Fazer a comida chegar a quem precisa de forma segura, sustentável e perene é um dos maiores desafios ainda não totalmente resolutos no mundo.
A disponibilidade de comida varia em função de fatores climatológicos, culturais econômicos e, recentemente, ambientais. Este último tem, até, servido de estorvo para muitas políticas de produção agrícola no mundo.
Ressaltando-se que China e Índia tiveram nos dez últimos anos, mais de 1,5 bilhão de pessoas, juntas, tendo capacidade de comprar e comer carne. A carne, a cada libra, cobra um belo excedente de impacto ambiental.
De toda sorte, vale a pena acompanhar este tema.
.Menos fome no mundo
Pela primeira vez nos últimos 15 anos, o número de pessoas que passam fome no mundo parou de aumentar. Em 2010, de acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a quantidade de pessoas cronicamente desnutridas caiu para 925 milhões, 9,6% menos do que no ano passado, quando havia 1,023 bilhão de famintos no planeta.
É um dado auspicioso, pois indica que, depois de muitos anos, o quadro da fome no mundo parou de piorar, pelo menos em números absolutos. Mas, quando se levam em conta outros fatores e, sobretudo, as metas fixadas pelos líderes mundiais em meados da década passada para o novo milênio, entre as quais a redução pela metade do número de vítimas da fome no mundo até 2015, o resultado é frustrante. O número de pessoas que ainda passam fome continua sendo "inaceitavelmente alto", como observou o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf.
O total de famintos existentes hoje no mundo é pelo menos 15% maior do que em 1996, quando os líderes mundiais concordaram em reduzir esse número ao longo do tempo, até que, em 2015, não ultrapassasse 10% da população, ou 400 milhões de pessoas - número que, ressalve-se, continuaria alto.
Hoje, o total de famintos corresponde a 16% da população mundial. Isso significa que, para atingir a meta definida em 1996 - a primeira das Metas de Desenvolvimento para o Milênio, como ficaram conhecidos os objetivos fixados naquela época -, a porcentagem de pessoas desnutridas precisa diminuir 6 pontos em cinco anos. Nos últimos 19 anos, no entanto, o que se conseguiu foi a redução de apenas 4 pontos porcentuais.
Na primeira redução do número de pessoas cronicamente desnutridas desde 1995, a queda entre 2009 e 2010 foi de 98 milhões. Será necessário repetir esse resultado ininterruptamente até 2015, e com melhoras, para que, até lá, o número de famintos no mundo seja reduzido em pelo menos 500 milhões de pessoas.
A melhora do quadro econômico em todo o mundo neste ano, em particular nos países em desenvolvimento, é apontada como um dos principais fatores para a redução da fome. O aumento da produção agrícola, forçando a baixa dos preços dos cereais - que haviam alcançado seu ponto mais alto em 2008 -, também contribuiu para a melhora do quadro mundial.
A previsão de que, em 2010, a colheita mundial de cereais será a terceira maior da história dá alguma esperança de que a fome no mundo continuará a diminuir - embora fique cada vez mais claro que será muito difícil atingir as metas do milênio.
Paradoxalmente, nesse cenário favorável surgem elementos perturbadores que podem prejudicar as populações mais pobres do mundo e agravar o problema da fome. Nas últimas semanas, as cotações dos cereais subiram continuamente, em razão do temor - até agora infundado, dadas as previsões para a produção mundial - provocado pela quebra da safra de trigo da Rússia e de países vizinhos, devido à seca.
A FAO observa que, nos últimos anos, os países pobres e suas populações mostraram extrema vulnerabilidade às oscilações no mercado de alimentos e capacidade de reação muito baixa quando a situação começa a melhorar. Segundo a FAO, os efeitos de uma crise sobre a fome no mundo não desaparecem quando a crise se vai. Na crise, as famílias mais vulneráveis vendem seus bens para conseguir sobreviver; passada a crise, não dispõem de renda suficiente para recompor seu patrimônio e, quando tentam recuperar o que perderam, têm de reduzir seu consumo de alimentos.
Em resumo, o crescimento econômico é indispensável, mas não é suficiente para eliminar a fome no mundo num período determinado. É preciso que haja também uma ação correta dos governos, no sentido de apoiar a produção agrícola, manter políticas sociais eficazes, preservar instituições que assegurem os investimentos, melhorar a infraestrutura e, sobretudo, criar mecanismos que façam a comida chegar aos mais necessitados.
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