quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Crescimento com menos pobreza e fome em um mundo incerto
Amigos este é um tema reincidente de difícil equacionamento uma vez que países com pouca capacidade de produção tecnológica ou agrícola não conseguem ser competitivos tampouco atraírem investimentos.
Alguns fatores aprendi que contam, idiossincrasia social, crenças religiosas, infra-estrutura, suceptibilidade a desastres ambientais e, sobretudo, baixa capacidade de promover saneamento e educação aos cidadãos.
Tomando-se como exemplo apenas a América do Sul podemos ver a enorme dificuldade de integração territorial e escoamento de produção em função da topografia e da climatologia. Serras, amazônia, pantanal e cordilheiras impedem, substancialmente, o desenvolvimento econômico e a inclusão social das regiões mais ínvias nos países envolvidos.
Quanto ao Caribe, a suceptibilidade a desastres naturais, tais como terremotos, maremotos e furações estraçalham qualquer iniciativa para se promover infra-estrutura e tornar os produtos agrícolas economicamente competitivos no mundo.
Enquanto não forem abordados estes tipos de fatores continuaremos no reino do "dever ser".
Vale a pena saber sobre este tema.
Robert B. Zoellick - Presidente do Banco Mundial
Correio Braziliense - 23/09/2010
.A necessidade de superar a pobreza extrema e a fome tem sido o centro do esforço global para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) desde sua adoção há uma década. Até as crises dos alimentos, do petróleo e financeira nos últimos dois anos, os países em desenvolvimento progrediam para alcançar esses objetivos embora em ritmos diferentes.
Em 1981, 52% das pessoas nos países em desenvolvimento viviam na pobreza. Em 2005, a proporção havia caído para 25%. Os esforços foram bem-sucedidos até o advento das crises – os níveis de pobreza diminuíram acentuadamente no leste da Ásia, América Latina e na Europa Central e do Leste. Mas isso não chegou a todos. A África Subsaariana continua muito atrás: seus índices de fome e desnutrição têm diminuído, mas não o suficiente para atingir o objetivo de erradicar a fome até 2015.
As crises só agravaram a situação. O Banco Mundial estima que 64 milhões de pessoas a mais passaram a viver na extrema pobreza (com menos de US$ 1,25 por dia) em 2010; até 2015, 1,2 milhão de jovens morrerão; 350 mil estudantes adicionais não completarão o ensino primário e cerca de 100 milhões de pessoas a mais seguirão sem acesso a água potável. Além disso, pela primeira vez na história, 1 bilhão de pessoas irão para a cama com fome todas as noites.
Temos de redobrar os esforços para concentrar a ajuda nos pobres e vulneráveis. Investir na cadeia alimentar para aumentar a produtividade e a quantidade dos produtos agrícolas não ajudará apena a aliviar a fome. Também contribuirá para superar a pobreza, pois 75% dos pobres do mundo vivem nas áreas rurais dos países em desenvolvimento.
Os países de baixa renda podem melhorar os programas de proteção social para ajudar os mais vulneráveis. A nutrição deve ser parte integrante desses programas. A melhoria nutricional acarreta outros efeitos positivos ligados à mortalidade infantil e materna, à educação e à saúde.
O Banco Mundial está trabalhando com o Programa Mundial de Alimentos e a Unicef para melhorar a interconexão entre a nutrição e os programas de proteção social, como na merenda escolar e nos programas de alimentos por trabalho. Em parceria com outras organizações, esperamos aproveitar novos conhecimentos sobre suplementos alimentares para melhorar a dieta dos mais pobres.
A recuperação econômica global será desigual e incerta se não houver o necessário aumento de postos de trabalho. Temos de recuperar o terreno perdido e acelerar o passo para a superação da pobreza. O potencial de crescimento não se limita a alguns poucos mercados emergentes. A implementação de políticas mais sólidas melhorou o desempenho econômico e as oportunidades em muitos países de baixa renda, incluindo na África Subsaariana, que registrou taxa de crescimento anual de 6% durante os cinco anos anteriores à crise.
É imperativo que o foco esteja sobre os trabalhadores – emprego pleno e com máxima produtividade. Nesse contexto, os países devem ter sistemas que gerem habilidades por meio do desenvolvimento da primeira infância, com foco na nutrição, na estimulação e nas habilidades cognitivas básicas. Também devem assegurar que, uma vez na escola, os alunos aprendam sob regras transparentes, bons professores e recursos adequados, enfatizando resultados e o desempenho no sistema educacional mais amplo. É essencial estimular as habilidades exigidas pelos empregadores e promover o empreendedorismo e a inovação.
A recuperação depende também da reação do setor privado. As empresas investem e geram empregos apenas se vislumbrarem retorno. Os países deveriam criar um ambiente mais atrativo para investimentos, estabelecendo regras claras, implementando reformas regulatórias e proporcionando financiamento para os investimentos das pequenas e médias empresas, ao mesmo tempo garantindo a governança e o combate à corrupção.
Nesta semana, durante a avaliação na ONU sobre o progresso nos ODMs, a comunidade internacional precisa olhar além dos números para entender o que podemos aprender com eles e com nossos esforços até hoje. Temos de investir no que funciona e ajustar o que não funciona. O espírito humano pode conseguir coisas incríveis. É preciso dar essa oportunidade a todos.
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A ciência e a Presidência
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A ciência e a Presidência
Marco Antônio Raupp - O Estado de S. Paulo - 27/09/2010
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A ciência e a Presidência
Marco Antônio Raupp - O Estado de S. Paulo - 27/09/2010
Diferentemente de seus antecessores, o próximo ou a próxima presidente da República poderá contar com a ciência como protagonista do desenvolvimento brasileiro. Não se trata de proposta inovadora, a ciência sempre foi um dos alicerces do crescimento econômico em qualquer lugar do mundo.
Essa possibilidade não nos ocorreu antes por razões compreensíveis. A ciência é uma atividade recente no Brasil, começou a ser feita de maneira organizada na década de 1930. Impulsos significativos ocorreram apenas a partir dos anos 1950, com a criação de agências de fomento da pesquisa, a institucionalização da pós-graduação e a expansão do sistema universitário.
Essa possibilidade não nos ocorreu antes por razões compreensíveis. A ciência é uma atividade recente no Brasil, começou a ser feita de maneira organizada na década de 1930. Impulsos significativos ocorreram apenas a partir dos anos 1950, com a criação de agências de fomento da pesquisa, a institucionalização da pós-graduação e a expansão do sistema universitário.
Apesar de sua juventude, o ponto fundamental é que o Brasil conta hoje com um amplo e dinâmico sistema de produção científica. Temos em atividade cerca de 230 mil pesquisadores, cujo trabalho - mais de 30 mil artigos por ano, publicados em revistas internacionais - representa 2,12% da produção científica mundial. Esse porcentual coloca o Brasil em 13.º lugar no ranking da ciência, à frente da Rússia e da Holanda, países com maior tradição nessa atividade. Há 20 anos nossa participação era de 0,63%.
Outro parâmetro da evolução: em 2009 o Brasil titulou 11.368 doutores, 134% a mais do que dez anos antes (4.853 em 1999).
É esse o sistema que o Brasil construiu - e que agora deve dar sua contrapartida à sociedade brasileira, principalmente porque o desenvolvimento econômico no mundo atual não pode prescindir da contribuição da ciência. Essa contribuição exige, porém, políticas públicas apropriadas, bem como a definição de um modelo de transferência do conhecimento da base científica para os setores industriais e de serviços.
De antemão, é preciso ficar claro que transferir os saberes da ciência para o setor produtivo empresarial não é função da universidade. O papel fundamental da instituição universitária é a formação de recursos humanos e a realização de pesquisa científica que contribua para a evolução do conhecimento em suas mais diferentes áreas.
Precisamos, portanto, de mecanismos específicos para a intermediação do conhecimento científico com o sistema produtivo. Nesse sentido, temos no Brasil três experiências extremamente bem-sucedidas a serem consideradas.
Outro parâmetro da evolução: em 2009 o Brasil titulou 11.368 doutores, 134% a mais do que dez anos antes (4.853 em 1999).
É esse o sistema que o Brasil construiu - e que agora deve dar sua contrapartida à sociedade brasileira, principalmente porque o desenvolvimento econômico no mundo atual não pode prescindir da contribuição da ciência. Essa contribuição exige, porém, políticas públicas apropriadas, bem como a definição de um modelo de transferência do conhecimento da base científica para os setores industriais e de serviços.
De antemão, é preciso ficar claro que transferir os saberes da ciência para o setor produtivo empresarial não é função da universidade. O papel fundamental da instituição universitária é a formação de recursos humanos e a realização de pesquisa científica que contribua para a evolução do conhecimento em suas mais diferentes áreas.
Precisamos, portanto, de mecanismos específicos para a intermediação do conhecimento científico com o sistema produtivo. Nesse sentido, temos no Brasil três experiências extremamente bem-sucedidas a serem consideradas.
Nossa agropecuária é responsável por quase um quarto do produto interno bruto (PIB) brasileiro e em 2009 respondeu por 42% de nossas exportações. As pesquisas realizadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estão literalmente na raiz dessa riqueza.
Temos a Embraer, a terceira maior fabricante mundial de aviões, que foi gerada no Centro Técnico Aeroespacial e no Instituto Tecnológico de Aeronáutica.
No setor do petróleo, criamos a Petrobrás, que se fez uma vencedora constante de desafios cada vez maiores graças a seu Centro de Pesquisas, o Cenpes.
Esses exemplos mostram que tivemos grande êxito quando fizemos esforços para a integração da nossa base científica e tecnológica com setores econômicos. E um dos fatores determinantes para esse êxito foi a utilização de mecanismos adequados, quais sejam, centros de pesquisa criados com finalidades específicas e desafios predefinidos.
Para cumprir sua missão, esses centros de pesquisa - sem a obrigação de ensinar, como ocorre com as universidades - dispõem das condições ideais necessárias: podem se utilizar do conhecimento já existente, adaptando-o para uma finalidade específica; podem gerar novos conhecimentos e novas tecnologias, para atender a demandas predefinidas; e, isentos de obrigações acadêmicas, têm flexibilidade para se adaptar ao ambiente produtivo empresarial.
A sugestão da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), portanto, é que os centros federais de pesquisa já existentes (a maioria com a denominação de institutos de pesquisa) sejam fortalecidos e tenham seu foco de estudo, seus objetivos e seu financiamento redefinidos em conformidade com os desafios que terão de enfrentar.
Da mesma forma, será fundamental a criação de novos institutos de pesquisa, igualmente dotados das condições para a realização de grandes projetos mobilizadores, capazes de criar novas e vigorosas vertentes na economia nacional. Fármacos e medicamentos, energia e microeletrônica são alguns dos setores em que o Brasil poderia empenhar grandes esforços visando à criação de parques industriais fundamentados na utilização de tecnologias inovadoras geradas aqui mesmo.
O desenvolvimento de tecnologias para a exploração sustentável de nossos recursos naturais, como a Amazônia e o mar, também caberia como desafio para centros de pesquisa dedicados a grandes temas.
Por esse modelo, o agente público e o privado atuam como parceiros. Vale salientar, porém, que esses centros não substituiriam a missão das empresas de realizar suas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Eles atuarão na fase pré-competitiva, gerando conhecimento científico e tecnológico que servirá de base às atividades de P&D das empresas, para que estas possam gerar produtos, serviços e processos inovadores.
