sexta-feira, 23 de setembro de 2011

POBREZA RACIAL


EDITORIAL
ESTADO DE MINAS


Desigualdade persiste e afeta negros e pardos, a começar pela educação

Se nenhuma corrente é mais forte que seu elo mais fraco, a sociedade brasileira tem hercúleo desafio pela frente. Trata-se de democratizar as oportunidades para reduzir o hiato existente entre negros e brancos. Estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) apresentado na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados expõe realidade preocupante. Em 10 anos, negros e pardos tiveram mais acesso à educação e à saúde. Mas estão distantes dos índices alcançados pelos brancos.

O Relatório das Desigualdades Raciais no Brasil 2009-2010 exibe um retrato da população no qual os traços revelam contornos desarmoniosos. Nele, os desníveis ganham relevo. Muitas vezes aparecem disfarçados, mas nem por isso invisíveis. Os aspectos destacados no texto são chave no processo de redução da pobreza, mas, com a evolução lenta, contribuem para perpetuar as condições perversas com as quais o país convive desde a época em que vigorava o regime das Capitanias Hereditárias.

A educação abre, sem dúvida, a porta da ascensão social. Segundo a Fundação Getulio Vargas, cada ano de estudo significa aumento de 15% no salário do trabalhador. Uma sociedade globalizada como a nossa não tem como fugir a exigências crescentes de sofisticação. Bons empregos são disputados por profissionais cada vez mais qualificados. Os melhores ganham as vagas. Os outros não têm saída: precisam se conformar com ofertas medíocres, que os obrigam a manter a mediocridade trilhada por seus antecedentes e, com muita probabilidade, a ser continuada por seus descendentes.

É o preço pago pela baixa qualidade do ensino público. Os negros e pardos, parcela mais pobre da população, frequentam as instituições mantidas pelo governo. Os brancos que podem pagar colégios privados estudam mais e melhor. O resultado do Enem divulgado na semana passada deixou claro que continua profundo o abismo que distancia uns dos outros. E o pior é que esse perverso afastamento não se observa só na escola; aprofunda-se ao longo da vida.

Estatísticas, como demonstra o relatório, camuflam realidades particulares. É o caso dos dados da pré-escola. Hoje, 6,4% das crianças com 6 anos estão fora das salas de aula. Desse total, 4,8% são brancas; 7,5%, negras e pardas. A desvantagem se observa nos demais níveis. É revelador e preocupante o exemplo da taxa de adequação, que avalia se o estudante está na série indicada para a idade. Nada menos de 34% dos jovens de 15 a 17 anos não correspondem ao exigido, estão atrasados em relação à idade. E, desse total, 26,2% são negros e pardos; 20,1%, brancos.

Os dados do relatório, embora sejam inquietantes, apresentam pontos positivos e apontam rumos. As políticas de igualdade racial têm acertos, mas são tímidas demais diante de realidade tão constrangedora e que representa sério desafio a ser enfrentado. Impõe-se aprofundá-las. De um lado, ampliando o leque de ofertas. De outro, melhorando-lhes a qualidade.
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