segunda-feira, 27 de junho de 2011

Alimento e petróleo assustam

Alberto Tamer
O Estado de S.Paulo


O mundo está assustado com o aumento dos preços do petróleo e dos alimentos que pressionam a inflação e afetam a recuperação econômica.
A cotação das commodities, em geral, aumentou 41% nos últimos 12 meses, os alimentos, 42,7%. E não é tudo. A nafta, derivada do petróleo, registrou uma valorização de 49,8%, repercutindo nos preços das commodities indústrias. O petróleo, isolado, nada menos que 29%.

Os números preocupam e os países consumidores agiram nas duas frentes:
injetar mais petróleo no mercado e prometer mais vigilância com os preços dos alimentos. No caso do petróleo, os preços recuaram, mas não se sabe se irão se sustentar. No das commodities agrícolas, continuam em alta.

Mais petróleo. A Agência Internacional de Energia (AIE) anunciou que os países membros, principalmente Estados Unidos, União Europeia, Japão e outros asiáticos (a China não a integra), irão liberar 60 milhões de barris de seus estoques estratégicos. Serão 2 milhões de barris por mês, a partir de julho. É uma firme e rara resposta aos países que se recusaram neste mês a aumentar os preços, mesmo com o Brent a US$ 115 e o petróleo leve a US$ 100.

No fim de semana, os analistas não acreditavam que o recuo dos preços na sexta-feira - US$ 91, o leve, e US$ 105, o Brent, - seria mantido por mais tempo, porque as empresas voltarão a comprar para refazer estoques para o inverno nos Estados Unidos, na Europa e nos países do Hemisfério Norte.

Mercado apertado. A própria AIE estimou que, apesar do novo afluxo, haverá ainda uma falta de 1,7 milhão de barris por dia. Mas defende sua decisão excepcional (só liberou estoques duas vezes. No Golfo e no furacão Katrina). Não fosse isso, os preços do petróleo leve iriam ficar bem acima de US$ 100 e o pesado a mais de US$ 115.

Alimentos mais difícil. No caso dos alimentos, é mais difícil. Não há "o grande comprador" de um produto e só um grupo de fornecedores. Há muitos produtos e países produtores e mais ainda consumidores de grãos
e carne. É uma situação adversa para os consumidores que são, ao mesmo tempo, grandes produtores, como os Estados Unidos, Europa e até mesmo a China. Como lutar contra a alta de preços que beneficiam seus agricultores? Há um jogo de interesses contraditórios num mercado diversificado e difícil de acompanhar.

Dessa forma, de pouco adiantou o tal "acordo verbal" dos ministros da Agricultura do G-20, anunciado na sexta-feira em Paris. Eles aprovaram um plano para aumentar a produção, dar maior transparência com nova
base de dados sobre as reservas, encerrar as restrições às exportações de alimentos e desestimular o movimento financeiro no mercado de commodities. Ora, ora...

Nada disso é viável. Primeiro, a safra mundial deste ano será recorde, os estoques cresceram menos que a demanda, mas poderiam atendê-la.

Quanto ao terceiro item, contenção da especulação financeira, pouco se pode fazer se os juros nos Estados Unidos e na Europa continuarem baixo, empurrando os investidores para o mercado de commodities.

O argumento que os preços altos dos alimentos aumentam a fome nos países pobres levantado na reunião dos ministros de Agricultura, em Paris, é pouco convincente - a coluna quase dizia "honesto". Em 2008, provocaram protestos violentos de pessoas famintas: 1 bilhão, dizem eles. Isso pode se agravar. Afirmação falsa, no mínimo. O que faltou em 2008 e está faltando agora não é alimento para os mais pobres, mas uma forma mais eficiente de distribuí-los entre os famintos.

Esse é um tema que a coluna vai rever na próxima semana com o correspondente do Estado Jamil Chade, em Genebra, com dados mostrando que há muito alimento disponível no mundo. O que faltou e está faltando agora é a decisão de doar em situações extremas, não vender a preços de mercado.
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