Com esse conjunto de atributos e objetivos, esses centros de pesquisa serão um vigoroso instrumento de política pública para a inovação; serão uma forma de participação do governo no esforço de tornar o Brasil um país com alto desenvolvimento tecnológico; e serão também um indutor da inovação tecnológica nas empresas.
Num curto período, o Brasil organizou um sistema que contribui significativamente para a evolução do conhecimento científico. Chegou a hora da contrapartida: a ciência deve agora ser protagonista do desenvolvimento do Brasil.
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Temos a Embraer, a terceira maior fabricante mundial de aviões, que foi gerada no Centro Técnico Aeroespacial e no Instituto Tecnológico de Aeronáutica.
No setor do petróleo, criamos a Petrobrás, que se fez uma vencedora constante de desafios cada vez maiores graças a seu Centro de Pesquisas, o Cenpes.
Esses exemplos mostram que tivemos grande êxito quando fizemos esforços para a integração da nossa base científica e tecnológica com setores econômicos. E um dos fatores determinantes para esse êxito foi a utilização de mecanismos adequados, quais sejam, centros de pesquisa criados com finalidades específicas e desafios predefinidos.
Para cumprir sua missão, esses centros de pesquisa - sem a obrigação de ensinar, como ocorre com as universidades - dispõem das condições ideais necessárias: podem se utilizar do conhecimento já existente, adaptando-o para uma finalidade específica; podem gerar novos conhecimentos e novas tecnologias, para atender a demandas predefinidas; e, isentos de obrigações acadêmicas, têm flexibilidade para se adaptar ao ambiente produtivo empresarial.
A sugestão da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), portanto, é que os centros federais de pesquisa já existentes (a maioria com a denominação de institutos de pesquisa) sejam fortalecidos e tenham seu foco de estudo, seus objetivos e seu financiamento redefinidos em conformidade com os desafios que terão de enfrentar.
Da mesma forma, será fundamental a criação de novos institutos de pesquisa, igualmente dotados das condições para a realização de grandes projetos mobilizadores, capazes de criar novas e vigorosas vertentes na economia nacional. Fármacos e medicamentos, energia e microeletrônica são alguns dos setores em que o Brasil poderia empenhar grandes esforços visando à criação de parques industriais fundamentados na utilização de tecnologias inovadoras geradas aqui mesmo.
O desenvolvimento de tecnologias para a exploração sustentável de nossos recursos naturais, como a Amazônia e o mar, também caberia como desafio para centros de pesquisa dedicados a grandes temas.
Por esse modelo, o agente público e o privado atuam como parceiros. Vale salientar, porém, que esses centros não substituiriam a missão das empresas de realizar suas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Eles atuarão na fase pré-competitiva, gerando conhecimento científico e tecnológico que servirá de base às atividades de P&D das empresas, para que estas possam gerar produtos, serviços e processos inovadores.
Com esse conjunto de atributos e objetivos, esses centros de pesquisa serão um vigoroso instrumento de política pública para a inovação; serão uma forma de participação do governo no esforço de tornar o Brasil um país com alto desenvolvimento tecnológico; e serão também um indutor da inovação tecnológica nas empresas.
Num curto período, o Brasil organizou um sistema que contribui significativamente para a evolução do conhecimento científico. Chegou a hora da contrapartida: a ciência deve agora ser protagonista do desenvolvimento do Brasil.
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Importância estratégica
Amigos, de forma muito discreta este breve artigo salienta uma atividade pouco conhecida entre nós mas que precisa de regulação tanto governamental como da sociedade.
Considerando-se o aumento da quantidade de pessoas no país e nos demais do BRIC, Rússia, Índia e China, fora os demais países onde acordos patrocinados pelo presidente já estabelecem comércio internacional, nossa produção de alimentos dependerá, sobremaneira, de fertilizantes extraídos de jazidas minerais.
O especialista apenas comenta um fato que merece mais destaque: A tecnologia mais eficiente está em poder das grandes mineradoras, a maioria estrangeiras, e o ganho de escala para baretear o custo da extração, produção, industrialização e comercialização advém do domínio dessa tecnologia, ou seja, dependeremos deles para tal atividade. Se nesses segmentos inciais não houver controle e cobrança da sociedade, os custos incidirão, sobremaneira, nos preços finais e explodirá nossa inflação inviabilizando, por consequencia, preços competitivos para exportação.
Outro tema essencial para o elenco daqueles que a sociedade precisará atentar no futuro.
.Importância estratégica
Valor Econômico - 27/09/2010
.Além de motivar novos projetos de expansão da produção de alimentos, de impulsionar fusões e aquisições em diversas cadeias do agronegócio, de valorizar as commodities agrícolas e de torná-las cada vez mais atrativas para os grandes fundos de investimentos internacionais, as projeções de forte aumento da demanda global por alimentos nas próximas décadas passaram também a destacar a importância da ampliação do uso de tecnologia nas lavouras para garantir a contínua elevação da produtividade. Para Davi Roquetti Filho, diretor-executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), que representa a indústria brasileira de fertilizantes, é esse horizonte promissor para a demanda que motiva a consolidação de um novo perfil de players no segmento. Se antes companhias ligadas ao agronegócio tinham destaque na prospecção de novas jazidas minerais para a produção de nutrientes derivados de fósforo e potássio, hoje o serviço começa a ser dominado por grandes mineradoras, dada a necessidade de ganho de escala e o encarecimento dos trabalhos de exploração. "Os fertilizantes têm uma importância estratégica para o equilíbrio e a sustentabilidade do planeta. Sem comida, há guerra. O interesse mundial no segmento está diretamente ligado a esse futuro".
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Mulheres processam Goldman Sachs
Sinais dos tempos. Um bastião sólido da prevalência masculina está sendo questionado judicialmente.
.Mulheres processam Goldman
Correio Braziliense - 16/09/2010
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Banco norte-americano mais lucrativo de Wall Street é acusado por ex-funcionárias de reservar apenas aos homens promoções, salários elevados e poder na instituição.
O Goldman Sachs tornou-se alvo de uma ação judicial movida por mulheres que dizem que o banco mais lucrativo de Wall Street mantém uma “cultura corporativa antiquada” e que sistematicamente priva suas funcionárias de pagamentos e promoções disponíveis apenas aos homens. A ação foi aberta ontem por três ex-contratadas e pleiteia o status de uma ação de classe em nome de todas as diretoras, gerentes, vice-presidentes e funcionárias associadas da instituição americana dos últimos seis anos.
O porta-voz do banco, Ed Canaday, não quis comentar o processo, aberto em uma Corte federal de Manhattan. De acordo com a queixa, o Goldman dá a seus gerentes — em sua maioria, homens — liberdade para que passem contas e responsabilidades aos subordinados e para decidir quem terá apoio administrativo e treinamento. A ação diz que isso leva as mulheres a serem sub-representadas na gerência, com 14% dos postos, na diretoria (17%) e na vice-presidência (29%).
Cultura
As políticas são parte e parcela de uma cultura corporativa antiquada, diz a queixa. “O Goldman Sachs implementou deliberadamente essas políticas e práticas em toda a empresa a fim de pagar mais aos seus funcionários do sexo masculino do que às suas colegas do sexo feminino e para promovê-los com mais frequência”, diz o texto da ação. O banco americano foi alvo de outra ação em abril, dessa vez assinada pela SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, por ter enganado investidores a vender papéis lastreados em hipotecas.
A ação por discriminação foi aberta em nome de Cristina Chen-Oster, ex-vice-presidente de obrigações conversíveis; Lisa Parisi, ex-diretora-gerente de gerenciamento de ativos; e Shanna Orlich, ex-associada da área comercial do Goldman. Os advogados das mulheres não retornaram os telefonemas para que comentassem o caso.
O Goldman Sachs implementou deliberadamente essas políticas e práticas em toda a empresa a fim de pagar mais aos seus funcionários do sexo masculino do que às suas colegas do sexo feminino e para promovê-los com mais frequência”
Trecho da ação que corre na Justiça.
De Pomona a Marte
O artigo abaixo faz uma revisão analítica dos movimentos econômicos no mundo com relação à venerável inserção do país conduzida pelo presidente Lula.
Ele, contudo, ressalta os riscos futuros que esta inserção trás, sobretudo criticando nosso paquidérmico peso da máquina pública, principal sorvedouro dos recursos líquidos que dispomos, o que nos leva a depender fortemente de investimentos externos.
Neste mister convém ler, pois é uma ótima revisão do que ocorre, uma costurada do que os segmentos de economia da mídia vem falando em economês.
Ademais, o que chama a atenção é que é um doutor em geografia humana que está analisando. Falta agora vir um do antropólogo Roberto DaMatta para ver se a sociedade começa a se tocar do risco iminente que temos para o futuro, quando os ventos da economia mudarem.
Estamos confortáveis agora, nadando de costas no tépido lago do berço explêndido, contudo, a tal da "sustentabilidade" tão propalada , para que mantenhamos a estabilidade....essa, pelo visto, estamos longe de alcançar.
De Pomona a Marte
Demétrio Magnoli - O Estado de S.Paulo
A estátua de Pomona, a deusa romana dos pomares, símbolo da abundância, está fincada bem à frente do Hotel Plaza, em Nova York. Um quarto de século atrás, em setembro de 1985, representantes dos EUA, da Alemanha Ocidental, do Japão, da França e da Grã-Bretanha assinaram ali o Acordo do Plaza, que promoveu a desvalorização do dólar em 50% ante o marco e o iene. Hoje, novamente, a economia global necessita de um dólar mais fraco. Inexiste, contudo, uma vontade comum capaz de propiciar a coordenação das políticas monetárias das potências.
O ciclo de expansão encerrado pela quebra do Lehman Brothers evoluiu sob o signo do desequilíbrio. A poupança compulsória de chineses pobres financiava o consumo exuberante da classe média americana, um paradoxo que se reflete no espelho financeiro pelo colossal superávit em conta corrente da China e pelo déficit insustentável em conta corrente dos EUA. A crise em curso pode ser interpretada como uma longa correção desse desequilíbrio, com a redução do nível de consumo americano e a ampliação do consumo chinês. A China, porém, não parece propensa a reproduzir o comportamento de alemães e japoneses no Plaza.
Pequim protege a sua moeda com um zelo historicamente justificado. Yuan, a palavra que nomeia a unidade de conta do renminbi, é uma contração originada da expressão "moeda redonda estrangeira". Introduzida no final do século 19 como mimese dos antigos pesos de prata mexicanos, difundidos a partir das Filipinas espanholas no Sudeste Asiático, o renminbi conviveu com os cartões de racionamento maoistas e só ganhou uma taxa de câmbio unificada em 1994.
Hoje, o governo chinês teme que uma apreciação cambial aqueça o fluxo de investimentos especulativos e provoque um colapso financeiro similar ao da crise asiática de 1997. O precedente da apreciação de 11% do renminbi, a partir de outubro de 2007, que gerou a falência de empresas comerciais e perda de empregos, em nada ajuda os raros defensores de uma nova tentativa. Além disso, a tese predominante no país assegura que uma forte valorização não reduziria o déficit comercial americano, mas apenas transferiria exportações para os tigres asiáticos.
Melífluos, os dirigentes chineses usam "sim" para dizer "não". Em junho, simulando ceder às pressões de Washington, o banco central da China emitiu um comunicado ambíguo que fingia sinalizar o relaxamento dos controles cambiais. O texto carecia de substância - e o renminbi quase não se moveu. "Todos estamos concluindo que eles não acreditam que sejamos sérios", queixou-se o senador Jack Reed ao secretário do Tesouro americano, Tim Geithner. De fato, a autoridade monetária chinesa compra dólares em ritmo alucinante, sabotando as tentativas de Geithner de produzir um choque expressivo na taxa de câmbio bilateral.
