terça-feira, 21 de junho de 2011

CHOQUE ELÉTRICO


EDITORIAL
FOLHA DE S. PAULO


A enorme disparidade entre o preço cobrado pela energia elétrica no Brasil e a qualidade do serviço oferecido ao consumidor ilumina as graves deficiências do setor.
Na semana passada, a Eletropaulo demorou muito além do razoável para restabelecer o fornecimento de luz a centenas de milhares de residências e prédios comerciais em São Paulo.
Parte da cidade ficou às escuras por quase dois dias, após rajadas de vento de até 124 km/h. Sem energia, estações de bombeamento da Sabesp deixaram de atuar, e 570 mil pessoas ficaram sem água.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB), com uma contundência incomum na relação entre governantes e concessionárias de serviços públicos, classificou o atendimento prestado como "inaceitável". Disse que a empresa não tem "condições mínimas" de assistir aos mais de 6 milhões de clientes nesses períodos de emergência.
Por mais severas que tenham sido as condições climáticas, elas não explicam, sozinhas, o acúmulo de problemas e ineficiências a que os paulistanos se viram sujeitados. São constantes as quedas de energia na cidade.
Há falhas também no atendimento ao público. A Eletropaulo não dispõe de um sistema eficaz de recebimento de reclamações e tampouco é capaz de informar com exatidão o tempo necessário para os reparos.
A privatização da concessionária, efetuada pelo governo do PSDB no final da década de 1990, não exime posteriores administrações tucanas do Estado, entre elas a do próprio Alckmin. Sua reação, apesar de dura, não diminui a parcela que lhe cabe na responsabilidade pelo péssimo serviço.
A Eletropaulo, premida pelas críticas, fez um pedido público de desculpas e prometeu agilizar a indenização de quem foi prejudicado, talvez 2 milhões de pessoas. Não faz com isso mais que o mínimo obrigatório.
Não bastasse o fornecimento precário no caso paulistano, falhas de planejamento no sistema energético nacional devem elevar uma tarifa que já é tida como uma das mais caras do mundo. O atraso na operação de oito termelétricas obrigará o governo federal a manter o nível dos reservatórios hidrelétricos acima do previsto.
O custo adicional da medida, estimado entre R$ 250 milhões e R$ 300 milhões, será mais uma vez repassado ao consumidor.
Cabe ao poder público, estadual e federal, por meio das agências reguladoras, impor às empresas as "condições mínimas" agora reclamadas por Alckmin. Já passa da hora de dar um choque de qualidade no setor elétrico.
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