André de Almeida
Correio Braziliense
Ainda que a sucata ferrosa seja considerada atualmente relevante insumo para fabricação de aço, foi durante muito tempo tratada como produto de segunda categoria. O fato de ser obtido, em grande escala, de bens de consumo de ferro e aço já obsoletos pelo uso, como automóveis, eletrodomésticos, silos e bens de capital antigos, criou-se uma noção errada da importância da matéria-prima na cadeia de produção das usinas siderúrgicas, principalmente no Brasil, onde o produto é vulgarmente conhecido como ferro-velho.
Esse conceito, no entanto, encontra-se defasado e hoje a sucata ferrosa é commodity fundamental para a indústria siderúrgica mundial. Em vista da sua atual importância, a disponibilidade do insumo nos processos de produção, principalmente pelas aciarias elétricas, cada vez mais é debatida pelos segmentos que participam da cadeia produtiva do aço, que reúne mais de 2 milhões de pessoas no Brasil, entre catadores, empresas que comercializam a sucata, processadores, transportadores e siderúrgicas. Atualmente, a participação da sucata na produção de aço bruto no Brasil varia de 26% a 28%, ainda abaixo da média mundial, de aproximados 45%.
A sucata ferrosa ganhou relevância no Brasil após a crise mundial em 2008 e a consequente estagnação do até então vigoroso crescimento das aciarias elétricas. Desde então, as empresas brasileiras do comércio atacadista de ferrosos conquistaram importantes mercados no exterior e se tornaram alternativa de oferta e de preços para as grandes usinas mundiais, tendo hoje como principal destino para a exportação a Turquia, a Índia, a Rússia, o Vietnã e o Paquistão.
No exterior, a sucata é tratada como commodity, sendo disputada por centenas de usinas siderúrgicas em busca de melhores oportunidades de preços e disponibilidade nos países com excesso de oferta, como o Brasil. O insumo possui cotação internacional e comércio intenso. Uma das principais características que definem uma commodity é que o preço seja determinado em função de seu mercado como um todo.
Os principais exportadores mundiais de sucata são Estados Unidos, com 22,1%; Alemanha, 8,9%; Reino Unido, 7%; Holanda, 5,2%; e Japão, 4,9% — juntos, esses países respondem por quase 50% das exportações mundiais. Embora o preço da sucata vendida no exterior seja de 30% a 40% mais alto que o valor comercializado no Brasil, as exportações do insumo brasileiro ainda são pequenas, representando tão somente 0,2% das vendas mundiais.
Apesar de ainda ser tímida a participação do produto brasileiro no exterior, é patente o crescente interesse das empresas nacionais pela exportação, assim como das usinas estrangeiras pelo insumo gerado no Brasil. As exportações brasileiras da sucata de ferro e aço em agosto de 2013 foram de 36 mil toneladas, uma leve retomada depois de um primeiro semestre razoável, segundo dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Porém, é um volume muito pequeno em relação ao consumo interno, que superou as 10 milhões de toneladas em 2012.
O termo ferro-velho, portanto, não se aplica mais ao insumo que, dia após dia, alcança importância no Brasil e no mundo. O segmento de sucata ferrosa no Brasil é hoje um mercado organizado, contando com mais de 5 mil empresas, a maioria de médio e pequeno porte — que utilizam tecnologia de ponta e ambientalmente correta —, cuja função social transcende a simples oferta e comercialização do insumo para a reciclagem de bens de consumo. Algumas dessas empresas já atuam há mais de 40 anos no setor e empregam milhares de pessoas. É nesse contexto que o Instituto Nacional das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Inesfa), cujas associadas representam 47% de toda a sucata preparada no Brasil, entende que já é passada a hora de se tratar a sucata de ferro e aço de forma mais justa no país, elevando-a ao patamar de commodity, como ocorre mundo afora.
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