quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Guerra retórica pelas Malvinas

O Globo 


Presidente argentina reúne oposição e promete denunciar na ONU "militarização do Atlântico Sul"

Numa solenidade que reuniu representantes de todos os espectros da sociedade argentina — inclusive os partidos de oposição ao seu governo —, a presidente Cristina Kirchner subiu um pouco mais o tom do conflito diplomático com o Reino Unido em torno da soberania das ilhas Malvinas ao anunciar que denunciará na ONU "a militarização do Atlântico Sul" empreendida por Londres. Cristina assinou também um decreto que põe fim ao sigilo de quase 30 anos do chamado informe Rattenbach, inquérito das Forças Armadas argentinas iniciado logo após o fim da guerra para apurar responsabilidades e apontar crimes cometidos durante a Guerra das Malvinas, em 1982.

— Estão militarizando o Atlântico Sul mais uma vez. Não podemos interpretar de nenhuma outra maneira o envio de um imenso e moderníssimo destróier, acompanhado do herdeiro real, a quem gostaríamos de ver com roupas civis, e não com uniforme militar — afirmou ela no discurso, transmitido em cadeia nacional pela TV pública.

A presidente faz referência ao anúncio britânico de que enviará o moderno navio de guerra HMS Dauntless para patrulhar as águas do arquipélago e a chegada, na semana passada, para um período de treinamento de seis semanas como piloto da Força Aérea Real do príncipe William, segundo na linha de sucessão ao trono britânico.

Os dois atos foram vistos como provocações britânicas nas vésperas do aniversário de 30 anos da guerra entre os dois países pela soberania do arquipélago, numa escalada de tensões diplomáticas que já vem desde 2009, quando o Reino Unido decidiu começar a buscar petróleo nas águas das Malvinas. Em reação, o governo argentino proibiu a passagem pelo país de navios com a bandeira das Malvinas, e conseguiu que países vizinhos — incluindo o Brasil — copiassem a medida.

Voos entre ilhas e Chile estão mantidos l

Ao contrário do que era esperado, porém, Cristina não anunciou uma outra medida que causaria muito transtorno aos habitantes das Malvinas — a proibição dos voos semanais que ligam Punta Arenas, no Chile, ao arquipélago, com escala na cidade argentina de Río Gallegos.

Para mostrar a união da sociedade argentina em torno do tema, além das organizações de direitos humanos e sindicatos que são presença constantes nos atos oficiais, Cristina convidou à Casa Rosada, sede do governo, representantes dos partidos de oposição. Em seu discurso, ela estendeu o convite para o dia 14 de junho, quando está marcada uma sessão do Comitê de Descolonização da ONU para debater o tema.

— O Reino Unido não pode se negar a cumprir o que as Nações Unidas decidiram: sentar-se para dialogar e negociar a soberania das ilhas Malvinas. No ano que vem vão se completar 180 anos da usurpação das ilhas Malvinas.

Elas são parte da nossa plataforma continental. Se não bastam a história e a geografia, até a zoologia pode nos dar razão. Todos os pássaros cujo voo migratório parte das Malvinas passam pela Argentina — afirmou.

O Reino Unido vem evitando polemizar em público, mas em recente carta enviada ao secretário-geral da ONU, afirmou que não existe possibilidade de diálogo sobre a soberania das Malvinas.

Usou para isso dois argumentos: o de que a Argentina não tem qualquer direito histórico sobre as ilhas, já que o domínio britânico seria anterior à chegada dos primeiros argentinos; e o de que discutir o assunto seria violar o direito à autodeterminação do povo das Malvinas, que preferiria continuar sob domínio britânico.

No discurso, antecedido e sucedido por gritos uníssonos de "Malvinas argentinas" do público presente, Cristina acusou Londres de colonialismo anacrônico.

— As Malvinas deixaram de ser uma causa dos argentinos, para se transformar numa causa da América Latina e numa causa global. É um anacronismo no século XXI seguir mantendo colônias.

Há só 16 casos em todo o mundo, e dez desses casos são da Inglaterra.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GEOMAPS


celulares

ClustMaps