Os chineses não estão sós. Há pouco, após uma longa ausência, o banco central japonês voltou ao mercado de câmbio para vender 2 trilhões de ienes, interrompendo a trajetória de valorização da moeda. A Suíça agiu bem antes, na mesma direção, e quadruplicou suas reservas internacionais. A zona do euro é um caso à parte. O Banco Central Europeu (BCE) aferra-se ao dogma do euro forte, mas nem mesmo a máquina exportadora alemã pode conviver com a continuidade da valorização cambial dos três anos anteriores à crise global. Uma depreciação moderada ajudaria a reativar as economias mais fracas do bloco e um aumento controlado da inflação reduziria os déficits que atormentam Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália. Um relatório do FMI indica que o BCE já promove a desvalorização do euro diante do dólar.
Na falta de uma ação coordenada, aos solavancos, as intervenções unilaterais dos bancos centrais produzem um alinhamento cambial em taxas similares às vigentes há duas décadas. O cenário convida à conclusão tranquilizadora de que a economia global escapou do espectro caótico das desvalorizações competitivas. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não caiu nesse conto, como evidenciam suas declarações recentes. De um lado, persiste a anomalia central do renminbi fraco. De outro, os fluxos de capitais de curto prazo pressionam para cima as moedas de algumas grandes economias emergentes - entre as quais, notadamente, o Brasil. No lugar da correção do desequilíbrio estrutural prévio, caminha-se rumo à criação de novos desequilíbrios.
A raiz do impasse é geopolítica. O sistema monetário do pós-guerra perdeu a âncora da paridade dólar/ouro em 1973, mas conservou o norte da liderança americana, que se expressava pelo G-5 e propiciava acordos transparentes de coordenação cambial. No Acordo do Plaza, as cinco potências provaram que o leme da política podia substituir o mecanismo das paridades semifixas adotado em Bretton Woods. De lá para cá, o leme emperrou. O sistema monetário atual é um edifício heteróclito de regimes de câmbio ancorados, flexíveis e administrados, que abrange ainda uma vasta união monetária e alguns currency boards. A erosão da hegemonia americana e a ascensão da China destruíram a unidade política do centro de decisões, que se transferiu do G-5 para o G-20. Pomona, a abundância, cede lugar a Marte, a guerra.
Até agora, o Brasil opera na mesma linha de japoneses, suíços e chineses, evitando uma forte apreciação do real pelo recurso a ousadas investidas no mercado de moedas. A tática defensiva destina-se a impedir a explosão do déficit na conta corrente do balanço de pagamentos. Mas a acumulação incessante de reservas em dólares tem um custo financeiro, que logo será proibitivo. As alternativas são a redução dos juros internos, o que exige cortes de gastos públicos, e a imposição de controles sobre os investimentos estrangeiros de curto prazo, o que implica contrariar as altas finanças.
A estação de calmaria chega ao fim. Fará o próximo governo o oposto exato do que fez Lula?
SOCIÓLOGO, É DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP. E-MAIL: DEMETRIO.MAGNOLI@TERRA.COM.BR
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Quem manda nesta coisa
.Quem manda nesta coisa
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 27 de setembro de 2010
Diário do Comércio, 27 de setembro de 2010
As denúncias que hoje circulam contra o PT, e que tanto enfurecem o sr. Presidente da República, não se comparam, em número e virulência, àquelas que o próprio PT espalhou na mídia e alardeou no Parlamento ao longo de vinte anos, destruindo ou subjugando todas as lideranças políticas que pudessem se opor aos seus intentos. Se hoje um Collor, um Sarney, um Maluf e inumeráveis líderes empresariais beijam a mão do presidente da República (como até o valentão Antônio Carlos Magalhães chegou a beijá-la pouco antes de morrer), é porque o partido dele lhes mostrou quem é o chefe, quem é que manda nesta coisa. E o mostrou a gritos e cusparadas, à força de acusações escabrosas, ameaças terrificantes e escândalos fabricados, tão numerosos e persistentes que os anos 90 ficariam marcados para sempre como a década da bandalheira se depois deles não viessem o Mensalão, os dólares na cuéca, os assassinatos dos prefeitos de Campinas e Santo André, etc. etc., reduzindo toda a corrupção anterior à escala de um roubo de chicletes numa cantina de escola.
Ao queixar-se da mídia, o sr. Presidente se esquece de que foi ela a sua principal aliada não só na destruição maciça de reputações perigosas, mas na construção, simultânea e complementar, da imagem do PT como paladino da justiça, sem o que jamais esse partido poderia ter chegado ao poder em 2002 nas asas da “Campanha pela Ética na Política”, uma apoteose de denuncismo e moralismo hipócrita como raramente se viu no mundo.
Sem a transformação da mídia inteira em instrumento da indústria petista do escândalo, o sr. Presidente não teria chegado a ser o sr. Presidente: teria continuado a ser o derrotado que sempre fôra até o momento em que seu partido, superando a velha repugnância da esquerda pela tradição udenista de combate à corrupção, descobriu o poder criador da difamação e da calúnia.
Longe de tratar o sr. Presidente a chicotadas, como ele se queixa de ter sofrido, a mídia, que o criou, sempre procurou poupá-lo e afagá-lo. Vocês já se esqueceram do petismo desbragado da Globo, a mais poderosa rede de TV do país, onde até uns poucos anos atrás não se podia falar do “presidente operário” sem voz embargada e lágrimas mal contidas de comoção cívica?
Naquela época, o sr. Lula não falava de “mídia golpista” nem se queixava de que “oito famílias” monopolizavam a imprensa deste país. Ele deixava isso para os “radicais”, para os jovens enragés que rosnavam no fundo do porão da esquerda, enquanto ele, apadrinhado e beneficiário número um do monopólio, brilhava no palco com sua nova identidade tranqüilizante de “Lulinha Paz e Amor”, pronto a imitar mais tarde o discurso dos enfezados, quando o fim do seu segundo mandato lhe trouxesse a certeza de não precisar mais da ajuda de seus protetores de ontem.
Em setembro de 2004 escrevi: “No tempo de Collor, a conversa vagamente suspeita entreouvida por um motorista indiscreto desencadeou a mais vasta investigação que já se fez contra um presidente. Hoje em dia, seis testemunhas mortas no caso Celso Daniel não abalam em nada a reputação de governantes ungidos pelo dom da inatacabilidade intrínseca.”
Referindo-me às CPIs de 1993, quando os srs. Dirceu e Mercadante berravam acusações do alto das tribunas como se fossem reencarnações de Marat e Robespierre, prosseguia: “É impossível não perceber, hoje, que tudo isso foi apenas um pretexto para aplanar a estrada para o PT, colocá-lo no poder e nunca mais fazer perguntas, aceitando dos novos patrões, com docilidade incuriosa e muda, condutas muito mais suspeitas e extravagantes que as de todos os seus antecessores.”
Assim foi em todos os escândalos do governo Lula. Por mais que se revelassem os crimes dos aliados e colaboradores mais próximos do sr. Presidente, o cuidado obsessivo da mídia era um só: preservar a pessoa dele, aceitar como cláusula pétrea do jornalismo nacional a hipótese louca de que ele nunca, nunca sabia de nada.
É esse o homem que hoje, diante de acusações mais que justas – e dirigidas nem mesmo a ele, mas à sua candidata –, choraminga, num show abjeto de autopiedade histérica, que levou mais chibatadas que Jesus Cristo e, ao mesmo tempo que clama pelo controle estatal da mídia, diz que o exercício do mero direito de cobrar explicações do seu seu partido é “uma ameaça à liberdade de imprensa”.
Vejam a enxurrada de livros investigativos que espalharam acusações temíveis contra Fernando Collor, contra os militares, contra o Congresso, contra as empreiteiras, e comparem-na ao destino do livro que ousou provar a responsabilidade do sr. Presidente no caso do Mensalão: “O Chefe”, de Ivo Patarra, não encontrou um só editor com coragem para publicá-lo. Circula pela internet, como um sussurro proibido.
Liberto de adversários substantivos e elevado ao posto supremo da nação pelos bons serviços da mídia, esse homem se acostumou de tal modo à subserviência da classe jornalística que já não suporta da parte dela a menor desobediência, o menor deslize. E de nada adianta apelar à “opinião pública”. Ele, e só ele, é a opinião pública.
Mas, afinal, quem criou as condições para isso foi a própria mídia. Invertendo o senso moral normal, que desprezava os medalhões de cabeça oca e louvava os pobres estudiosos, ela convenceu o país inteiro de que a coisa mais linda, mais louvável, mais meritória, é subir na vida permanecendo analfabeto. Se você cria um monstrengo desses, não tem muito direito de reclamar quando ele, inflado dos aplausos imerecidos com que você mesmo o alimentou, manda você calar a boca e proclama que quem manda é ele.
.Mais de 2 mil municípios do país são subdesenvolvidos um país partido
Amigos, novamente uma séria radiografia acerca de nosso atual nível de desenvolvimento econômico e combate à desigualdade.
Há muita informação útil, atualizada e extraída de órgãos ligados ao governo federal o que, nesse período, é algo até meritório. O texto vale ser lido, guardado e usado por todos para referências futuras, outras pesquisas além de uma ampla gama de atividades onde tais informações auxiliarão, sobremaneira, no processo decisório.O que fica, por fim, claro, cristalino, é que sem energia e infra-estrutura plena e atingindo o interior do país não reduziremos nossa desigualdade tampouco teremos condições sustentáveis de atingirmos a posição de quinta economia, nem em 2016 nem em 2080. Não neste ritmo.
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Liana Melo, Rennan Setti e Evandro Éboli
O Globo - 26/09/2010
Apenas 226 cidades brasileiras, ou 4% do total, apresentam um nível de desenvolvimento alto, enquanto 2.503 (45%) são subdesenvolvidas, não contando com água tratada e atendimento médico básico. Nelas vivem 40 milhões de brasileiros. Este é o retrato do país, segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal, que o futuro presidente terá de encarar. "O Brasil continua muito desigual, e os avanços são num ritmo lento", diz Luciana Sá, diretora da Firjan.
Só 4% dos municípios têm alto desenvolvimento, e 45%, ou 2.503, são carentes.
É abissal a distância que separa Araraquara, em São Paulo, de Marajá do Sena, no Maranhão.
Os dois municípios retratam o embaralhamento da desigualdade socioeconômica do país, que junta cidades de diferentes níveis de desenvolvimento.
Aquelas que oferecem estudo de qualidade, saúde idem e elevado nível de formalidade no emprego ainda são absoluta minoria e somam apenas 226 cidades (ou 4%), de um total de 5.564 municípios.
Já as cidades carentes, ou subdesenvolvidas, são em número 11 vezes maior: 2.503 municípios sem água tratada e atendimento médico básico. Neles vivem 40 milhões de brasileiros. Ainda que o país esteja melhorando no seu conjunto, 45% das cidades do país continuam em situação de penúria total ou parcial.
Pouco mais da metade delas (51%) apresenta grau de desenvolvimento moderado. Este é o retrato das cidades brasileiras que o novo presidente da República vai receber das urnas no próximo domingo.
O perfil das cidades do Brasil foi construído sobre o tripé emprego e renda, saúde e educação, que juntos compõem o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). A pesquisa está olhando o país pelo retrovisor, já que retrata a situação dos municípios brasileiros em 2007.
