quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Fantasmas e palmadas... a Educação no Brasil

CRFB, ECA, palmadas, CNE e nossos fantasmas rumo ao  distante desenvolvimento

Considerações comparativas acerca da educação na China e no Brasil em uma visão particularizada


Gostaria de iniciar uma análise do texto da revista Veja com minha experiência. Apesar de não profusa, também sou professor, além de piloto.

Dei aulas -não lecionei- para vários grupos de pessoas, civis e militares. Mesmo em ambiente de caserna e, eventualmente, em sala ao longo de meu curso de Adm de Empresas, MBA em RH na FGV e durante o Mestrado em Segurança e Defesa Hemisférica que fiz em Washington DC. Tenho, portanto, treinamento e formação para ensinar e tive experiências interessantes à frente de alunos. O que já posso dizer é que os alunos americanos levam com mais seriedade o evento em sala de aula. Poucas experiências a frente de diplomatas civis e militares dos países das três Américas, docentes no Curso Superior de Segurança e Defesa Hemisféricas, mostraram-me que adultos também se comportam como adolescentes em termos de atenção e de interesse. O que jamais fiz, todavia, foram alegorias para tornar a aula mais dinâmica, leve ou atrativa. Usava metodologia de aula expositiva. Simples assim.

A reportagem, de início, já dá a grande dica: Idiossincrasia e História. Sob o título de "Armas da Educação em Massa" (não sei se para dar o tom de "opressão politicamente incorreta") identifico as primeiras Armas do arsenal chinês: Idiossincrasia e História.

 O comportamento do povo, e do aluno por decorrência, é respeitoso e aplicado em função de sua idiossincrasia amalgamada em longos períodos de dominação, vergonha, sofrimento e também dominação de outros povos. A China sempre foi um Império antigo, provecto também e tenho absoluta certeza que dominará o mundo nos próximos trinta anos, não economicamente, pois não ultrapassarão, jamais, os EUA, mas em uma miríade de outros quesitos dentre eles a presença física nos países de todo o mundo.

segunda Arma decorre da idiossincrasia: Eles cultuam, milenarmente, a meritocracia. Para nós isso é um palavrão em função dos "inalienáveis direitos iguais" garantidos pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CFRB). Diga-se de passagem, para mim jamais seremos um povo empreendedor em função da sombra protetora da Constituição que obriga-nos, ainda que por mote de greves reinvidicatórias, a sermos iguais aos medíocres e preguiçosos.

Os alunos levam a sério a aula por ser cultural, por terem um objetivo maior, de fazer parte de um concerto nacional de desenvolvimento. A família também induz, os vizinhos, os parentes, o contexto social como um todo. Já nós somos desagregados entre nós e, em função de uma ideologia gramciana, as instituições brasileiras estão sendo desqualificadas paulatinamente, dentre elas a família.

A terceira Arma que identifico: Os alunos lá têm um ritmo e volume de aulas enlouquecedor sob o prisma de nosso Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O fato de serem uma "economia capitalista" com fortes pendores autoritários lhes livra desse enorme coquetel de estultices que estão debastando nossas famílias e instituições: A superproteção ao aluno (professores agredidos em salas de aula - lá isso seria possível?). Dentro do aspecto das aulas, o rigor nas avaliações e  nos processos seletivos -e a certeza de lá chegaram e permanecerem sem o fantasma das impetrações de mandatos judiciais, como em nosso país- completam a quarta Arma.

quinta Arma é a valorização do professor cujos salários beiram o irrisório, contudo, a idiossincrasia e sua História fazem com que o contexto mais amplo convide a atividade de ensino. O respeito e reconhecimento  coletivo sobressaem neste mister. A preparação e discussão em grupo de professores e o exemplo da diretora que nunca faltou um dia sequer, em trinta e dois anos de profissão são exemplos entre inúmeros (aliás, quantas "licenças" se consegue em nosso país? quantas greves no Ensino nos últimos trinta anos já tivemos?  quantos que cursam em uma Universidade Federal qualquer conseguem se formar na quantidade de anos prevista??)

