quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Líbia em frangalhos

Editorial Folha

Dois anos após a deposição da ditadura de Muammar Gaddafi (1969-2011), a Líbia ainda se mostra cambaleante no caminho da estabilidade e da democracia. Com um governo central provisório enfraquecido, o país assiste a combates entre milícias armadas e sofre frequentes ataques de redes terroristas islâmicas.

Na semana passada, houve nova prova da extrema precariedade das instituições. Ali Zeidan, chefe do governo interino, foi sequestrado na capital, Trípoli. Estava no hotel de luxo onde reside, considerado um dos poucos locais seguros da Líbia.

Após algumas horas como refém de uma milícia da oposição, Zeidan foi libertado. O episódio, contudo, terminou de maneira ainda mais insólita: quem pôs fim ao sequestro da maior autoridade da Líbia foi um grupo armado alinhado ao Ministério do Interior --e não, como seria natural, as forças de segurança oficiais, inoperantes.

Não surpreende, portanto, a recorrência de ataques terroristas. Desde a queda de Gaddafi --na esteira da Primavera Árabe--, representações diplomáticas dos Estados Unidos, da França e da Rússia já foram alvo de atentados.

A indigência institucional é evidente. Ainda não há uma nova Constituição em vigor. Votações do Parlamento são frequentemente decididas sob ameaça militar, e os dois maiores grupos políticos --um bloco muçulmano, outro secular-- paralisam os trabalhos com sua disputa incessante.

O governo central tem autoridade restrita à capital e arredores. Grupos islâmicos extremistas dominam o interior, onde promovem assassinatos de políticos e juízes.

O quadro econômico também é desalentador. Dona das maiores reservas de petróleo do continente, a Líbia não consegue exportar de forma adequada seu principal produto devido a disputas do governo com grupos regionais, que pedem maior participação nos lucros.

A maior parte dos dutos e portos do país está bloqueada desde julho. É imenso o prejuízo dessa situação, já que petróleo e gás respondem por cerca de 80% da economia líbia e por mais de 90% das receitas do governo.

Sem que haja solução à vista, a Líbia torna-se cada vez mais atraente para redes terroristas e de tráfico de armas.

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