Ainda assim, ela difere pouco da documentada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2009. Os dados do IFDM são oficiais e foram coletados nos ministérios do Trabalho, da Saúde e da Educação. Ao contrário do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), das Nações Unidas (ONU) que usa os dados do censo demográfico publicado a cada dez anos , o IFDM é anual, com recorte municipal e abrangência nacional.
O Brasil continua um país muito desigual, e os avanços estão ocorrendo num ritmo lento. É um país partido avalia Luciana Sá, diretora de Desenvolvimento Econômico da Firjan, comentando que uma das novidades do IFDM de 2007 é também o fato de a Região Centro-Oeste estar ficando mais parecida com o Sul e o Sudeste e de estar se distanciando, do ponto de vista de desenvolvimento, do Norte e Nordeste.
Ritmo de melhora das cidades é lento
As cidades brasileiras avançaram apenas 1,4% em 2007 em comparação ao IFDM de 2006. Com isso, a média nacional ficou em 0,7478, considerada de desenvolvimento moderado. O avanço é bem menor do que os 3,46% registrados na comparação 2006 contra 2005, o primeiro ano do IFDM. A dona de casa Jucilene de Souza Silva sente na pele as agruras deste subdesenvolvimento municipal. Moradora de Marajá do Sena, no Maranhão, ela vive numa casa de taipa, feita de barro amassado e teto forrado com folhas de babaçu, e convive, diariamente, com uma lagoa de esgoto no fundo do seu quintal.
Não bastasse o cheiro que a lagoa exala, a casa vizinha à de Jucilene, que está abandonada, acabou transformada em um chiqueiro: Esse porco fica atentando no quintal alheio. O vizinho é que deixa esse bicho largado aí.
Marajá do Sena é considerado o município de mais baixo desenvolvimento do país. Ou seja, o mais carente e pobre. Sua pontuação foi de 0,3394, considerando que as cidades enquadradas nesta categoria variam entre 0 e 0,4. Araraquara lidera a pesquisa, com 0,9349 pontos. As cidades com desenvolvimento regular com pouco ou nenhum acesso a serviços de educação e saúde, além de baixa formalidade no mercado de trabalho ficaram entre 0,4 e 0,6. Os moderados, entre 0,6 e 0,8, e os de alto desenvolvimento, de 0,8 a 1. Apenas uma cidade brasileira conquistou a nota máxima: Rondinha (RS), que ganhou nota 1, no item emprego e renda.
Na avaliação do economista Flávio Comim, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o IFDM está seguindo a mesma trajetória do IDH, que, nos últimos anos, vem evoluindo de forma consistente, porém a taxas decrescentes.
O país está seguindo uma trajetória de progresso consistente, mas num ritmo cada vez mais lento diagnostica Comim, comparando a desaceleração do desenvolvimento socioeconômico dos municípios ao perfil do comportamento do IDH.
E o IFDM confirmou, mais um vez, que o interior está crescendo num ritmo bem mais acelerado que os grandes centros urbanos. Os dez primeiros municípios da pesquisa são todos paulistas. Macaé, no Norte Fluminense, aparece na 11aposição no ranking nacional. Apenas três capitais figuram entre os cem primeiros colocados.
Curitiba (PR) aparece em primeiro lugar, mas ainda assim está em 47ono ranking nacional. As duas outras capitais são Vitória (ES), que perdeu o posto de liderança alcançado em 2006, ficando em segundo lugar em 2007. Nacionalmente, a capital do Espírito Santo aparece na 51aposição.
A terceira é São Paulo, que manteve o mesmo desempenho do ano anterior.
Nacionalmente, no entanto, a capital paulista aparece em 87º lugar.
Interiorização causa falta de mão de obra
No ranking dos estados, São Paulo e Paraná são os únicos a registrar alto nível de desenvolvimento.
No entanto, 23 das 27 unidades da Federação, incluindo o Distrito Federal, melhoraram ou mantiveram seus índices.
O desenvolvimento das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, acompanhado da geração de postos de trabalho e aumento de renda, está causando dificuldades para as metrópoles do Sudeste comentou Guilherme Mercês, chefe da divisão de Estudos Econômicos da Firjan. Já há uma carência de mão de obra em São Paulo e no Rio, o que significa que a interiorização está freando o fluxo migratório de trabalhadores para esses municípios.
A economista Hildete Pereira, da Universidade Federal Fluminense (UFF), não concorda inteiramente com a análise. Para ela, o acelerado processo de interiorização que o país vem vivendo é uma notícia auspiciosa, já que abranda o agigantamento das metrópoles.
É a primeira vez, desde que o IFDM vem sendo divulgado, que a educação aparece como área de desenvolvimento de maior influência no desempenho do índice geral. Neste quesito, São Paulo ficou na liderança, com 92 cidades das cem primeiras colocadas. A saúde, por sua vez, manteve uma trajetória de ascensão vagarosa. O Paraná foi o estado que apresentou o melhor desempenho nessa área, embora o Rio Grande do Sul tenha dez municípios com a nota máxima (1) e 54 cidades entre as cem primeiras do ranking. Já os indicadores de emprego e renda registraram pequena acomodação. O Rio aparece em primeiro, trocando de posição com São Paulo, que, no IFDM de 2007, ficou em segundo lugar.
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Presença
Mário Quintana
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!
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É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!
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quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Longe das Metas do Milênio
.O Estado de S. Paulo - 22/09/2010
Dez anos depois que dirigentes de centenas de países definiram as Metas de Desenvolvimento do Milênio para reduzir a fome e a pobreza no mundo e melhorar as condições de vida de bilhões de pessoas, e faltando apenas cinco anos para o esgotamento do prazo fixado para atingi-las, líderes mundiais continuam a discutir como alcançá-las. O balanço dos avanços registrados até agora mostra resultados muito desiguais entre as regiões e deixa claro que, sem um esforço adicional dos países desenvolvidos e emergentes e das principais organizações internacionais, muitos milhões de pessoas continuarão a viver em condições de miséria extrema.
Há alguns dias, ao apresentar o relatório Cumprir a promessa - elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a reunião de cúpula sobre as Metas do Milênio realizada antes da abertura, nesta quinta-feira, dia 23, da 65.ª Assembleia-Geral da organização -, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez um apelo aos dirigentes mundiais, pedindo-lhes empenho para que as metas sejam alcançadas. "Não podemos desiludir bilhões de pessoas que esperam que a comunidade internacional cumpra a promessa de um mundo melhor contida na Declaração do Milênio", disse Ban. Não alcançar as metas "seria um fracasso moral e prático inaceitável".
Entre as Metas do Milênio fixadas para 2015 estão a erradicação da pobreza extrema e da fome no mundo, a universalização do ensino básico, a redução da mortalidade infantil e a garantia de um crescimento que assegure a preservação do meio ambiente.
Com base em resultados de alguns países de renda muito baixa, o relatório da ONU conclui que é possível alcançar as metas se houver políticas corretas, investimentos suficientes e apoio internacional. Mas os progressos observados nos últimos anos foram desiguais e, sem novos esforços da comunidade internacional, muitos países mais carentes não alcançarão as Metas do Milênio.
A melhora tem sido "inaceitavelmente lenta", como observou Ban, e por isso as proporções da pobreza no mundo continuam degradantes. De acordo com a ONU, 1,4 bilhão de pessoas sobrevivem com menos de US$ 1,45 por dia, renda mínima definida pelo Banco Mundial para uma pessoa sair da situação de pobreza extrema. Perto de 1 bilhão de pessoas passam fome, quase 9 milhões de crianças morrem, por ano, antes de completar 5 anos de idade, centenas de milhares de mulheres morrem anualmente por complicações na gravidez e no parto e apenas metade da população mundial tem acesso a saneamento básico.
A recente crise mundial reduziu a velocidade do avanço que se observava em muitos países de renda baixa e, em alguns, interrompeu esse processo. Ela lançou de volta à situação de pobreza milhões de pessoas que haviam melhorado de vida nos anos anteriores, e tornou ainda mais difícil para esses países atingir as metas.
Na reunião de cúpula sobre as Metas do Milênio, o diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse que o mundo precisa esforçar-se para que a melhora das condições de vida das populações pobres recupere o ritmo que tinha antes da crise.
O caminho é conhecido. Em discussão técnica realizada pelo Fundo como preparação para a reunião na ONU, o vice-diretor-gerente da organização, John Lipsky, observou que a cooperação internacional é indispensável para a economia mundial retomar um crescimento satisfatório. Os países menos desenvolvidos precisam melhorar sua infraestrutura e, para isso, necessitam de apoio financeiro externo. Países com grandes superávits comerciais devem estimular a demanda interna, enquanto os que têm déficits precisam exportar mais.
Strauss-Kahn recomendou que os governantes e dirigentes de instituições internacionais - como FMI, Banco Mundial e ONU - que ajudaram a definir as metas assumam conjuntamente a responsabilidade de fazer isso. "Tudo depende da restauração do crescimento econômico global equilibrado e sustentável", disse o diretor do FMI. Sem isso, "todos os demais esforços serão frustrados".
Eleições injetam até R$ 15 bi na economia
Amigos, esta reportagem é reveladora e serve para avaliarem o motivo pelo qual temos eleições em todo o país a cada dois anos.
Serve, também, para se ampliar a perspectiva de cenário de nossa sociedade e economia.
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.Eleições injetam até R$ 15 bi na economia
Campanha vai custar o dobro da de 2006
César Felício | De Belo Horizonte - Valor Econômico - 29/09/2010
Serve, também, para se ampliar a perspectiva de cenário de nossa sociedade e economia.
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.Eleições injetam até R$ 15 bi na economia
Campanha vai custar o dobro da de 2006
César Felício | De Belo Horizonte - Valor Econômico - 29/09/2010
O giro financeiro proporcionado pela campanha eleitoral estimula a economia. Tomando como base a previsão de limite de gastos dos candidatos feita à Justiça Eleitoral, as eleições poderão movimentar até R$ 15 bilhões. A estimativa dos candidatos majoritários ultrapassa os R$ 3 bilhões. Não existe uma totalização da previsão de gastos dos candidatos a deputado federal e estadual, mas é certo que o resultado final deve ultrapassar os R$ 6,96 bilhões declarados como limite há quatro anos. Uma parte dos candidatos - 3.380 dos 6.028 concorrentes - declarou em conjunto a intenção de gastar até R$ 11,9 bilhões.
As eleições de 2010 deverão movimentar pelo menos o dobro dos recursos de 2006. A estimativa toma como como base a previsão de limite de gastos dos candidatos - que indica também qual a receita pretendida - o orçamento da Justiça Eleitoral para este ano, as expectativas dos setores diretamente beneficiados pela escolha popular, como a indústria gráfica e o setor de locação de automóveis. É uma soma que parte de um patamar de R$ 3,5 bilhões, mas que pode ultrapassar R$ 15 bilhões, caso os candidatos se aproximem do limite legal que declararam ao registrar suas candidaturas.
Em 2006, os candidatos a presidente e governador declararam a intenção de movimentar R$ 1,226 bilhão. Este limite passou para R$ 1,988 bilhão, um aumento de 62% ante uma inflação acumulada de 20,8% pelo IPCA. A variação da previsão de despesas dos senadores passou de R$ 809 milhões para R$ 1,115 bilhão, em eleições que partem de bases diferentes. Em 2006 a renovação era de um terço do Senado e agora é de dois terços.
