terça-feira, 20 de setembro de 2011

América Latina faz esforço por educação

Demétrio Weber
O Globo

ONGs lançam rede para ajudar poder público a melhorar qualidade e acesso ao ensino em vários países



BRASÍLIA. Organizações não governamentais formadas por empresários, educadores e profissionais de diferentes áreas em 13 países da América Latina lançaram ontem, em Brasília, a Rede Latino-Americana de Organizações da Sociedade Civil pela Educação. Com perfis distintos, as entidades são um retrato da mobilização social para auxiliar o poder público a melhorar a qualidade e o acesso ao ensino.

Em declaração conjunta, as ONGs dizem que 23 milhões de crianças e jovens entre 4 e 17 anos estão fora da escola no continente. O documento destaca que a situação tampouco é boa para quem está estudando: "A qualidade do aprendizado é muito baixa em todos os níveis e muito desigual entre grupos socioeconômicos e étnicos."

O lançamento ocorreu no quarto e último dia do congresso internacional "Educação: uma agenda urgente", promovido pela ONG brasileira Todos pela Educação, que integra a rede. A coordenadora-geral da entidade, Andrea Bergamaschi, disse que o trabalho em cada país deve ir além do ensino. O raciocínio é que a aprendizagem depende muito do que acontece fora das escolas:

- Para que a gente alcance a qualidade da educação, dependemos de políticas de saúde, segurança pública e combate à pobreza - afirmou Andrea.

Com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a rede buscará a troca de experiências. O chefe da Divisão de Educação do BID, Marcelo Cabrol, deu uma dica: a melhoria da qualidade passa por investimentos já na primeira infância:

- O que não se adquire de habilidades cognitivas aos 8 anos não se adquire mais.

No Brasil, a matrícula na faixa de 4 a 17 anos passará a ser obrigatória a partir de 2016. Hoje, a exigência é restrita à população de 6 a 14 anos. Em 2009, 91,9% dos brasileiros nessas idades estavam matriculados na escola, segundo o Todos pela Educação.

O ministro Fernando Haddad acompanhou o lançamento. Ele disse que o continente precisa de um mutirão, pelas próximas décadas, para romper "a inércia que marcou todo o século XX":

- Temos a convicção de que o intercâmbio das nossas experiências vai nos fazer bem. A América Latina tem uma dívida histórica com a educação. É um desafio para todos os nossos países.

Haddad lembrou que o Brasil já promove intercâmbio de professores com os países do Mercosul. O objetivo é ensinar aos docentes espanhol e português respectivamente. Para o ministro, é importante que o continente avance em conjunto:

- (O intercâmbio) vai aumentar mais se os sistemas estiverem melhorando juntos. Se houver desnivelamentos, você dificulta o intercâmbio de estudantes e docentes.

O presidente da ONG Empresários pela Educação, do Peru, José Miguel Morales, cobrou mais clareza dos governantes ao reivindicarem maiores investimentos em educação. Segundo Morales, em vez de ficar falando em termos de percentuais do Produto Interno Bruto (PIB), os governos deveriam especificar o tipo de ação em que pretendem gastar.

Além de Brasil, Peru e Argentina, a rede reúne entidades de El Salvador, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e República Dominicana.
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