terça-feira, 21 de setembro de 2010

África: o novo Eldorado?

Amigos, considero esta reportagem um tipo de fato portador de futuro.
Há muitas informações relevantes para nosso futuro na reportagem abaixo.
Vale a pena ler.

.África: o novo Eldorado?
Keith Martin - O Estado de S. Paulo - 13/09/2010
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.O continente africano está em voga na mídia mundial e, cada vez mais, na mente dos políticos e empresários brasileiros. Acontecimentos como a Copa na África do Sul, a viagem de despedida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao continente e o anúncio dos novos investimentos de Vale, Camargo Corrêa, Banco do Brasil e Bradesco são fortes exemplos.
A aquisição pela Camargo Corrêa de uma cimenteira em Moçambique e a parceria dos bancos brasileiros com o BES evidenciam que interesses brasileiros vão além dos tradicionais setores de mineração e infraestrutura. Além disso, a presença somada da Petrobrás, Vale e Odebrecht em mais de 15 países africanos mostra que o empresariado brasileiro não mais se limita às oportunidades em países lusófonos.
A atuação brasileira, assim como foi destacado por Lula em sua última viagem, contrasta com a chinesa. Enquanto a China tem negociado contratos de infraestrutura (geralmente executados por trabalhadores chineses) em troca de recursos naturais, os brasileiros buscam retorno mútuo a longo prazo - algo que já está sendo mais bem visto pelos africanos. A Odebrecht, por exemplo, é uma das maiores empregadoras no setor privado em Angola, enquanto a mina de carvão da Vale em Moçambique é o maior investimento no país e pode contribuir 4% ou mais ao PIB.
Mas por que a África agora? De um lado, obstáculos históricos - conflitos armados e má governança - estão diminuindo em alguns países-chaves. Isso permite não somente o desenvolvimento da conhecida abundância de recursos naturais, mas de outros setores também. A região conta com uma alta taxa de crescimento econômico e o mercado consumidor africano (crescente e jovem) de mais de 1bilhão de pessoas começa a chamar atenção, bem como a necessidade contínua de construção de infraestrutura.
O status especial conferido à África pela União Europeia e os Estados Unidos abre mais uma possibilidade para empresários brasileiros, seguindo o exemplo de algumas empresas turcas e indianas no setor têxtil. A maioria dos itens fabricados ou processados em solo africano entra na UE e nos EUA sem barreiras tarifárias. Incentivos adicionais se aplicam aos países do norte da África. O maior risco percebido resulta também em rendimentos mais elevados.
Infelizmente, porém, ainda estamos assistindo a dois extremos entre muitas empresas ao olhar para África. Há aqueles que olham para o continente com medo: "Eu não vou nem viajar para lá, então por que iria investir?" Outros ainda se apegam a uma antiquada noção: "Meu parceiro é um general que está perto do presidente." No curto prazo, isso pode funcionar, mas pode ser um enorme tiro no pé a longo prazo. Como muitos investidores já vivenciaram, o amigo íntimo do presidente de hoje pode ser o arqui-inimigo de amanhã, em um continente onde, apesar de algumas recentes eleições, a mudança de regime muitas vezes ainda é violenta e imprevisível. No mapa de risco político da Aon, por exemplo, quatro dos dez países de maior risco estão na África.
Lamentavelmente, o Brasil ainda carece de uma agência nacional de garantia - como as encontradas na Índia, China, África do Sul e todos os principais países desenvolvidos - para apoiar seus investidores a investirem externamente. Além disso, ao contrário dos investidores de França, EUA ou China, as empresas brasileiras são aconselhadas a terem expectativas modestas sobre a capacidade da diplomacia de "soft power" para resgatá-los de quaisquer problemas que possam ocorrer.
Então, por que eu ainda sou fortemente positivo sobre as possibilidades de negócios brasileiros com a África? O potencial do mercado, o crescimento estável em certos países-chave e as vantagens que as empresas brasileiras possuem são pontos importantes. Mas também é importante que as empresas que investem na África se tornem cada vez mais sofisticadas em mitigação de riscos e proteção dos acionistas.
Na África, especialmente, onde as oportunidades comerciais são abundantes, mas "homens poderosos" continuam dominando tanto a política quanto a economia na maioria dos países, isso significa investir antecipadamente em análise cuidadosa em relações públicas e com governos, no envolvimento de instituições multilaterais, em seguros de riscos políticos e em outras medidas que possam proteger o retorno do projeto e minimizar os riscos - e até mesmo abrir horizontes adicionais para as empresas. Agora é hora de investir na África - com os olhos bem abertos, e com um guarda-chuva ao seu lado. Porque, mesmo em Eldorado, de repente pode chover.
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