Não existe uma totalização da previsão de gastos dos candidatos a deputado federal este ano, mas é certo que o resultado final ultrapassou, com vantagem, os R$ 6,96 bilhões declarados como limite há quatro anos. A maior parte dos candidatos, ou precisamente 3.380 dos 6.028 concorrentes, declarou a intenção de gastar valores entre R$ 1,8 milhão e R$ 6 milhões. Somente esta fatia soma R$ 11,946 bilhões. Estão fora deste conjunto os partidos que declararam a intenção de arrecadar valores que fogem da realidade - como os seis candidatos do PSL de Goiás que colocaram um limite de gastos de R$ 50 milhões cada, ou as pequenas siglas de esquerda, como o PSOL, PCB, PSTU e PCO, que nunca excedem R$ 300 mil nas previsões de gastos de seus candidatos.
Há quatro anos, os candidatos a deputado federal e estadual, somados, declararam um limite de gastos de R$ 17,6 bilhões e apresentaram uma movimentação para a Justiça Eleitoral quase vinte vezes menor, de R$ 830 milhões, segundo dados da ONG "Às Claras", com base em números oficiais. No grupo das coligações que lançaram candidatos com previsão de gastos entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões, o aumento médio do limite em relação a 2006 é de 100%, o mesmo padrão que se observa na eleição dos candidatos majoritários, seja para presidente ou governador.
Este ano, os candidatos apostaram alto de maneira generalizada. O tucano José Serra pediu um limite de gastos de R$ 180 milhões, mais que o dobro do que o PSDB solicitou há quatro anos. A petista Dilma Rousseff apresentou um limite de R$ 157 milhões. O mesmo quadro se repete entre os principais candidatos a governador. Em 2006, o então candidato à reeleição tucano Aécio Neves orçou em R$ 20 milhões a sua campanha em Minas Gerais. O atual candidato do PSDB, o governador Antonio Anastasia, requisitou a licença para gastar R$ 35 milhões. No Maranhão, a governadora Roseana Sarney (PMDB) está com um limite de gastos de R$ 40 milhões, ante apenas R$ 12 milhões há quatro anos. No caso da nova candidatura ao governo do Paraná do senador Osmar Dias (PDT) o limite quase quadruplicou: passou de R$ 11 milhões para R$ 42 milhões.
As estimativas dos gastos dos principais candidatos costumam convergir para o resultado final. Em 2006, o então presidente candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva fez uma previsão de despesas de R$ 89 milhões, pediu posteriormente à Justiça Eleitoral a permissão para gastos adicionais de R$ 10 milhões e apresentou no fim do processo um relatório de despesas de R$ 91 milhões. O então presidenciável tucano Geraldo Alckmin estimou gastar R$ 85 milhões e relacionou despesas de R$ 79 milhões. Mas não são bom parâmetro para candidaturas pouco competitivas. O candidato a presidente pelo PDT em 2006, Cristovam Buarque, projetou uma despesa de R$ 20 milhões e declarou gastos de apenas R$ 1,7 milhão. As duas primeiras parciais divulgadas pelo TSE mostram números ainda baixos: Dilma Rousseff declarou despesas de R$ 38,9 milhões, Serra lançou R$ 25,2 milhões e Marina Silva, que tem um limite de gastos de R$ 90 milhões, apenas R$ 11,7 milhões.
Parte do projetado aumento de gastos indica a elevação de custos, o maior dos quais no segmento imobiliário. De agosto de 2006 a agosto deste ano, de acordo com o Secovi de São Paulo, o valor médio da locação cresceu 50,9%. Entre os beneficiários diretos do mercado eleitoral, os anos pares são vistos como uma espécie de safra, que garante faturamento maior, sobretudo para as pequenas empresas. "A locação de automóveis para fins eleitorais não é um mercado que interesse às grandes empresas do setor, mas todos se beneficiam em cadeia, já que eles absorvem 12% da oferta", avaliou o presidente do Conselho Nacional da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis ( ABLA), Paulo Gaba Junior. O empresário afirmou ser difícil precisar o que as eleições significam no faturamento do setor, já que o mercado de locação de automóveis cresce ano a ano desde 2003 movido por outros fatores, como a tendência de empresas em buscar frotas terceirizadas. No ano passado, o setor faturou R$ 4,4 bilhões e a previsão para este ano é de um crescimento de 15%.
A conta é feita com maior precisão na Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf). Segundo Fábio Mortara, presidente da seção paulista da entidade, é possível estimar que o impacto será de 8% a 12% sobre o faturamento do segmento promocional do mercado gráfico, que representa R$ 2,7 bilhões, ou 12% da área gráfica como um todo. Em 2009, a produção da indústria gráfica no Brasil foi de R$ 23 bilhões. O crescimento projetado para o segmento promocional representaria um aumento de R$ 340 milhões. "No nosso segmento as eleições gerais nem significam tanto como as eleições municipais, já que a demanda por material gráfico é maior entre os vereadores, que muitas vezes não têm mídia eletrônica. Nem todas as gráficas trabalham com o mercado político, mas as que entram nesta área chegam a dizer que o ganho no faturamento equivale a um décimo-terceiro salário", comparou Mortara.
Em 2006, os candidatos a presidente e governador declararam a intenção de movimentar R$ 1,226 bilhão. Este limite passou para R$ 1,988 bilhão, um aumento de 62% ante uma inflação acumulada de 20,8% pelo IPCA. A variação da previsão de despesas dos senadores passou de R$ 809 milhões para R$ 1,115 bilhão, em eleições que partem de bases diferentes. Em 2006 a renovação era de um terço do Senado e agora é de dois terços.
Não existe uma totalização da previsão de gastos dos candidatos a deputado federal este ano, mas é certo que o resultado final ultrapassou, com vantagem, os R$ 6,96 bilhões declarados como limite há quatro anos. A maior parte dos candidatos, ou precisamente 3.380 dos 6.028 concorrentes, declarou a intenção de gastar valores entre R$ 1,8 milhão e R$ 6 milhões. Somente esta fatia soma R$ 11,946 bilhões. Estão fora deste conjunto os partidos que declararam a intenção de arrecadar valores que fogem da realidade - como os seis candidatos do PSL de Goiás que colocaram um limite de gastos de R$ 50 milhões cada, ou as pequenas siglas de esquerda, como o PSOL, PCB, PSTU e PCO, que nunca excedem R$ 300 mil nas previsões de gastos de seus candidatos.
Há quatro anos, os candidatos a deputado federal e estadual, somados, declararam um limite de gastos de R$ 17,6 bilhões e apresentaram uma movimentação para a Justiça Eleitoral quase vinte vezes menor, de R$ 830 milhões, segundo dados da ONG "Às Claras", com base em números oficiais. No grupo das coligações que lançaram candidatos com previsão de gastos entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões, o aumento médio do limite em relação a 2006 é de 100%, o mesmo padrão que se observa na eleição dos candidatos majoritários, seja para presidente ou governador.
Este ano, os candidatos apostaram alto de maneira generalizada. O tucano José Serra pediu um limite de gastos de R$ 180 milhões, mais que o dobro do que o PSDB solicitou há quatro anos. A petista Dilma Rousseff apresentou um limite de R$ 157 milhões. O mesmo quadro se repete entre os principais candidatos a governador. Em 2006, o então candidato à reeleição tucano Aécio Neves orçou em R$ 20 milhões a sua campanha em Minas Gerais. O atual candidato do PSDB, o governador Antonio Anastasia, requisitou a licença para gastar R$ 35 milhões. No Maranhão, a governadora Roseana Sarney (PMDB) está com um limite de gastos de R$ 40 milhões, ante apenas R$ 12 milhões há quatro anos. No caso da nova candidatura ao governo do Paraná do senador Osmar Dias (PDT) o limite quase quadruplicou: passou de R$ 11 milhões para R$ 42 milhões.
As estimativas dos gastos dos principais candidatos costumam convergir para o resultado final. Em 2006, o então presidente candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva fez uma previsão de despesas de R$ 89 milhões, pediu posteriormente à Justiça Eleitoral a permissão para gastos adicionais de R$ 10 milhões e apresentou no fim do processo um relatório de despesas de R$ 91 milhões. O então presidenciável tucano Geraldo Alckmin estimou gastar R$ 85 milhões e relacionou despesas de R$ 79 milhões. Mas não são bom parâmetro para candidaturas pouco competitivas. O candidato a presidente pelo PDT em 2006, Cristovam Buarque, projetou uma despesa de R$ 20 milhões e declarou gastos de apenas R$ 1,7 milhão. As duas primeiras parciais divulgadas pelo TSE mostram números ainda baixos: Dilma Rousseff declarou despesas de R$ 38,9 milhões, Serra lançou R$ 25,2 milhões e Marina Silva, que tem um limite de gastos de R$ 90 milhões, apenas R$ 11,7 milhões.
Parte do projetado aumento de gastos indica a elevação de custos, o maior dos quais no segmento imobiliário. De agosto de 2006 a agosto deste ano, de acordo com o Secovi de São Paulo, o valor médio da locação cresceu 50,9%. Entre os beneficiários diretos do mercado eleitoral, os anos pares são vistos como uma espécie de safra, que garante faturamento maior, sobretudo para as pequenas empresas. "A locação de automóveis para fins eleitorais não é um mercado que interesse às grandes empresas do setor, mas todos se beneficiam em cadeia, já que eles absorvem 12% da oferta", avaliou o presidente do Conselho Nacional da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis ( ABLA), Paulo Gaba Junior. O empresário afirmou ser difícil precisar o que as eleições significam no faturamento do setor, já que o mercado de locação de automóveis cresce ano a ano desde 2003 movido por outros fatores, como a tendência de empresas em buscar frotas terceirizadas. No ano passado, o setor faturou R$ 4,4 bilhões e a previsão para este ano é de um crescimento de 15%.
A conta é feita com maior precisão na Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf). Segundo Fábio Mortara, presidente da seção paulista da entidade, é possível estimar que o impacto será de 8% a 12% sobre o faturamento do segmento promocional do mercado gráfico, que representa R$ 2,7 bilhões, ou 12% da área gráfica como um todo. Em 2009, a produção da indústria gráfica no Brasil foi de R$ 23 bilhões. O crescimento projetado para o segmento promocional representaria um aumento de R$ 340 milhões. "No nosso segmento as eleições gerais nem significam tanto como as eleições municipais, já que a demanda por material gráfico é maior entre os vereadores, que muitas vezes não têm mídia eletrônica. Nem todas as gráficas trabalham com o mercado político, mas as que entram nesta área chegam a dizer que o ganho no faturamento equivale a um décimo-terceiro salário", comparou Mortara.
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Chávez e o efeito Orloff
O que ocorreu no domingo passado é digno de reflexão e de antecipação.
O Estado forte e o controle da mídia promovidos pelo Plano Nacional de Direitos Humanos 3, aquele assinado sem ser lido, conforme o próprio dignatário reconheceu, também antecipam o que hoje ocorre na Venezuela.
Nota-se, todavia, que é um país rico, sentado sobre a segunda principal reserva de petróleo melhor comerciável contudo em recessão nos últimos meses.
Poderemos, sob o efeito Orloff, ser ano que vem, a Venezuela que se mostra hoje.
Convém que a sociedade acompanhe o que hoje ocorre naquela república bolivariana.
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.A derrota de Chávez
O Estado de S. Paulo - 29/09/2010
O autocrata venezuelano Hugo Chávez havia definido a eleição legislativa do último domingo em seu país como um "plebiscito" sobre o seu governo e prólogo do pleito presidencial de 2012, quando disputará o quarto mandato desde 1998. Ele prometeu "massacrar" a oposição e "ganhar por nocaute". Não só não conseguiu nada disso, como sofreu um estrondoso revés político.
