Editorial
Folha
Quando governou a Venezuela de forma interina por mais de cem dias, Nicolás Maduro mostrou-se um presidente fraco. Analistas condescendentes imaginavam que a sombra de seu mentor e padrinho político, Hugo Chávez, o impedisse de arriscar passos próprios.
Não era o caso. Maduro já está há seis meses na Presidência efetiva da Venezuela, e os problemas se acumulam --administrar o país parece um trabalho além de sua capacidade. A inflação anual beira 50%; o PIB crescerá cerca de 1%; o desabastecimento de alimentos aumenta; a insegurança campeia.
Vencedor de uma disputa apertada em 14 de abril, Maduro beneficiou-se eleitoralmente da comoção pela morte de Chávez (1954-2013) e, agora, aferra-se à cartilha populista deixada pelo antecessor.
Repetindo o que Chávez fez quatro vezes no poder, tenta aprovar uma lei habilitante para governar por decreto, durante um ano, na economia e na luta anticorrupção.
Não há sinais, porém, de que Maduro pretenda promover mudanças profundas e necessárias na economia venezuelana. O câmbio, por exemplo, permanecerá controlado, apesar de o dólar ser vendido no mercado paralelo a um preço seis vezes maior do que a taxa oficial.
O aprendiz de caudilho tampouco mexerá no preço da gasolina, a mais barata do mundo --um litro custa R$ 0,03. Mantém-se o populismo, mesmo que signifique não enfrentar o deficit no Orçamento, já de 8,5% do PIB no ano passado.
Enquanto isso, itens básicos, como leite e carne, escasseiam nas prateleiras, já que são pouco produzidos no país e têm a importação dificultada pela falta de dólares.
O descontrole geral anima criminosos organizados, que se sentem à vontade para ampliar remessas de cocaína ao exterior. No mês passado, a polícia da França encontrou 1,3 tonelada da droga num avião comercial que partiu de Caracas --foi a maior apreensão do tipo na história francesa.
Ante fatos negativos, Maduro recorre a outra fórmula chavista: criou o Centro Estratégico de Segurança e Proteção da Pátria. Dirigido por um general e responsável por monitorar "atividade inimiga interna e externa", decide quais dados do governo são secretos ou não. Além disso, qualquer entidade é obrigada a entregar informações solicitadas pelo órgão.
Num país em que a imprensa sofre restrições amiúde, fica ainda mais difícil avaliar o real apoio que o presidente encontra na população. As eleições municipais de dezembro, sem dúvida pouco livres, serão, de todo modo, um termômetro inicial do mandato de Maduro.
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