessoa de libertar-se, de ter uma mente aberta a novas descobertas de vários mundos pertencentes a um mesmo planeta que só é maravilhoso porque é repleto de inúmeras diferenças e variedades de pessoas, seres, cores, coisas que têm cada qual uma forma peculiar de brilhar perante a vida!

    Quem sabe viver a vida, sabe comemorar e conviver com as nossas 'diferenças'! E também aprende a não ter preconceito contra as pessoas ditas 'preconceituosas'!

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