É verdade que a legenda chavista, o Partido Socialista Unificado de Venezuela (PSUV), obteve 98 das 165 cadeiras da Assembleia Nacional, ao passo que a oposição, a Mesa de Unidade Democrática (MUD) constituída por 18 partidos, ficou com 65. Mas esse resultado privou Chávez da maioria de 2/3 que lhe permitiria aprovar leis orgânicas e mudanças constitucionais - e, no limite, governar por decreto.
Era o que vinha fazendo com incontestada desenvoltura desde que a oposição cometeu o erro histórico de boicotar a eleição parlamentar de 2005, para não legitimar o que previa ser uma fraude. Sem adversários - e com um comparecimento às urnas de ridículos 25% -, o caudilho teve às suas ordens um Legislativo 100% chavista, reduzido a uma repartição do Palácio Miraflores, a sede do Executivo. Com o tempo, 10 deputados formaram uma dissidência que, evidentemente, não freou a descida da Venezuela para o regime liberticida do "socialismo do século 21".
Quando se deu conta de que não teria a mesma sorte no pleito seguinte, Chávez preparou uma cama de gato para os adversários. Fez aprovar uma nova demarcação dos distritos eleitorais - o sistema venezuelano é o distrital -, para aumentar a representação das áreas chavistas e vice-versa. Para se ter uma ideia, num Estado rarefeito, de maioria governista, passaram a bastar 20 mil votos para eleger um congressista, ante 400 mil num Estado populoso, simpático à oposição. A mudança nas regras do jogo não foi tudo.
O governo reteve o repasse de verbas para as regiões governadas por oposicionistas, transformou legiões de servidores públicos em cabos eleitorais, com abundante infraestrutura, e deu aos candidatos de seu partido praticamente o monopólio da propaganda nas emissoras estatais. Sem falar na multiplicação de sua presença nos comícios do PSUV, religiosamente reproduzida na TV chavista. Chega a ser uma proeza, portanto, o desempenho eleitoral da oposição, refletindo a erosão do prestígio de Chávez.
Com uma taxa de comparecimento de 67% - um indicador do ânimo mudancista do eleitorado em países, como a Venezuela, onde o voto é facultativo -, a frente de oposição obteve, segundo uma contagem extraoficial, 5,4 milhões dos votos válidos, cerca de 190 mil a mais do que a situação. A manipulação das regras eleitorais explica por que os 46% de votos populares pró-Chávez se transfiguraram em 59% das cadeiras na Assembleia e por que os 48% conquistados pela oposição nas urnas não lhe deram mais de 39% das vagas. Estima-se que apenas a remarcação dos distritos adicionou à bancada chavista 30 deputados.
Não há muito mistério no avanço oposicionista. O governo é um rematado desastre. Na contramão da América Latina, a Venezuela está há 15 meses em recessão. A inflação anual é da ordem de 30% e a acumulada nos 11 anos de chavismo chega a 733%, o desemprego é descomunal (cresceu 42% no último ano e meio) e a desigualdade voltou a se agravar. Faltam energia e alimentos. Sobram corrupção e incompetência: 130 mil toneladas de gêneros importados apodreceram nos portos do país. Por fim, a criminalidade atinge níveis aterrorizantes. A violência mata uma pessoa a cada meia hora.
O que não está claro é o que Chávez vai fazer de sua derrota política. Ele tem uma janela de oportunidade de 3 meses - a nova Assembleia só assumirá em janeiro - para se conter ou desembestar de vez, fazendo aprovar nesse período o que queira. Notadamente, a Lei das Comunas, unidades administrativas ditas autônomas, porém diretamente ligadas ao Executivo. Além da reorganização político-territorial do país, poderá surgir uma "assembleia comunal" para retirar poderes do Legislativo. "Chávez é hoje uma fera acuada", compara um observador estrangeiro em Caracas. "Nessas condições, é ainda mais imprevisível."
É verdade que a legenda chavista, o Partido Socialista Unificado de Venezuela (PSUV), obteve 98 das 165 cadeiras da Assembleia Nacional, ao passo que a oposição, a Mesa de Unidade Democrática (MUD) constituída por 18 partidos, ficou com 65. Mas esse resultado privou Chávez da maioria de 2/3 que lhe permitiria aprovar leis orgânicas e mudanças constitucionais - e, no limite, governar por decreto.
Era o que vinha fazendo com incontestada desenvoltura desde que a oposição cometeu o erro histórico de boicotar a eleição parlamentar de 2005, para não legitimar o que previa ser uma fraude. Sem adversários - e com um comparecimento às urnas de ridículos 25% -, o caudilho teve às suas ordens um Legislativo 100% chavista, reduzido a uma repartição do Palácio Miraflores, a sede do Executivo. Com o tempo, 10 deputados formaram uma dissidência que, evidentemente, não freou a descida da Venezuela para o regime liberticida do "socialismo do século 21".
Quando se deu conta de que não teria a mesma sorte no pleito seguinte, Chávez preparou uma cama de gato para os adversários. Fez aprovar uma nova demarcação dos distritos eleitorais - o sistema venezuelano é o distrital -, para aumentar a representação das áreas chavistas e vice-versa. Para se ter uma ideia, num Estado rarefeito, de maioria governista, passaram a bastar 20 mil votos para eleger um congressista, ante 400 mil num Estado populoso, simpático à oposição. A mudança nas regras do jogo não foi tudo.
O governo reteve o repasse de verbas para as regiões governadas por oposicionistas, transformou legiões de servidores públicos em cabos eleitorais, com abundante infraestrutura, e deu aos candidatos de seu partido praticamente o monopólio da propaganda nas emissoras estatais. Sem falar na multiplicação de sua presença nos comícios do PSUV, religiosamente reproduzida na TV chavista. Chega a ser uma proeza, portanto, o desempenho eleitoral da oposição, refletindo a erosão do prestígio de Chávez.
Com uma taxa de comparecimento de 67% - um indicador do ânimo mudancista do eleitorado em países, como a Venezuela, onde o voto é facultativo -, a frente de oposição obteve, segundo uma contagem extraoficial, 5,4 milhões dos votos válidos, cerca de 190 mil a mais do que a situação. A manipulação das regras eleitorais explica por que os 46% de votos populares pró-Chávez se transfiguraram em 59% das cadeiras na Assembleia e por que os 48% conquistados pela oposição nas urnas não lhe deram mais de 39% das vagas. Estima-se que apenas a remarcação dos distritos adicionou à bancada chavista 30 deputados.
Não há muito mistério no avanço oposicionista. O governo é um rematado desastre. Na contramão da América Latina, a Venezuela está há 15 meses em recessão. A inflação anual é da ordem de 30% e a acumulada nos 11 anos de chavismo chega a 733%, o desemprego é descomunal (cresceu 42% no último ano e meio) e a desigualdade voltou a se agravar. Faltam energia e alimentos. Sobram corrupção e incompetência: 130 mil toneladas de gêneros importados apodreceram nos portos do país. Por fim, a criminalidade atinge níveis aterrorizantes. A violência mata uma pessoa a cada meia hora.
O que não está claro é o que Chávez vai fazer de sua derrota política. Ele tem uma janela de oportunidade de 3 meses - a nova Assembleia só assumirá em janeiro - para se conter ou desembestar de vez, fazendo aprovar nesse período o que queira. Notadamente, a Lei das Comunas, unidades administrativas ditas autônomas, porém diretamente ligadas ao Executivo. Além da reorganização político-territorial do país, poderá surgir uma "assembleia comunal" para retirar poderes do Legislativo. "Chávez é hoje uma fera acuada", compara um observador estrangeiro em Caracas. "Nessas condições, é ainda mais imprevisível."
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Notas de um marciano
Roberto DaMatta - O Globo - 29/09/2010
Cheguei ontem à região tropical da Terra. Curiosamente, o planeta é recortado num conjunto do que eles chamam de países: agrupamentos com histórias ridiculamente parecidas, encapsulados por territórios vistos como autônomos, dotados de leis próprias e norteados por um dogma chamado de soberania. Diferentemente de nós que nos sabemos ligados a todos os seres vivos e a todo o universo, pois nele estamos e a ele retornamos depois dos nossos bem vividos 500 anos com vida sexual plena e ativa, eles têm uma aguda consciência do diferente. Embora vizinhos e separados por marcos arbitrários, eles vivem como se fossem estrangeiros. Estão convencidos que são compartimentos coletivos singulares, capazes de praticar e fazer o que quiserem, mas sabem que são parte de um conjunto maior, conforme é claro ao nosso olhar marcianamente distanciado.
O resultado desta concepção individualista é o constante confronto com o bem-estar geral e coletivo; e um conjunto de dualidades que tem sido a tônica de sua visão de mundo. Pois, para eles, tudo se reduz a oposições do tipo real/ideal, nós/eles, humanidade/animalidade, vida/morte, pobres/ricos... quando - na verdade - sabemos que, quanto mais um lado engloba e recalca o outro, mais esse outro lado retorna assombrosamente fortalecido. Engolfados nessas oposições, os terráqueos tudo pressentem, mas nada podem fazer porque não têm como desmontar o seu sistema e a si mesmos de um golpe. É possível que venham a liquidar-se. De fato, os países que chamam de "mais adiantados" e que consideram superiores são os que mais poluem e destroem e, não obstante, são os que mais exportam o seu modelo de exploração do planeta. Mesmo agora, quando uma consciência planetária os atingiu, eles continuam imitando esse modelo que tem como base uma suposta ilimitada riqueza do que enganadoramente chamam de "natureza". Ademais, começam igualmente a descobrir que tudo tem relação com tudo, pois deles é uma coisa única e milagrosa: o seu planeta é vivo. Nele, conforme observamos há milênios com a nossa marciana inveja, tudo tem um ciclo e esses ciclos vitais se entrelaçam em circuitos complexos, de modo que há sempre um jogo milagroso e comovente entre a vida e a morte.
Ao chegar num país em forma de presunto, chamado Brasil, observo que estão em tempos eleitorais. Curioso que nem o presidente desta república tenta agir como árbitro, muito pelo contrário, sua visão é primariamente partidária, apaixonada e totalmente centrada no desejo de vencer a eleição a qualquer preço. O que ele aceita na vida (perder e ganhar) ele não aceita na Presidência. Li sua furiosa entrevista no meu computador telepático e fiquei estarrecido porque ele fala do papel dos jornais no Brasil, mas todo mundo sabe que ele próprio não lê. Pior: diz que tem azia quando lê algum jornal. Dei um giro pelo país e constatei que, mesmo tendo proclamado uma república em 1889, os brasileiros ainda não têm noção do que seja uma sociedade democrática. Pois confundem individualismo com egoísmo, e egoísmo com altruísmo. Assim, fazem suas falcatruas em nome do que chamam de "povo"; e mesmo tendo uma visão partidária exclusiva e um tanto fascistoide, a faceta pessoal de suas vidas - seus laços com parentes e amigos - está sempre pronta a vir à tona nas situações nas quais bens coletivos estejam em jogo. Por isso, os brasileiros adoram "coisas públicas", espaços públicos e, acima de tudo, dinheiro público, que para eles pode ser apropriado como se não fosse de ninguém. Como tiveram escravos até um ano antes de proclamarem a república, tudo o que é público é da elite política. O processo eleitoral mostra isso claramente, pois os candidatos não apresentam programas, mas rezam ladainhas e repetem fórmulas mágicas denominadas "promessas eleitorais". Meros engodos para que o candidato seja eleito. Na realidade, hoje em dia eles não têm representantes, mas mediadores - ou padrinhos. Candidatos cuja distinção (como a dos santos) é o acesso que teriam ao presidente, tomado como um Deus nesta terra cheia de papagaios da espécie galvão.
