sexta-feira, 11 de maio de 2012

Um lugar certo para a pessoa incerta



As pessoas que puderem conhecer mais o seu interior, reconhecer os seus limites e potencialidades, poderão encontrar um ponto de harmonia entre os seus desejos
Marcelo Galvão *

Há anos convivo com a máxima "a pessoa certa no lugar certo" como se isso fosse a grande competência de um selecionador ou de um líder. Nestes mesmos anos ouvi dizer tantas vezes que "perdemos um excelente vendedor e ganhamos um péssimo gerente". Sempre os gerentes e supervisores reconhecendo que "subi por causa de minha competência técnica e nunca me prepararam para ser gerente".

Depois da eliminação dos currículos, o trabalho de triagem exigirá do selecionador um esforço enorme para conseguir não se deixar influenciar pelos delírios e misérias que desfilam em frente à sua mesa. Depois chega a hora dos testes e de uma avalanche de entrevistas. Verifica-se a veracidade das informações curriculares, principalmente o idioma, que é tão necessário. Ainda bem que, atualmente, mais e mais pessoas estão aprendendo a usar a intuição sobre as pessoas. Isso ocorre dos dois lados, cada um tenta agir da forma que imagina que o outro gostaria. Toda essa história passa a fazer parte de um arquivo, no dia seguinte à admissão.

Espera-se que o homem certo tenha sido escolhido. Se isso não for verdade saberemos à luz do olhar sobre o desempenho. Quando a seleção é interna, que já se tem o olhar sobre o desempenho, parece que fica mais fácil escolher a "pessoa certa". Só que daí observa-se que o bom técnico virou o péssimo chefe, ou por não ser preparado continua apegado às funções na qual era competente, ou seja, na maior parte do tempo dedica-se (ou refugia-se) aos talentos e habilidades que tem domínio, e no tempo restante procura ser um supervisor ou gerente razoável "que dá para o gasto".

Obviamente o processo de seleção e escolha de pessoas para ocupar cargos tem evoluído fantasticamente. Não quero me aprofundar nas técnicas, mas sim refletir sobre o significado e mudanças de nossas expectativas sobre as pessoas e os lugares. Estranhamente, nos contratos e avaliações de desempenho define-se algumas habilidades que são esperadas de uma função de maneira genérica. Por exemplo, é comum esperar criatividade dos cargos de gerência, ou no relacionamento interpessoal para todos os cargos. Nessa hora os lugares parecem todos iguais e as pessoas deverão ser sempre certas, independente do lugar. Será que não se espera que alguns gestores cuidem da conservação, ou que alguém seja independente e ousado?

Embora já um pouco fora de uso, tantos testes psicométricos que poderiam ser um instrumento valioso para a pessoa, tornaram-se uma ferramenta para a empresa. Sem nenhuma desconfiança sobre os testes e a técnica psicométrica, é importante pensar sobre o que ficou escondido por trás desse medir as palavras para minimizar a possibilidade de errar uma decisão. Atualmente as empresas ajustam seu sistema sócio-técnico onde as estruturas passaram a refletir um fluxo integrando os seus processos de operações. As estruturas enxutas implantam grupos autogeridos. A infoera faz com que tarefas fiquem obsoletas em menos de uma década. Tudo isso e muito mais tem levado à confirmação na prática dos discursos de que o homem é ele e suas circunstâncias.

O excelente técnico que se tornou um péssimo gerente, se tivesse mais informações e consciência sobre si, poderia estar feliz e ter sido melhor aproveitado pela empresa. Mesmo que as carreiras em "Y" tenham sido implantadas, sua finalidade só será atingida se as mudanças do sistema sócio-técnico forem seguidas da identificação do potencial de harmonia do profissional.

Para ser mais claro, quero refletir sobre uma função. O vendedor, por exemplo, essa função exige que seus ocupantes tenham um profundo compromisso com a verdade. Se pudesse descrever suas habilidades interpessoais, seriam: ouvir com respeito e sem subjetividade; confiar no direito de ser diferente; trabalhar com escolhas, reconhecer e explicar as diferenças; conseguir relativizar os conteúdos de forma descomprometida; buscar conhecer a forma de como os desejos podem levar à ilusão ou à liberdade; ter capacidade mental de apoiar as pessoas em escolhas e decisões; desenvolver argumentos que predisponham a experimentar uma nova idéia, além dos cinco sentidos.

Independente da minha forma um pouco romântica e filosófica, colocada propositadamente para contrapor aos critérios meramente quantitativos que são a base do gerenciamento de vendas, quero cotejar as de buscar a verdade dos clientes, versus o que é esperado de seu desempenho. As empresas falam de satisfazer o cliente, mas não desenvolvem mecanismos para que a verdade conhecida pelos vendedores sejam bem utilizadas. Normalmente quando levantam a verdade, são criticados como pouco comprometidos, ou qualquer outro adjetivo que desconsidere sua contribuição. Ele tem contato com o mercado, vê os concorrentes, observa os pontos de venda, ao mesmo tempo não existe um espaço para que registre isso. O que é pior: sua observação é desconsiderada porque as informações de mercado serão fornecidas por uma pesquisa feita por terceiros.

Talvez já saibamos o que é e quais são os propósitos da avaliação de desempenho, agora vale a pena refazer a pergunta: o que deveriam ser os propósitos da avaliação de desempenho? Toda esta reflexão busca especificamente levantar uma questão necessária para fazer frente às transformações organizacionais. O que o homem deveria esperar das organizações? O que as organizações deveriam esperar dos homens?

Por ter uma abordagem diferente, sei que corro o risco de ser taxado de lunático ou quem sabe... gênio. Mas também sei que o que diferencia o gênio do lunático pode ser o lugar ou o tempo em que se está. Nestes últimos anos tenho dedicado uma parcela considerável do meu tempo à mitologia, através de leituras, reflexões e vivências sobre o papel do mito, as jornadas heróicas, baseadas nos arquétipos dos heróis.

Acredito cada vez mais profundamente que se as pessoas puderem conhecer mais o seu interior, reconhecer os seus limites e potencialidades, elas poderão encontrar um ponto de harmonia entre os seus desejos, potencialidades e possibilidades e finalmente encontrar o lugar certo para empreender sua jornada em direção ao seu talento e seu self.

O objetivo vai além de encontrar o homem certo para o lugar certo. Queremos identificar o lugar que melhor atende às potencialidades e possibilidades do homem. Tenho observado e começo a medir que a maioria das vezes espera-se habilidades incompatíveis com os processos a serem desenvolvidos. A exemplo do vendedor, se a empresa quer um profissional que lide com a verdade, precisa mudar o papel e a relação. Entretanto, se quer alguém que represente a empresa, faça a venda, e não traga a verdade, é bom saber que jamais encontrará a pessoa certa para essa posição.
Marcelo Alves
Isto não é um Slogan, É fato.
CNPBRASIL
(55-11) 3054-6471

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