O artigo comenta a influência dos meios de comunicação e eletrônicos na educação e formação dos jovens.
Um dos alertas mais importantes dos últimos meses. Não vi outra análise como esta nos demais jornais ou revistas.
Nosso futuro será construído, também, pela parcela de futuros cidadãos que incidem na amostragem abaixo.
Como profissionais, de RH ou de qualquer outro setor este é um estudo obrigatório para se acompanhar.
Juventude virtual
.26/02/2010 20:42:21 Thomaz Wood Jr.
.Não é preciso uma viagem muito longa no tempo. O leitor com 50 anos talvez resgate na memória uma época em que o aparelho de tevê era um móvel exclusivo da sala de estar, as horas de transmissão eram reduzidas e a programação, escassa. Aos mais jovens eram reservados horários e conteúdos específicos, que não chegavam a roubar muito tempo dos estudos e das brincadeiras com amigos. Em pouco mais de quatro décadas, no entanto, a tevê ganhou tempo de programação, variedade de canais e cores, muitas cores.
Vieram o videocassete, o DVD e os canais a cabo. Depois chegaram os videogames e a internet, abrindo um novo mundo de possibilidades. Estudar e brincar agora são atividades que habitam o tempo que sobra, espremidas entre as telinhas e as telonas. Qualquer que seja a dimensão da tela, sempre atulhada de cores, sons e apelos ao consumo.
A Kaiser Family Foundation, uma organização sem fins lucrativos com sede na Califórnia, divulgou recentemente um estudo sobre o tempo que crianças e adolescentes passam diante de meios eletrônicos nos Estados Unidos. Um sumário foi divulgado no Brasil pelo Instituto Alana, uma organização social. O estudo, realizado em parceria com pesquisadores da Universidade de Stanford, analisou mais de 3 mil estudantes com idade entre 8 e 18 anos. O foco da investigação foi o uso recreativo dos meios eletrônicos. O emprego de computadores para estudar ou de celulares para comunicação não foi contabilizado nos índices apurados. Os resultados de 2009 foram comparados com os de pesquisas anteriores, o que permitiu avaliar a evolução recente do tempo de exposição das crianças e dos adolescentes aos meios eletrônicos.
O estudo concluiu que a oferta de entretenimento 24 horas por dia, sete dias por semana, fez com que aumentasse a exposição aos meios eletrônicos. Crianças e adolescentes norte-americanos passam hoje nada menos que 7 horas e 38 minutos diárias, em média, diante de meios eletrônicos. Os resultados representam um sensível aumento em relação à pesquisa de 2004, quando foi registrada a média de 6 horas e 21 minutos.
O estudo detectou outras tendências importantes. Primeiro, o aumento do tempo diante dos meios eletrônicos de 2004 para 2009 foi causado em grande parte pelo crescente acesso a mídias móveis, tais como telefones celulares (39% para 66%), iPods e aparelhos de MP3 (18% para 76%). Segundo, apenas três de cada dez crianças e adolescentes mencionaram regras relacionadas ao tempo diante da tevê, dos -videogames e dos computadores. Significativamente, quando os pais estabelecem regras, o tempo de exposição a meios eletrônicos é reduzido em quase três horas por dia. Terceiro, crianças e adolescentes com maior tempo de exposição a meios eletrônicos têm piores notas. O estudo é cuidadoso e evita afirmar que há uma relação causal entre exposição aos meios eletrônicos e fraco desempenho escolar, mas detectou diferenças entre os "usuários pesados" e os "usuários leves".
O estudo também revelou que o tempo utilizado para ler livros manteve-se constante em relação a 2004. A notícia seria alvissareira não fosse o número tão baixo em relação ao total: 25 minutos por dia. Este escriba não tem notícia sobre estudo similar no Brasil. No entanto, a onipresença da tevê nos lares locais, os índices relacionados ao tempo médio por dia de navegação na internet e a aversão aos livros levam a supor que o quadro local seja tão dramático quanto o norte-americano.
Se a tendência se mantiver, teremos cada vez mais adultos que passaram a maior parte de sua infância e adolescência diante de meios eletrônicos. Como serão esses adultos? Um exército de gênios criativos ou uma horda de zumbis? Uma legião de desinibidos manipuladores dos mais complexos meios eletrônicos ou um bando de escravos iletrados desses mesmos meios? Uma geração de espírito aberto e crítico ou um punhado de conformistas, a consumir estilos de vida e grifes de identidade?
As respostas para essas questões estão sendo construídas minuto a minuto, em cada interação entre as grandes máquinas de fabricação de significados e as jovens mentes em formação. As respostas estão sendo influenciadas pelos programadores de tevê, pelos anunciantes, pelos fabricantes de videogames, por homens e mulheres de negócios, desafiados a conquistar corações e mentes, a otimizar recursos e a maximizar resultados. Pais e filhos são ainda agentes desse processo. São, porém, agentes cada vez mais impotentes e passivos. Os estudos sobre o impacto dos meios eletrônicos sobre jovens não costumam ser otimistas.