Quando estava de partida, assisti a um evento notável. Uma reunião de sua Corte Suprema discutindo um projeto de lei que existe em toda e qualquer sociedade civilizada. Trata-se de uma regra que impediria ladrões e corruptos de serem candidatos a cargos públicos e usarem a legislação nacional que lhes permite escapar de tudo em nome de imunidade política definida com má-fé. Fiquei alarmado porque, mesmo diante da obviedade da causa, os magistrados se dividiram. Metade apoiava a lei; uma outra, arguia filigranas legais contra ela. Discutiram por mais de dez horas. Não conseguiram decidir. Repetiram, reiteraram e reafirmaram o que foi chamado de "dilema brasileiro" por um tal de DaMatta, dos mais medíocres estudiosos locais. Aquela indecisão estrutural constitutiva do Brasil que até hoje o faz oscilar entre seguir o caminho da igualdade ou o da aristocracia e da desigualdade. A via habitual que garante aos superiores não cumprir as leis. Devo ainda chamar atenção para...
A essa altura, leitor, eu perdi a comunicação mediúnica com o espírito desse marciano. Sinto muito, mas aqui fico com a depressão e a indignação de um velho brasileiro.
Ao chegar num país em forma de presunto, chamado Brasil, observo que estão em tempos eleitorais. Curioso que nem o presidente desta república tenta agir como árbitro, muito pelo contrário, sua visão é primariamente partidária, apaixonada e totalmente centrada no desejo de vencer a eleição a qualquer preço. O que ele aceita na vida (perder e ganhar) ele não aceita na Presidência. Li sua furiosa entrevista no meu computador telepático e fiquei estarrecido porque ele fala do papel dos jornais no Brasil, mas todo mundo sabe que ele próprio não lê. Pior: diz que tem azia quando lê algum jornal. Dei um giro pelo país e constatei que, mesmo tendo proclamado uma república em 1889, os brasileiros ainda não têm noção do que seja uma sociedade democrática. Pois confundem individualismo com egoísmo, e egoísmo com altruísmo. Assim, fazem suas falcatruas em nome do que chamam de "povo"; e mesmo tendo uma visão partidária exclusiva e um tanto fascistoide, a faceta pessoal de suas vidas - seus laços com parentes e amigos - está sempre pronta a vir à tona nas situações nas quais bens coletivos estejam em jogo. Por isso, os brasileiros adoram "coisas públicas", espaços públicos e, acima de tudo, dinheiro público, que para eles pode ser apropriado como se não fosse de ninguém. Como tiveram escravos até um ano antes de proclamarem a república, tudo o que é público é da elite política. O processo eleitoral mostra isso claramente, pois os candidatos não apresentam programas, mas rezam ladainhas e repetem fórmulas mágicas denominadas "promessas eleitorais". Meros engodos para que o candidato seja eleito. Na realidade, hoje em dia eles não têm representantes, mas mediadores - ou padrinhos. Candidatos cuja distinção (como a dos santos) é o acesso que teriam ao presidente, tomado como um Deus nesta terra cheia de papagaios da espécie galvão.
Quando estava de partida, assisti a um evento notável. Uma reunião de sua Corte Suprema discutindo um projeto de lei que existe em toda e qualquer sociedade civilizada. Trata-se de uma regra que impediria ladrões e corruptos de serem candidatos a cargos públicos e usarem a legislação nacional que lhes permite escapar de tudo em nome de imunidade política definida com má-fé. Fiquei alarmado porque, mesmo diante da obviedade da causa, os magistrados se dividiram. Metade apoiava a lei; uma outra, arguia filigranas legais contra ela. Discutiram por mais de dez horas. Não conseguiram decidir. Repetiram, reiteraram e reafirmaram o que foi chamado de "dilema brasileiro" por um tal de DaMatta, dos mais medíocres estudiosos locais. Aquela indecisão estrutural constitutiva do Brasil que até hoje o faz oscilar entre seguir o caminho da igualdade ou o da aristocracia e da desigualdade. A via habitual que garante aos superiores não cumprir as leis. Devo ainda chamar atenção para...
A essa altura, leitor, eu perdi a comunicação mediúnica com o espírito desse marciano. Sinto muito, mas aqui fico com a depressão e a indignação de um velho brasileiro.
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De Severino a Tiririca
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Dora Kramer - O Estado de S. Paulo - 29/09/2010
Dora Kramer - O Estado de S. Paulo - 29/09/2010
Ditos políticos não são necessariamente sábios nem confiáveis. Na maioria são apenas frases bem sacadas que, por traduzirem bem uma determinada situação, acabam tidas como verdades absolutas sem que haja uma preocupação de cotejá-las com a realidade e principalmente com a evolução dos tempos.
Há exceções. Aquelas que começam a circular com jeito de piada, mas terminam por se revelarem legítimas profecias.
Uma delas adapta o velho lema segundo o qual o Congresso seguinte é sempre pior que o anterior e tornou-se bordão do deputado Luís Eduardo Magalhães - promessa política interrompida por um enfarte fatal em 1998.
"Não há a menor chance de melhorar", repetia Luís Eduardo, mal entrado nos 40 anos (morreu aos 43), com uma sagacidade de Matusalém.
De fato, em 2011 pelo que se vê nas projeções das eleições parlamentares, sobretudo para a Câmara dos Deputados, não há a menor chance de melhorar a atuação do Poder Legislativo, cuja desmoralização gradativa ganhou especial velocidade nos últimos anos.
Mais exatamente na última década, a primeira do século 21.
Não que antes o Congresso fosse composto apenas de flores que se cheirassem. O último bom momento mesmo foi há mais de 20 anos, na Assembleia Nacional Constituinte.
Na CPI do PC e depois no processo de impeachment de Fernando Collor houve muito de oportunismo em jogo. Com aquelas acusações (graves), o então presidente poderia muito bem ter se sustentado no poder caso não fosse um analfabeto político e tivesse metade das habilidades do governo atual para enfrentar acusações (gravíssimas).
Até na Constituinte houve a notória instituição oficial do fisiologismo ("é dando que se recebe") deslavado como instrumento fiador da "governabilidade".
Mas a derrocada mesmo, a perda total do respeito, uma espécie queima de vestes em praça pública começou no Senado em 2000, quando Jader Barbalho e Antônio Carlos Magalhães (pai de Luís Eduardo) pela primeira vez disseram umas verdades um ao outro da tribuna e com transmissão direta pela TV Senado.
Os dois trocaram desaforos nunca vistos naquele ambiente tido por Darcy Ribeiro como o paraíso na Terra.
Foi um choque. Depois disso, nunca mais um senador eleito passou incólume sem escândalos - salvo os eleitos temporariamente, escolhidos exatamente por causa dos escândalos - o mandato inteiro.
A começar por Jader, que, eleito depois da briga com ACM (também presidente), precisou renunciar por causa de denúncias de corrupção.
Na Câmara é difícil estabelecer um marco, tantos são os casos, mas a eleição de Severino Cavalcanti no início de 2005 para a presidência da Casa é o mais impressionante.
Assinala o início do império do baixo clero, da era dos líderes de bancada desconhecidos, da cessão de destaque e postos importantes a deputados mais conhecidos pelas atividades extracurriculares, da transformação do Legislativo num ambiente de quinta em que perderam espaço os que têm vocação política.
Sim, há uma diferença entre aqueles cujo negócio é a política e os que transformam a política num bom negócio. Estes é que passaram a dar as cartas.
Muitos voltarão. A eles vão se juntar os arrivistas, os oportunistas, os famosos e mais a estrela de todos com a expectativa de se eleger com 1 milhão de votos: o rapaz chamado Tiririca, que aluga sua ignorância para espertalhões que se valem da estupidez de milhares que, se achando espertos, são feitos de bobos.
Manobra decorrente de um sistema eleitoral falido, único no mundo e que a nenhum dos partidos, grandes ou pequenos, nunca interessou genuinamente mudar, bem como não parece realmente interessar ao eleitorado renovar os ares que ficarão ainda mais irrespiráveis.
É uma mistura nefasta: de um lado a patifaria e de outro a alienação. A receita perfeita para formação de um Congresso pronto a confirmar o velho lema da piora gradativa do Parlamento e a acrescentar que a sociedade, conivente, anda muito sem moral para reclamar.
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O tom do recado
Assim entenda-se a perspectiva do Estado Forte, tão viceralmente defendida recentemente.
O tom do recado
Míriam Leitão O GLOBO
.A pergunta feita a um empresário, numa conversa com várias pessoas, foi: "É verdade que emissários do PT telefonam para empresas avisando que sabem quem não está fazendo doações para a campanha?" O empresário respondeu: "Para mim, telefonaram e foram pessoalmente dizer que notaram que eu não tinha feito doação na última eleição nem tinha feito ainda nesta."
Eu ouvi essa conversa estarrecedora. Esse tipo de encaminhamento do pedido de doação, se estiver generalizado, é uma forma de ameaça. A frase: "Notamos que você não fez doação na última eleição e ainda não fez nesta" pode ser entendida pelo que está embutido: estamos de olho em você.
O Estado, hoje, é quem concede a maioria do crédito; o BNDES aumentou de forma extravagante suas concessões de empréstimo subsidiado e a arbitrariedade de suas escolhas dos "campeões", que o faz negar créditos a alguns e conceder em excesso a outros que, na visão do banco, estão mais aptos a vencer a competição global. A mistura é explosiva: de um lado, um Estado com poder de vida e morte sobre as empresas; de outro, emissários do partido do governo com uma ameaça embutida na formulação do pedido.
Hoje, um dos grandes riscos que a sociedade brasileira corre é exatamente esse poder excessivo do Estado, controlado como donataria pelo partido do governo. O Estado é o grande comprador, o grande financiador, o grande sócio em qualquer empreendimento. Como ficar contra ele? Por outro lado: ficando a favor dele, que grandes vantagens se pode ter! Os empresários só falam mal do governo se seus nomes não aparecerem; todos eles estão sendo beneficiados por alguma grande obra, algum grande contrato, alguma licença; ou sonham ser beneficiados no futuro. Um dos maiores empresários do país foi chamado para uma conversa cheia de ameaças indiretas por ele ter feito declarações contra uma das polêmicas obras que promete ser sorvedouro de dinheiro público.
O governo cooptou movimentos sociais, sindicalistas, parte do movimento cultural, através da distribuição de benesses, patrocínios, contratos e financiamentos. Mas a cooptação dos empresários é mais direta. Algumas empresas não têm capacidade alguma de bancar os empréstimos que recebem, ou outras são viabilizadas por aderirem aos grandes projetos em que todo o risco é público.
Nas sombras de um Estado gigante, tudo viceja, como os intermediários de negócios, mesmo que eles não tenham delegação para entregar o que prometem. Com um Estado todo poderoso, qualquer espertalhão pode dizer que é a ligação direta com quem decide e pedir uma comissão para isso. Mesmo que não houvesse casos de corrupção, comprovadamente ligados ao governo, ainda assim, seria o ambiente certo para a propagação dos casos nebulosos de pedidos de propina.
