sexta-feira, 1 de julho de 2011

Féretro da competitividade


 PAULO LUDMER
FOLHA DE SÃO PAULO


Hoje, pagamos mais de R$ 15 bilhões anuais de encargos sobre energia elétrica de gênese jurídica duvidosa e que tem uma eficiência opaca
Expressivos empreendedores abrem mão do Brasil diante do impagável preço final da energia: tarifas, encargos e tributos. Foi-se uma fábrica de alumínio primário na Bahia, permaneceu a catatonia governamental. Outras grandes fábricas estão de partida, sem repercussão.
A eletrólise de metais se transferirá ao Paraguai, usando kWh de Itaipu, em detrimento da atual disponibilidade da usina ao consumo brasileiro. O fato não comove nossos Poderes republicanos. Também migrarão papeleiras, acearias e cimenteiras ao vizinho Uruguai, à África e às Antilhas. Mas o Congresso, impávido, ainda prorroga e inventa encargos e impostos.
As adversidades cambiais, o custo do crédito (juros), o preço da mão de obra celetista e também a energia, desde os anos 80, vêm infernizando a competitividade da indústria de base brasileira, que, afinal, jogou a toalha, debilitando a cadeia produtiva nacional.
Ora, o Brasil reúne água, jazidas minerais e fontes de energia diversas e abundantes. Pode unir e agregar valor ao conjunto, inserir-se no mapa global. No entanto, passa de exportador para importador de ferrosos e de não ferrosos; faz alumina e busca fora o alumínio.
Em decadência, o país exporta empregos qualificados. Pagamos mais de R$ 15 bilhões anuais de encargos sobre energia elétrica de gênese jurídica duvidosa, de eficiência opaca, sem prazo para acabar e sem transparência.
Vide, por exemplo, o dreno recente de todos os bolsos por meio de faturas excessivas de energia, num total superior a R$ 8 bilhões, sem origem produtiva, sem ferramentas jurídicas para devolução, magicamente acomodados nos cofres de concessionárias.
O gás natural? Aqui, um grande consumidor o compra por US$ 14 por milhão de unidade térmica britânica (BTU), enquanto em Nova York sai pela metade disso.
Em política energética, a ignorância e a má-fé andam junto com delírios ideológicos de prática do bem e do bom, fogos de artifícios para a nação brasileira.
Há pelo menos oito anos, aqui o mote é distribuir renda por açodada coletoria em cima da energia, tratada como tabaco, perfumaria e bebida alcoólica. Azar da produção em que o insumo é onipresente.
Substituem-se obrigações do Estado por recursos surrupiados do consumidor de energia.
Ignora-se o primado de que ele é a razão de ser da oferta. Esses erros incham os preços transferidos aos bens e serviços.
Em 1986, o consumidor carecia de diálogo e de consideração com os governos e com as estatais. Agora, a cena ficou pior: o industrial renunciou. Ele prefere um final horroroso a um horror sem fim.
Em 2011, os agentes fragmentados rendem-se ou desistem enquanto segue a nação sem agenda.
Sem interlocutores e sem bússola, o preço final da energia só fez subir, em 20 anos. Sem esperança de reversão. Voltaremos à economia preponderantemente rural e aos minérios pouco elaborados? É ingênuo pensar que o atual capitalismo de Estado prevalecerá. As "dachas" russas se denunciam por si só.
PAULO LUDMER jornalista e engenheiro, é professor de pós-graduação na FEI e no Mackenzie.
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