Ban Ki-moon
Uma das melhores formas de sentir o pulso do mundo é por meio do poder de convocação das Nações Unidas. Ao longo das últimas semanas, durante o furacão de encontros e discursos que caracterizam a sessão de abertura da Assembleia Geral, reuni-me com líderes de países ou grupos que representam 99% da população mundial.
O que bate no coração da família humana? Primeiro, um anseio de acabar com os conflitos, preconceitos, desigualdades, com o aquecimento global e o desemprego. Segundo, um entusiasmo por se viver em uma era de oportunidades: essa é a primeira geração que poderá acabar com a extrema pobreza.
Com base nas negociações que acabaram de acontecer na ONU, e consciente dos enormes desafios, me sinto encorajado pelas perspectivas.
A semana produziu uma resolução do Conselho de Segurança para a Síria --esperança após anos de impasse e inércia. A ONU e a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) estão em urgente missão conjunta para eliminar os programas e os estoques de armas químicas. A importância dessa medida foi reconhecida pelo prêmio Nobel da Paz, concedido à Opaq.
Mas não podemos ficar satisfeitos em destruir armas químicas enquanto a guerra destrói o país. A vitória militar é uma ilusão; a única resposta é uma transição negociada para uma nova Síria. Estamos determinados a levar todos para a mesa de negociação em novembro.
Irã e Estados Unidos utilizaram o espaço da ONU para uma abertura em suas relações que reverterá décadas de tensões. Outras reuniões trouxeram progresso para Mianmar e Iêmen, para a complexa crise no Sahel (região logo abaixo do deserto do Saara), para a implementação do processo de paz na República Democrática do Congo e na região dos Grandes Lagos da África. E o Quarteto de paz para o Oriente Médio (Estados Unidos, Rússia, ONU e União Europeia) se reuniu pela primeira vez em mais de um ano para apoiar a retomada das negociações entre Israel e Palestina.
Mas a abertura da Assembleia Geral não se limitou a discutir a paz. Também avançou no debate para alcançar o desenvolvimento sustentável --nosso desafio mais crítico em longo prazo.
O ano de 2015 será uma oportunidade histórica: é a data limite para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), adotar uma nova agenda pós-2015 e obter um renovado acordo sobre as mudanças climáticas.
Os ODM nos permitiram salvar milhares de vidas. Provaram como o apoio ao desenvolvimento e as parcerias entre diferentes atores podem ajudar a construir um mundo melhor. Mesmo assim, alguns podem não ser alcançados, e muitas pessoas ainda estão excluídas ou enfrentam exploração.
Ao mesmo tempo em que nos esforçamos para terminar esse trabalho e definir novos objetivos para o período pós-2015, há um amplo consenso de que os direitos das mulheres, a governança e a ação em torno das mudanças climáticas devem figurar de forma proeminente. Vamos realizar a cúpula do clima em setembro do ano que vem em Nova York, e muitos líderes já manifestaram sua intenção em participar.
A ONU é a primeira a chegar em desastres e, muitas vezes, o último recurso para resolver problemas. Em alguns momentos, está na liderança, em outros, está entre uma constelação de atores.
Mas trabalha incessantemente, dia e noite, em todo o mundo, para fazer avançar os objetivos da humanidade nas circunstâncias mais difíceis. Diplomacia e ação multilateral continuam sendo as primeiras e melhores opções para abordar tanto a crise atual como complexos desafios do nosso futuro.
O papel central da ONU reflete a lógica global de nosso tempo: com nossos destinos cada vez mais entrelaçados, o futuro deve ser de cooperação ainda mais ampla e profunda.
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