sexta-feira, 24 de junho de 2011

Cidadão padece entre o SUS e planos de saúde

Correio Braziliense 


 O Sistema Único de Saúde (SUS) deveria ser modelo para o mundo, pelo caráter universal, a intenção de atender a todos, indiscriminadamente. Mas, exceções à parte — uma unidade ou outra consegue manter padrão razoável de qualidade —, a regra é o caos. Resultado: o brasileiro recorre a planos privados. Além dos impostos, se dispõe a pagar mais por um mínimo de atendimento. Termina por gastar com saúde o dobro dos europeus, segundo constatação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Pior: nem assim se livra do tormento, conforme constata pesquisa encomendada ao Datafolha pelo Conselho Federal de Medicina e realizada em abril último. Ouvidos 2.061 filiados em 145 municípios, seis em cada 10 admitiram ter tido algum tipo de problema com a administradora num prazo de 12 meses.

As queixas não se diferenciam tanto daquelas dos usuários do SUS: dificuldades para marcação de consulta, tempo de espera abusivo em prontos-socorros, consultórios ou laboratórios, obstáculos para a realização de exames e procedimentos. Os médicos também reclamam. Com razão, protestam contra a baixa remuneração. Recebem em torno de R$ 30 por consulta. Mais: apontam interferência dos planos, que costumam questionar quando pedem exames complexos, de mais alto custo, adotam procedimentos, medicamentos e materiais caros, recomendam internações mais longas. Por sua vez, o governo vê crescer a inadimplência do setor, que nem sempre ressarce o SUS ao ter um segurado atendido pelo sistema público. A dívida batia em R$ 40 milhões em meados do ano passado.

Livrar o cidadão desse xeque-mate que põe a vida dele em perigo é obrigação do Estado. Mas, à ineficência do SUS e à dos planos privados, some-se a da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O órgão precisa parar de receitar placebos e começar a tratar os doentes com remédios verdadeiros. Esparadrapos podem estancar um sangramento aqui, outro ali, mas não curam ferimentos. Em ação recente, a ANS determinou que consultas com pediatras, clínicos, cirurgiões gerais, ginecologistas e obstetras não podem demorar mais do que sete dias. A providência estaria perfeita, se fosse crível. Contudo, a descrença é geral, pois a fiscalização é sabidamente insuficiente. Tanto que representantes de entidades de defesa do consumidor e médicos receberam a medida com ceticismo.

Recuperar o poder e o prestígio da ANS é passo primordial para desatar o nó que sufoca os filiados a planos de saúde — até para restabelecer a credibilidade do segmento, famoso por cobrar caro dos filiados, remunerar mal os médicos, restringir atendimentos e acumular débitos com o governo. Mas, sem um sistema público decente, confiável, as administradoras continuarão a precisar de muito pouco para atrair incautos a suas arapucas. Triste do país em que o cidadão é obrigado a escolher entre o ruim e o menos pior. Ainda mais quando se trata de cuidar da própria higidez.
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