. W.S. Robinson Em Mae Hong Son (Tailândia)
Todos eles caminhavam rapidamente. Eu sempre me maravilhei em como aqueles velhos nos faziam, jovens estudantes universitários, suar para conseguir acompanhá-los.
Mas faziam: Shailer Philbrick, que explicava os desfiladeiros profundos de Ithaca; Dick Fischer, que caminhava por Sapsucker Woods expondo a respeito das Lycopodiopsidas ou pegando uma pena de pica-pau e a acenando para nós; Bill Turner, que nos conduziu por todo o leste do Estado de Washington, subia e descia por gargantas íngremes e abria buracos profundos nos troncos das árvores com seu canivete para tirar lagartas gigantes de traça.
E eles tinham um toque pessoal. Eu posso me lembrar do momento exato em que decidi me tornar um entomologista. Ed Raffensperger me abordou enquanto eu me inclinava sobre minha coleção de insetos em seu laboratório introdutório de entomologia, colocou sua mão no meu ombro, espiou com seus óculos de aros grossos e sorriu: “Eu acho que você está gostando deste curto”.
Eu estou escrevendo da sauna a vapor que é o norte da Tailândia na estação das chuvas. Todo dia eu pedalo uma bicicleta alugada por cerca de oito quilômetros, da pequena cidade de Mae Hong Son até um pomar de mangas ao longo Rio Pai, de cor de cacau. No ano passado, muitos grupos migratórios de abelhas apareceram aqui e realizaram coisas fascinantes para meu prazer de pesquisa. Até o momento, neste ano chuvoso, apenas poucos enxames se materializaram, então tive o prazer descontraído de observar outras criaturas enquanto aguardava pela chegada das abelhas.
O pomar se enche de vida. Quando o sol sai, surgem nuvens de borboletas. Seus nomes são evocativos: tigre asiático, folha de outono, grande moinho de vento, asa dourada. As aranhas gigantes Nephila, pretas e douradas, ficam penduradas em suas teias. Pássaros nectariniídeos púrpuras iridescentes voam entre flores de teca e eucalipto. Cucos saem voando e serpentes deslizam nos galhos das árvores enquanto me aproximo.
Eu pago um preço por estas caminhadas no paraíso. Em troca de me darem licença para voltar à Tailândia, minha faculdade exige que eu dê um curso de biologia para calouros – online.
Eu estou tendo problemas de atitude. Desde o início eu suspeitava que teria, mas eu aceitei avidamente enquanto negociava outra temporada de pesquisa nos trópicos.
O que há de errado em ensinar pela Internet? Para certos cursos, talvez nada. Mas para o estudo da vida? A Terra está em perigo, em consequência do abuso humano, e precisamos de mais jovens saindo, desfrutando e apreciando tudo o que está à mostra –esta incrível variedade de formas de vida que a genética moderna confirma serem nossos parentes. Nós não precisamos de mais estudantes concentrados em computadores e celulares. Nós especialmente não precisamos de estudantes presos a estas coisas para créditos em cursos de ciências.
Se mais de nós saíssem e apreciassem o que a natureza tem a oferecer, nós poderíamos ver efeitos benéficos para este planeta. Como Baba Dioum colocou, “no final, nós conservaremos apenas o que amamos. Nós amaremos apenas aquilo que entendemos. E entenderemos apenas o que nos foi ensinado”.
Em casa, eu leciono biologia de campo no Parque Nacional de Yellowstone. Certa vez eu brinquei na primeira manhã de aula, “eu presumo que todos vocês reconhecerão um tordo quando virem um, não é?” Um jovem, criado em um rancho, levantou uma sobrancelha e respondeu: “Eu não tenho certeza”. Não é de se estranhar, diante deste tipo de ignorância, que os cidadãos do Oeste dos Estados Unidos estejam dispostos a sacrificar lobos, ursos, bisões, marmotas e tetrazes-cauda-de-faisão em prol da agricultura e da produção de energia.
Aqui na Tailândia, tigres, leopardos e elefantes adornam os rótulos de cerveja e são temas populares de entalhes de madeira e do folclore. Elefantes? Eu apenas vejo aqueles que são usados no turismo. Os turistas pagam para montar nestas criaturas inteligentes, ou observá-los usando um pincel ou realizando outros truques; os mendigos os utilizam como contraste. Poucos existem na natureza selvagem. Apesar de muitos mapas mostrarem territórios teóricos de tigres e leopardos no interior montanhoso tailandês, eu ainda não conheci um tailandês que tenha visto um desses felinos gloriosos, ou acredite que atualmente eu ou qualquer outra pessoa possa vê-los.
Ao anoitecer, minha esposa e eu pedalamos lentamente pelas ruas frescas após um agradável jantar picante de macarrão, arroz e sopa. Os jovens em seus uniformes escolares azuis, com os celulares colados no ouvido, lotam a bem iluminada loja de conveniência. Os cafés de Internet ficam lotados de adolescentes. O brilho azul etéreo das TV está presente na janela da cada casa.
Eu entro pela porta da minha pensão, suspiro e ligo o computador. Eu tenho um curso de biologia para preparar. Eu não colocarei minha mão encorajadora no ombro de algum biólogo aspirante nesta noite.
(W.S. Robinson leciona no Casper College, em Wyoming.)
Tradução: George El Khouri Andolfato
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