quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Histórias de professor




Caro Juremir (CORREIO DO POVO)!  


Meu nome é Maurício Girardi. Sou Físico. Pela manhã sou vice-diretor no Colégio Estadual Piratini, em Porto Alegre, onde à noite leciono a disciplina de Física para os três anos do Ensino Médio. Pois bem, olha só o que me aconteceu: estou eu dando aula para uma turma de segundo ano. Era 21/06/11 e, talvez pela entrada do inverno, resolveu também ir à aula uma daquelas alunas “tipo turista”,que aparece uma que outra vez para “fazer um social”. Para rever os conhecidos. Por três vezes tive que pedir licença para a mocinha para poder explicar o conteúdo que abordávamos. Parece que estão fazendo um favor em nos permitir um espaço de fala. Eis que, após insistentes pedidos, estando eu no meio de uma explicação que necessitava bastante atenção de todos, toca o celular da menina, interrompendo todo um processo de desenvolvimento de uma idéia e prejudicando o andamento da aula. Mudei o tom do pedido e aconselhei aquela menina que, se o objetivo dela não era o de estudar, então que procurasse outro local, que fizesse um curso à distância ou coisa do gênero, pois ali naquela sala estavam pessoas que queriam aprender ''e que o Colégio é um local onde se vai para estudar''. 


Então, a “estudante” quis argumentar, quando falei que não discutiria com ela. Neste momento tocou o sinal e fui para a troca de turma. A menina resolveu ir embora e desceu as escadas chorando por ter sido repreendida na frente de colegas. De casa, a mãe da menina ligou para a Escola e falou com o vice-diretor da noite, relatando que tinha conhecidos influentes em Porto Alegre e que aquilo não iria ficar assim. Em nenhum momento procurou escutar a minha versão nem mesmo para dizer, se fosse o caso, que minha postura teria sido errada. Tampouco procurou a diretoria da Escola. Qual passo dado pela mãe? Polícia Civil!Isso mesmo, tive que comparecer no dia 13/07/11 na oitava delegacia de polícia de Porto Alegre para prestar esclarecimento por ter constrangido (?) uma adolescente (17 anos),''que muito pouco frequenta a aula e, quando o faz, é para importunar, atrapalhar seus colegas e professores''. 


A que ponto que chegamos? Isso é um desabafo. Tenho 39 anos e resolvi ser professor porque sempre gostei de ensinar, de ver alguém se apropriar do conhecimento e crescer. Mas confesso, está cada vez mais difícil. Sinceramente, acho que é mais um professor que o Estado perde. Tenho outras opções no mercado. 


Em situações como esta, enxergamos a nossa fragilidade frente ao sistema. Como leitor da tua coluna, e sabendo que abordas com freqüência temas relacionados à educação, peço que dediques umas linhas a respeito da violência contra o professor.
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Um comentário:

  1. Meu colega de profissão, eu sou professora e filha de São Caetano do Sul e atualmente aqui em PE. Conheço muito bem a escola que aconteceu o fato. É uma escola municipal, com professores capacitados, bem remunerados (diferente de outras realidades)e para ser aluno é necessário fazer um vestibulinho, devido ao grande número de candidatos para a rede municipal. É um ensino municipal que supera muitas escolas particulares e não dá para acreditar que tenha acontecido.... Muitos seres humanos escondem faces da sua personalidade.... Não concordo jamais com que este aluno fez e até agora não se sabe o motivo..... Por o que conheço de SCSul, com certeza vai se tomar uma atitude. Eu como professora me coloquei no lugar da colega imediatamente porque nós que estamos em sala de aula sabemos o quanto é difícil trabalhar com educação neste país.

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