Editorial Folha
No dia 9 de outubro, a estudante Leonarda Dibrani, de 15 anos, estava no ônibus de uma excursão de sua escola, o colégio André Malraux, na região leste da França.
Recebeu um telefonema pelo celular: estava sendo deportada com sua família para o Kosovo, na antiga Iugoslávia. De origem cigana, Leonarda nasceu na Itália e vivia na França havia cinco anos.
O ônibus parou num estacionamento; Leonarda era esperada por policiais, que a conduziram até a família, no caminho da expulsão.
Deportações de imigrantes ilegais são fato comum na França, mas o caso de Leonarda desperta comoção. A adolescente não estava, afinal, vagando pelas ruas; sua retirada se deu diante dos olhos dos colegas e da professora.
Na tradição política francesa, a escola pública assume, ou deveria assumir, o caráter de "santuário", como declarou o ministro socialista da Educação, Vincent Peillon.
Peillon entra em conflito com um colega de partido. Nascido na Catalunha e naturalizado francês, o ministro do Interior, Manuel Valls, defende a legalidade da medida.
Já se havia notabilizado, aliás, por declarações contrárias à presença de ciganos; apenas uma minoria, disse ele, deseja, de fato, integrar-se à sociedade.
Parece ser este o caso de Leonarda, que, já no Kosovo, deu entrevista angustiada. Não tem onde dormir, não entende a língua do lugar e quer voltar aos seus estudos.
Membros do governo socialista de François Hollande adotaram a causa da adolescente, que mobiliza protestos de milhares de estudantes. Não eram outras as bandeiras dos socialistas quando criticavam a dureza da gestão Sarkozy, de centro-direita, a que sucederam.
Abdallah Boujraf, de 19 anos, na França desde os 14, foi mandado de volta ao Marrocos pelo governo Sarkozy em 2006; seguiu-se o caso de outra estudante, do Mali, sob os protestos do Partido Socialista.
Está aberta a polêmica entre os representantes dessa legenda.
Já tendo se pronunciado contra a descriminação da maconha e tendo combatido a decisão de uma rede de supermercados de vender exclusivamente produtos de acordo com a lei islâmica, Manuel Valls corteja claramente o eleitorado conservador. É, como se sabe, uma tendência dos políticos de esquerda em diversos países.
A imagem de xenofobia, associada aos franceses pelo menos desde os sucessos de Jean-Marie Le Pen, na década de 1980, está novamente em jogo; os protestos em favor de Leonarda Dibrani tentam desmentir, ainda que parcialmente, essa impressão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário