segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Suplício de Sísifo

Chegamos a uma situação por demais difícil de se resolver.

Ao longo de nossa recente história republicana o cidadão brasileiro se omitiu de acompanhar os assuntos de Estado e da coisa pública sob o argumento de que "não gosta de discutir política."

Quando por ocasião da instalação da República a influência de Portugal nas câmaras legislativas estaduais, notadamente dos estados mais afastados, fora do eixo Rio, SP, MG e RS era muito forte. Os republicanos precisavam "vender" para o cidadão as vantagens do novo sistema de governo. Para tanto a Igreja Apostólica ajudou, com seus padres e vigários bem imersos no seio da população, todavia, notadamente nas ações gerenciais das "Ordens Religiosas" o preço foi cobrado em "desestimular" o interesse do cidadão pela política. Passou a vigorar, de forma subliminar, o conceito de que "coisas de religião e política não se discutem, cada um tem uma opinião e nunca se chega a uma conclusão!"

Eis, então, o resultado.
Ao longo dos anos fomos estimulados a colocar um voto na urna e esquecer o eleito por quatro anos. Aí, todos os assuntos essenciais de nossa vida, do nosso dia a dia (educação, saúde, energia, transporte, segurança, etc), eram decididos à revelia, praticamente, da participação popular, posto que os políticos eram nossos representantes legais.

Hoje, notadamente após mais de vinte e cinco anos de governo de esquerda (Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula), o país foi loteado, tomado do controle do povo. As instituições que deveriam servir de intermediárias entre as vontades e necessidades do cidadão e os agentes privados e públicos, hoje possuem políticos e indicados políticos em sua gestão: ANEEL, ANATEL, ANAC, ANA, DETRAN, INFRAERO etc etc, somente para se dar poucos exemplos para não se alongar. (Alguém fica satisfeito, plenamente com abusos das operadoras de telefonia, por exemplo? Embarcam confortáveis e seguros nos aeroportos? O fornecimento de energia é regular e de qualidade, é barato?? - Alguém já teve a curiosidade de saber o quanto as empresas que deveriam ser reguladas pelas reguladoras contribuem para as campanhas eleitorais - alguém consegue "fechar essa equação?")

E a Educação, está a contento? O que acham de pouco mais de 3% de bacharéis em direito serem aprovados nos exames da OAB? E os conselhos regionais de Medicina, Engenharia, etc etc? E o fiasco, contumaz do ENEM? E o "apagão de mão-de-obra"?

E a Saúde Pública? O atendimento hospitalar? O saneamento público? 

Tudo, tudo fruto de um silente e elegante "assalto à vontade popular". Resultado paulatino, sistemático, de um brilhante trabalho de formiguinha de omissão do cidadão brasileiro.

Agora a moda são os movimentos de indignação contra a corrupção. Depois do Mensalão quem não percebeu que eles estão nem aí para qualquer movimento popular precisa rever seus conceitos. Toda e qualquer mobilização, hoje, necessariamente tem que passar por instituições. Quem conseguir encontrar uma que não esteja mesmerizada pelos recursos orçamentários do governo (UNE, CUT, Sindicatos, MST, ONG) por favor me avise. As pessoas esperançosas nessa solução são inocentes o suficiente para acreditar em demitir políticos, e se acontecer, que o cidadão viverá em um nirvana ético.

Falando em mobilização popular no nirvana ético, olhando-se o comportamento do brasileiro no trânsito, o assombroso crescimento de comercialização de produtos piratas e do mercado informal, alguém, seriamente, vê nessas pessoas alguém preocupada com a ética??

Estamos em uma crise de referenciais, de valores, da falta de um farol de liderança civil. A sociedade, por si só, não evidencia um sequer, tampouco se levanta. Reclama, reclama dos absurdos e dos desmandos e quatro anos após, repete os mesmos erros.

O suplício de Sísifo...aquele condenado a rolar, eternamente, a rocha ladeira acima.

Um comentário:

  1. Esses dias li uma reportagem na Revista Veja de 21/09/2011, que me deixou muito decepcionada. O ex Ministro do Supremo Tribunal Federal Marcio Thomaz Bastos fez uma visita a presidente Dilma Rousseff para discutirem sobre a sucessão da ministra Ellen Gracie. O ex Ministro e a Presidente são amigos desde o governo Lula. Acontece que Thomaz Bastos desde julho é advogado do diretor do Banco Rural José Roberto Salgado, um dos 36 réus do mensalão, não é a unica ligação dele com o processo. Thomaz Bastos também é testemunha de defesa do petista Jose Dirceu, acusado pelo Ministério Público Federal de comandar a "sofisticada organização criminosa". Ou seja, ele vai ajudar a escolher aqueles que vão julgar seus clientes e amigos...
    Meu Deus.... dá para acreditar.....

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