A redução do tamanho do Estado faz esse favor ao país: diminui os guichês nos quais se oferecem favores com dinheiro público e se pedem em troca comissões para enriquecimento pessoal ou para o partido que está no poder. A privatização tirou do Estado um sem número de cargos de distribuição política em empresas siderúrgicas, concessionárias de serviços de energia e de telefonia. As empresas que o país decidiu manter estatais deveriam ser isoladas das pressões políticas e concederem mais acesso às suas contas e aos critérios de decisão. Essa seria uma forma de reduzir o risco que o contribuinte e o consumidor dos serviços correm hoje com problemas como os dos Correios. Já houve tantos casos nebulosos nos Correios no governo Lula - dos indicados do ex-aliado Roberto Jefferson até os indicados da ex-primeira-amiga Erenice Guerra - que não resta dúvida a esta altura: a melhor forma de produzir um colapso postal no país é continuar entregando os cargos de direção da estatal na mão dos políticos e seus afilhados e evitar a administração profissional da empresa. É um espanto que se consiga em tão pouco tempo provocar tanto extravio numa empresa centenária e que sempre teve reputação de eficiência.
Há quem considere que a melhor forma de evitar constrangimentos como o vivido pelo empresário que cito no começo dessa coluna é o financiamento público exclusivo de campanha. Como ser ingênuo a ponto de achar que, se o Estado der ainda mais dinheiro para os partidos, os que estão hoje viciados em caixa dois fecharão o balcão de pedidos impróprios aos empresários? O que ajuda a resolver o problema é, como tenho escrito aqui, a trindade: punição, fiscalização, transparência.
Nada é panaceia contra a corrupção, mas há formas de reduzi-la e outras de aumentá-la. O gigantismo do Estado é o caminho mais curto para aumentar a corrupção. Quando ele se torna o parceiro inevitável em qualquer negócio, tudo pode acontecer. Quando seu poder é usado para amedrontar as empresas, qualquer doação para campanhas políticas pode ser extorquida. E o que houve nos últimos anos no Brasil foi o crescimento descomunal do Estado, primeiro, à sombra do Plano de Aceleração do Crescimento e, depois, sob o pretexto de que era preciso evitar a crise econômica mundial. Conter esse gigantismo é fundamental hoje, não apenas por razões econômicas, mas para melhorar a qualidade da democracia brasileira.
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Eu ouvi essa conversa estarrecedora. Esse tipo de encaminhamento do pedido de doação, se estiver generalizado, é uma forma de ameaça. A frase: "Notamos que você não fez doação na última eleição e ainda não fez nesta" pode ser entendida pelo que está embutido: estamos de olho em você.
O Estado, hoje, é quem concede a maioria do crédito; o BNDES aumentou de forma extravagante suas concessões de empréstimo subsidiado e a arbitrariedade de suas escolhas dos "campeões", que o faz negar créditos a alguns e conceder em excesso a outros que, na visão do banco, estão mais aptos a vencer a competição global. A mistura é explosiva: de um lado, um Estado com poder de vida e morte sobre as empresas; de outro, emissários do partido do governo com uma ameaça embutida na formulação do pedido.
Hoje, um dos grandes riscos que a sociedade brasileira corre é exatamente esse poder excessivo do Estado, controlado como donataria pelo partido do governo. O Estado é o grande comprador, o grande financiador, o grande sócio em qualquer empreendimento. Como ficar contra ele? Por outro lado: ficando a favor dele, que grandes vantagens se pode ter! Os empresários só falam mal do governo se seus nomes não aparecerem; todos eles estão sendo beneficiados por alguma grande obra, algum grande contrato, alguma licença; ou sonham ser beneficiados no futuro. Um dos maiores empresários do país foi chamado para uma conversa cheia de ameaças indiretas por ele ter feito declarações contra uma das polêmicas obras que promete ser sorvedouro de dinheiro público.
O governo cooptou movimentos sociais, sindicalistas, parte do movimento cultural, através da distribuição de benesses, patrocínios, contratos e financiamentos. Mas a cooptação dos empresários é mais direta. Algumas empresas não têm capacidade alguma de bancar os empréstimos que recebem, ou outras são viabilizadas por aderirem aos grandes projetos em que todo o risco é público.
Nas sombras de um Estado gigante, tudo viceja, como os intermediários de negócios, mesmo que eles não tenham delegação para entregar o que prometem. Com um Estado todo poderoso, qualquer espertalhão pode dizer que é a ligação direta com quem decide e pedir uma comissão para isso. Mesmo que não houvesse casos de corrupção, comprovadamente ligados ao governo, ainda assim, seria o ambiente certo para a propagação dos casos nebulosos de pedidos de propina.
A redução do tamanho do Estado faz esse favor ao país: diminui os guichês nos quais se oferecem favores com dinheiro público e se pedem em troca comissões para enriquecimento pessoal ou para o partido que está no poder. A privatização tirou do Estado um sem número de cargos de distribuição política em empresas siderúrgicas, concessionárias de serviços de energia e de telefonia. As empresas que o país decidiu manter estatais deveriam ser isoladas das pressões políticas e concederem mais acesso às suas contas e aos critérios de decisão. Essa seria uma forma de reduzir o risco que o contribuinte e o consumidor dos serviços correm hoje com problemas como os dos Correios. Já houve tantos casos nebulosos nos Correios no governo Lula - dos indicados do ex-aliado Roberto Jefferson até os indicados da ex-primeira-amiga Erenice Guerra - que não resta dúvida a esta altura: a melhor forma de produzir um colapso postal no país é continuar entregando os cargos de direção da estatal na mão dos políticos e seus afilhados e evitar a administração profissional da empresa. É um espanto que se consiga em tão pouco tempo provocar tanto extravio numa empresa centenária e que sempre teve reputação de eficiência.
Há quem considere que a melhor forma de evitar constrangimentos como o vivido pelo empresário que cito no começo dessa coluna é o financiamento público exclusivo de campanha. Como ser ingênuo a ponto de achar que, se o Estado der ainda mais dinheiro para os partidos, os que estão hoje viciados em caixa dois fecharão o balcão de pedidos impróprios aos empresários? O que ajuda a resolver o problema é, como tenho escrito aqui, a trindade: punição, fiscalização, transparência.
Nada é panaceia contra a corrupção, mas há formas de reduzi-la e outras de aumentá-la. O gigantismo do Estado é o caminho mais curto para aumentar a corrupção. Quando ele se torna o parceiro inevitável em qualquer negócio, tudo pode acontecer. Quando seu poder é usado para amedrontar as empresas, qualquer doação para campanhas políticas pode ser extorquida. E o que houve nos últimos anos no Brasil foi o crescimento descomunal do Estado, primeiro, à sombra do Plano de Aceleração do Crescimento e, depois, sob o pretexto de que era preciso evitar a crise econômica mundial. Conter esse gigantismo é fundamental hoje, não apenas por razões econômicas, mas para melhorar a qualidade da democracia brasileira.
Governo quer nova 'base social no campo'
Amigos, trata-se de um tema importante, é sobre a necessidade, bem como urgente capacidade de se promover desenvolvimento econômico no interior do país.
Para se reter o cidadão em sua região de origem, fundamentalmente, precisa-se melhorar a infra-estrutura, notadamente a de distribuição de energia elétrica de qualidade e sustentável, bem como a malha viária terrestres, sobretudo rodoviária.
O especialista faz um corte transversal tangenciando todos os setores e suas naturais dificuldades.
É um tema que dificilmente aparece como proposta de campanha e o PAC 2 é insuficiente para contemplar o segmento a ele destinado.
A governança e o controle da sociedade por intermédio dos parlamentares estaduais e federais é fundamental.
O cidadão desenvolvido e estabilizado em sua região de origem não emigra e não se insere nos bolsões de periferia das grandes cidades.
Esse é o primeiro e fundamental passo para se diminuir a desigualdade social e, junto a ela, a violência urbana.
.Governo quer nova 'base social no campo'
Mauro Zanatta | De Brasília - Valor Econômico - 21/09/2010
As mudanças avaliadas pelo governo no Imposto Territorial Rural (ITR) são parte de uma estratégia de construção de uma nova "base social no campo". A meta do governo é formar uma "classe média rural empreendedora, predominante e moderna".
O secretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, Ariel Pares, informa já ter avançado com outros ministérios para reformar a política agrícola e constituir a nova base a partir de um modelo renovado de garantia de preços, seguro agrícola e crédito rural. "Isso implica subsídios, sobretudo para agricultores familiares. Mas precisamos tratar diferente o que é desigual como se faz hoje", afirma Ariel Pares.
Engenheiro agrônomo e economista, Pares entende que o país precisa deslocar a "discussão isolada" de crédito, seguro e preços mínimos para avançar em instrumentos de garantia de renda que levem em conta problemas de riscos climáticos, liquidez e volatilidade do setor rural. "Política agrícola não pode só regular mercados. Tem que constituir uma base social forte, organizada e cooperante, capaz de gerar renda e que não sinta estímulo para migrar", argumenta ele.
Nos planos do governo, estão a formação de um fundo anticíclico para épocas de bonança e uma política de subsídios em tempos de dificuldades no setor rural. "É preciso assumir riscos, mas dentro de uma determinada margem", afirma o secretário.
Para ele, o desenvolvimento rural e a modernização socioeconômica do campo deve incluir a ampliação de serviços (como estradas, luz e banda larga) nos núcleos urbanos próximos de áreas rurais. "É preciso oferecer novas atividades que não sejam apenas do campo, com indústria, serviços, residências e adensamento dos sistemas urbanos, saindo do litoral e do Centro-Sul", diz.
O governo quer ampliar ao máximo essa base. "Queremos uma agricultura líder e com base social moderna", diz Ariel Pares. O desafio, segundo ele, é operar mudanças na concentração da terra no longo prazo. "A agricultura é para todos, e não para 20 mil ou 30 mil", afirma. "Temos que garantir a agricultura familiar no futuro, de forma pactada e negociada, é claro".
A SAE já tem metas fixadas para transformar a "base" do campo até 2022, quando o Brasil completa seu bicentenário. Primeiro, estabeleceu como objetivo a duplicação da atual produção agropecuária - isso implicaria chegar próximo de 300 milhões de toneladas de grãos, fibras e cereais. Depois, quer dobrar as exportações do setor, mantendo o crescimento média de 6% ao ano. Além disso, a elevação da produtividade em 50% faria o país crescer de forma "horizontal" no campo. Isso resultaria na expansão média de 3,4% ao ano ao longo de 12 anos - a média anual das últimas duas décadas foi de 3,3%.
O governo também quer triplicar o orçamento da rede nacional de pesquisa agropecuária, incluindo Embrapa e empresas estaduais. Hoje, o país aplica 1,2% do Produto Interno Bruto em pesquisa, desenvolvimento e inovação - ou R$ 3 bilhões por ano. A meta é elevar o índice entre 2% ou 2,5% do PIB até 2022. "Isso daria chance de sairmos da base exportadora de commodities para a produção de alto valor agregado", afirma Ariel Pares.
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O Tempo que Foge
.Grato Adelbo Clementino.
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.O Tempo que Foge
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.O Tempo que Foge
Contei os meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui parafrente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos,normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto deassembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger eperpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar daidade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógioavançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos à limpo".
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral (ou síndico).
Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ousobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porquegosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: - Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho tempo para ficar explicando aos medianos se estou ou nãoperdendo a fé porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius deMoraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a "última hora"; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente.
Caminhar perto delas nunca será perda de tempo.
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