EDITORIAL
JORNAL DO COMMERCIO (PE)
A aflição da cidadania acuada pela insegurança exige medidas emergenciais, para combater um problema que não se trata apenas com respostas na mesma moeda da brutalidade. Assim se alimenta a violência que volta para a sociedade, construindo um círculo de medo sem saída. A experiência de algumas metrópoles nas últimas décadas demonstra que a única fórmula efetiva contra a violência urbana é a combinação da repressão policial com estratégias consistentes de inclusão social nas áreas afetadas. Fora disso, é enxugar gelo, gastando recursos materiais e humanos para alcançar pequenos avanços estatísticos enquanto a situação permanece grave, com a população assustada.
No último dia 5, o JC publicou caderno especial contando um pouco da história bem-sucedida do resgate dos morros cariocas pelo poder público. Através de ações planejadas e coordenadas, comunidades inteiras foram libertadas das mãos dos chefões do tráfico de drogas. Territórios que eram reféns da bandidagem foram recuperados e reocupados pelo governo – e principalmente, pelos moradores que viviam em guetos controlados por marginais. Para que isso ocorresse, foi crucial a implantação de centros de pacificação, as já famosas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que incentivam a convivência comunitária e o relacionamento amistoso entre as pessoas e os responsáveis pela segurança.
Pernambuco tem um longo caminho a percorrer no quesito da segurança em ambientes pacificados. A paz, entre nós, ainda não aparece nas estatísticas que revertem lentamente o agudo quadro de violência no Estado. O reino dos números parece estar alheio ao reino humano. Os resultados positivos são inegáveis, porém se apresentam claramente insuficientes no cotejo com o exemplo dos morros do Rio de Janeiro. Especialmente na Região Metropolitana do Recife, onde a violência continua provocando sustos e dor, apesar das estatísticas levantadas como troféus pelos governantes. Distante de ser uma metrópole segura, o Recife, há muito tempo, não conhece o que é paz. Enquanto nos últimos dez anos o Rio de Janeiro despencou da primeira colocação para a 18ª posição no ranking nacional de homicídios, Pernambuco saiu da segunda para a terceira posição. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes, lá, caiu pela metade neste período, enquanto a nossa variou de 54 para 44 mortes por 100 mil habitantes por ano. A diferença reflete a distância entre uma simples política de segurança e uma política de pacificação, que leve em conta elementos que extrapolam a abordagem tradicional. Para que a paz se estabeleça, o modelo carioca aposta na oferta de espaços de lazer e cultura, além de investimentos em infraestrutura, como elevadores e teleféricos. Quando policiais surgem como instrutores de esportes e de música, vê-se que há algo diferente em lugares anteriormente marcados pela tensão. O que é bom merece ser copiado. Se no Rio a violência recua, em Pernambuco a paz pede mais oportunidades para desviar a juventude da sedução de atividades marginais.
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