Vieram o videocassete, o DVD e os canais a cabo. Depois chegaram os videogames e a internet, abrindo um novo mundo de possibilidades. Estudar e brincar agora são atividades que habitam o tempo que sobra, espremidas entre as telinhas e as telonas. Qualquer que seja a dimensão da tela, sempre atulhada de cores, sons e apelos ao consumo.
A Kaiser Family Foundation, uma organização sem fins lucrativos com sede na Califórnia, divulgou recentemente um estudo sobre o tempo que crianças e adolescentes passam diante de meios eletrônicos nos Estados Unidos. Um sumário foi divulgado no Brasil pelo Instituto Alana, uma organização social. O estudo, realizado em parceria com pesquisadores da Universidade de Stanford, analisou mais de 3 mil estudantes com idade entre 8 e 18 anos. O foco da investigação foi o uso recreativo dos meios eletrônicos. O emprego de computadores para estudar ou de celulares para comunicação não foi contabilizado nos índices apurados. Os resultados de 2009 foram comparados com os de pesquisas anteriores, o que permitiu avaliar a evolução recente do tempo de exposição das crianças e dos adolescentes aos meios eletrônicos.
O estudo concluiu que a oferta de entretenimento 24 horas por dia, sete dias por semana, fez com que aumentasse a exposição aos meios eletrônicos. Crianças e adolescentes norte-americanos passam hoje nada menos que 7 horas e 38 minutos diárias, em média, diante de meios eletrônicos. Os resultados representam um sensível aumento em relação à pesquisa de 2004, quando foi registrada a média de 6 horas e 21 minutos.
O estudo detectou outras tendências importantes. Primeiro, o aumento do tempo diante dos meios eletrônicos de 2004 para 2009 foi causado em grande parte pelo crescente acesso a mídias móveis, tais como telefones celulares (39% para 66%), iPods e aparelhos de MP3 (18% para 76%). Segundo, apenas três de cada dez crianças e adolescentes mencionaram regras relacionadas ao tempo diante da tevê, dos -videogames e dos computadores. Significativamente, quando os pais estabelecem regras, o tempo de exposição a meios eletrônicos é reduzido em quase três horas por dia. Terceiro, crianças e adolescentes com maior tempo de exposição a meios eletrônicos têm piores notas. O estudo é cuidadoso e evita afirmar que há uma relação causal entre exposição aos meios eletrônicos e fraco desempenho escolar, mas detectou diferenças entre os "usuários pesados" e os "usuários leves".
O estudo também revelou que o tempo utilizado para ler livros manteve-se constante em relação a 2004. A notícia seria alvissareira não fosse o número tão baixo em relação ao total: 25 minutos por dia. Este escriba não tem notícia sobre estudo similar no Brasil. No entanto, a onipresença da tevê nos lares locais, os índices relacionados ao tempo médio por dia de navegação na internet e a aversão aos livros levam a supor que o quadro local seja tão dramático quanto o norte-americano.
Se a tendência se mantiver, teremos cada vez mais adultos que passaram a maior parte de sua infância e adolescência diante de meios eletrônicos. Como serão esses adultos? Um exército de gênios criativos ou uma horda de zumbis? Uma legião de desinibidos manipuladores dos mais complexos meios eletrônicos ou um bando de escravos iletrados desses mesmos meios? Uma geração de espírito aberto e crítico ou um punhado de conformistas, a consumir estilos de vida e grifes de identidade?
As respostas para essas questões estão sendo construídas minuto a minuto, em cada interação entre as grandes máquinas de fabricação de significados e as jovens mentes em formação. As respostas estão sendo influenciadas pelos programadores de tevê, pelos anunciantes, pelos fabricantes de videogames, por homens e mulheres de negócios, desafiados a conquistar corações e mentes, a otimizar recursos e a maximizar resultados. Pais e filhos são ainda agentes desse processo. São, porém, agentes cada vez mais impotentes e passivos. Os estudos sobre o impacto dos meios eletrônicos sobre jovens não costumam ser otimistas.
Caro Jeferson: parabéns pelo texto. Como pesquisador da Educação, dos processos de ensino e aprendizado e da psicologia pré-humana, creio que, a despeito das influências das máquinas e dos novos valores desenvolvidos pela cultura cibernética, no futuro teremos os mais variados tipos de pessoas, como temos agora. Quando surgiu a TV e, ainda crianças, tivemos acesso aos filmes de bang-bang, nossos avós e pais se perguntavam quanto daquele tiroteio todo iria nos influenciar à bandidagem. A despeito de ser outro dos muitos fãs de assassinos mocinhos, nunca me senti estimulado a ser um deles, enquanto outros meus companheiros da infância se tornaram policiais e até bandidos. Dessa forma, a despeito das muitas influências recebidas, creio que o que contará ao surgimento dos novos "homens" e mulheres será aquela parte íntima que determina o que essencialmente somos, teoria contestada por certos educadores que, ao contrário do que reza a sabedoria popular ("quem é bom, já nasce feito"), creem ter o poder de formar ou transformar o mal caráter de certas pessoas. Grande abraço.
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