terça-feira, 21 de setembro de 2010

Próximos do fim

Cláudio Lembo - De São Paulo.
Há muitas formas de acompanhar os embates eleitorais. O pleito de três de outubro está próximo. Faltam dez dias. Já é possível antever as novas situações originárias dos resultados das urnas.
A campanha se desenrolou medíocre. Os candidatos não foram suficientemente capazes de expor o que irão fazer. Todos querem continuar as políticas públicas em curso.
Sobre a capa de uma visão socialista do mundo, o mais acentuado dos conservadorismos se expõe sem qualquer constrangimento. Todos os partidos - salvo agremiações minúsculas - pugnam por deixar tudo como está.
Ainda assim, pequenos segmentos da classe média urbana mostram-se perplexos. Temem o futuro e clamam pela segurança de seus filhos. Isto porque as classes médias sempre sofrem com o sentimento de perda.
Não haverá perdas. No dia 4 de outubro, os resultados eleitorais serão comemorados e a adesão aos vitoriosos será incondicional. Isto faz parte dos costumes políticos nacionais.
Machado de Assis, com seu ceticismo agudo, retrata no conhecido episódio da placa da confeitaria do Rio de Janeiro esta condicionante da vida política brasileira.
O confeiteiro colocava na fachada de seu estabelecimento um comercial: Confeitaria do Império. Um popular, vindo do campo de Santana, informa: o Império caiu.
De pronto, o confeiteiro, registrando a praticidade geral, determina: Troca a placa. Coloque Confeitaria da República. E tudo continuou com antes entre proprietário e clientes.
Agora, ao que tudo indica, após o pleito, nem sequer as placas precisam ser mudadas. Continuará no Poder o partido de plantão. Mudará a figura do vértice da hierarquia governamental. Nada mais.
A melhor demonstração da normalidade reinante são as reuniões da alta sociedade. Os jornais impressos da última semana, em suas colunas sociais, registram jantares em homenagem a candidatos de "esquerda".
Nada mais indicativo do momento político que se vive. As imagens dizem tudo. Senhoras, vestidas com os melhores modelos parisienses e suportando suas impressionantes joias, saúdam a nova ordem socialista.
Alguns socialistas, por sua vez, circulam entre taças de champanha e sorriem como se estivessem conquistando o Palácio de São Petersburgo em 1917.
As imagens, divulgadas pelos colunistas sociais, apontam para alegria de uma eventual futura vitória, mas também podem registrar os últimos acordes do Baile da Ilha Fiscal.
O fim da festa, nesta oportunidade, está longe. Os atuais acontecimentos políticos terão reflexos tranqüilos nos próximos anos. Tudo continuará cor de rosa. Rosas vermelhas já se encontram superadas. Coisas do passado.
O risco é a médio prazo. Os partidos de oposição deixarão o pleito em frangalhos. Foram dizimados. Nada restou. Não tiveram hombridade para defender programas liberais ou sociais democráticos.
Esconderam seus líderes e personalidades marcantes como se estes estivessem maculados com os piores pecados ou fossem dignos de escárnio. Cuspiram no prato que comeram.
A grande tarefa de alguns, a partir de outubro, será reorganizar um partido de oposição com respeitabilidade e coragem de defender seus posicionamentos.
Ser oposição apenas em campanhas eleitorais e se refugiar nos palácios nos recessos entre pleitos, é ato covarde e indigno. Falseia a verdade e engana a opinião pública.
Uma sociedade democrática com a presença de um partido único é inaceitável. Aponta para a pior das ditaduras. Camuflada. Não assumida. É o que devem evitar as pessoas de razoável bom senso.
Os brasileiros sabem se movimentar com eficiência em momentos complexos. Foi sempre assim. Não será diferente após os resultados eleitorais deste ano.
Errou-se muito nestes últimos oito anos - particularmente os partidos de oposição (se existiram?). Foram acomodados. Sem vibração e propostas. Um bando de ingênuos (ou espertalhões) conduzidos pelo Palácio do Planalto.
As sociedades sempre aprendem a suportar uma maior carga de verdade, dizia Nietzsche. É o que se está testando.

Cláudio Lembo é advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador.
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