terça-feira, 14 de junho de 2011

Agricultura competitiva


O Estado de S.Paulo

A mais recente revisão da produção de grãos na safra 2010/2011 feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) - prevista em 162,5 milhões de toneladas, um volume recorde que corresponde a um aumento de 8,2% em relação à safra anterior - não deixa dúvida de que, pelo lado da oferta, não deverá haver problemas no abastecimento. A evolução esperada pela Conab para os estoques dos principais produtos igualmente indica situação tranquila no mercado interno.

É diante desse quadro que o Ministério da Agricultura está concluindo a elaboração do Plano de Safra 2011/2012, que disporá de recursos de R$ 107 bilhões e deverá ser anunciado no próximo dia 29. Se, como se espera, o plano de safra tiver como foco o fortalecimento financeiro de uma agricultura moderna e, sobretudo, competitiva, poderá dar novo impulso ao desenvolvimento agrícola nacional, que tem sido notável nos últimos anos, e assegurar maiores fatias do mercado mundial para os produtos brasileiros. Se, porém, o plano for excessivamente marcado pelas preocupações conjunturais que angustiam a área econômica do governo, os ganhos poderão ser menos notáveis.

Há o risco, fora do controle do País, de que bruscas oscilações no mercado internacional, com o aumento inesperado da demanda por parte de um grande país consumidor, como a China, afetem o abastecimento interno, elevando os preços de alguns produtos e pressionando a inflação. Mas, no que depende do Brasil, são muitos os sinais de que a oferta de produtos agrícolas deve evoluir sem sobressaltos, dispensando o uso do plano de safras como instrumento adicional de combate à inflação.

O próprio avanço da produção agrícola, por si só, tende a reduzir a pressão dos alimentos sobre os índices de inflação. A produção estimada dos principais itens que, transformados ou não, compõem a dieta dos brasileiros será bem maior do que na safra anterior. A de arroz, por exemplo, crescerá 18,4%; a de feijão, 14,3%; a de soja, 9,2%; a de milho, 1,3%; e a de trigo, 17,0%.

O balanço de oferta e demanda feito pela Conab mostra que, com apenas uma exceção - o trigo -, os estoques dos principais produtos no fim da safra 2010-2011 serão maiores do que no início, reduzindo assim os riscos de desabastecimento ou de pressões sobre os preços internos por escassez. Como a produção interna do trigo deve alcançar 5,881 milhões de toneladas (contra 5,026 milhões na safra anterior), a redução dos estoques no fim da safra se deverá à diminuição das importações (o Brasil importa pouco mais da metade do trigo que consome).

Também na safra 2010-2011 a agricultura brasileira deve registrar importante ganho de produtividade. Para um aumento de 8,2% na produção, a área cultivada terá crescido 3,8%. Em média, a produtividade brasileira deve crescer 3,9%, puxada pela Região Centro-Sul.

O contínuo avanço da produtividade tem assegurado maior competitividade do produto agropecuário brasileiro e maiores fatias do mercado mundial. Dados que acabam de ser divulgados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) mostram que o Brasil está superando, ou já superou, os Estados Unidos como principal exportador mundial de diversos produtos. Um deles é o frango, do qual o Brasil se tornou o líder mundial neste ano. No caso da soja, o Brasil se aproxima da liderança americana. Em produtos como carne bovina, milho e arroz, são notáveis os ganhos do Brasil no mercado mundial.

O relatório da FAO observa, porém, que o avanço da competitividade agrícola brasileira pode enfrentar um sério obstáculo - a falta de infraestrutura adequada para escoar a produção crescente. É citado o caso do açúcar. Em 2011, a produção brasileira será de 39 milhões de toneladas, 4,6% mais do que no ano passado, mas as exportações deverão cair 1,5%, por causa de problemas para o escoamento da safra.

Os produtores rurais têm feito, e bem, sua parte para aumentar a eficiência da economia brasileira. Falta o governo fazer a sua, assegurando infraestrutura adequada. 
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