sexta Arma que identifiquei foram os investimentos públicos. Apesar do ensino ser gratuito apenas nos primeiros anos, a infra-estrutura educacional é garantida pelo governo. Aqui no Brasil este aspecto, em meu ver, é o que causa a maior confusão e "misleading" de percepção dos fatos. Ouve-se muito falar que não há investimentos adequados para Educação no país. Ledo engano, eu discordo. Desde que trabalhei com orçamento público -aliás  minha sala em Brasília ficava a menos de trinta metros do Min da Educação- que acompanho a destinação orçamentária anual por intermédio da LOA, Lei de Orçamento Anual. Educação e Saúde, pelo que comprovei, sempre estiveram -desde o governo Sarney- entre os ministérios melhor aquinhoados e sempre foram os que sofreram menor contingenciamento (retenção do orçamento a disposição do Governo Central). Ou seja, dinheiro sempre houve, se chegava no fim da linha já não era culpa do Governo e sim do pacato cidadão brasileiro que ocupava cargos no meio da estrutura funcional onde os dinheiros se retinham. Observe-se que a LOA é uma Lei, promulgada legitimamente.

Hoje em dia, também fruto de promulgação legítima, temos a Lei 8666 (Licitações Públicas), Lei de Responsabilidade Fiscal, o Fundo de Participação de Estados e Municípios e nossa estrutura de gestão orçamentária e tributária que impedem aumento de investimentos ou aplicações intempestivas (por exemplo, carteiras incendiadas, salas de aula depredadas e inúmeros atos de vandalismos perpetrados pelos inocentes docentes protegidos pelo ECA). Ou seja, para entendermos nossas deficiências precisamos nos aprofundar mais nas causas e não nos posicionarmos revoltados com conhecimentos rasos acerca do contexto maior. Foram leis promulgadas legitimamente enquanto o cidadão cochilava ou estava ligado em alguma novela global ou não. Para se mudar o atual cenário é extremamente improvável, notadamente após o show de populismo de nossos congressistas ao aprovarem a "Lei da Palmada" e o "Estatuto do Jovem". Ou seja, nossa representatividade legal está, cada vez mais, aprofundando no mar de lodo a âncora que nos retém no subdesenvolvimento.

sétima Arma é a total impossibilidade de um equivalente a nosso Conselho Nacional de Ensino ser autoritário e recheado de ideologias (detalhe, o anarquista italiano Gramsi, modelo de nossos governantes centrais, jamais se criou mesmo na Revolução Cultural chinesa, só entre nossos apedeutas é que ele tem lugar no pedestal). O exemplo do taxista ouvindo no rádio um programa sobre a história da dinastia Ming é um excelente exemplo. Lá se cultua a História, aqui filmes e livros desqualificam nossas figuras históricas e, o pior, tem enorme vendagem entre o público que se dispõe a ler.

A leitura da reportagem citada e todo e qualquer trabalho de Gustavo Ioschipe, autor dela, e do economista especializado em Educação, Cláudio Moura e Castro -sempre aguardo seus trabalhos com grande expectativa) valem a pena ser lidos.

Enfim, amigos, o tema é denso e requer muita mobilização consciente de fato, mas consciente sobre o todo, o contexto maior que nos impede de sermos semelhantes aos países do primeiro mundo.

Volto a ressaltar que, de acordo com o IBGE, temos 95% de residências com televisores, 98% com rádios, temos 210 milhões de linhas de celular, mais de 60 milhões de lares com linhas de telefonia fixa, mais de 40 milhões de usuários de mídias sociais. Ou seja, a informação disponível existe, o problema é que identifico baixíssima qualidade no que é veiculado, não admira os nossos governantes e legisladores se sentirem tão à vontade em fazer o que hoje vemos como absurdos.

Esta é minha visão particularizada, é uma parte ainda, pois tenho outras considerações mais amplas fruto de minha experiência e contato com o cidadão nas diversas cidades e regiões que visitei e tive contato por força de profissão (sou piloto, com já disse - mas também professor). Temos que vencer várias barreiras conceituais e legais se quisermos avançar para sermos a quinta economia mundial. Para mim nossa maior restrição está em nossas mentes e não na falta de recursos ou de infra-estrutura.

Convido a uma reflexão.

Boas Festas a todos.
.

Um comentário:

  1. Olá Jeffersson muito bom este artigo que nos faz refletir. Você sempre consegue resumir de uma forma completa e instigante. Quem sabe se os seus artigos, não estão fazendo brotar novos rumos? Sabemos que os que conseguem ter acesso a estas reflexões, vão fazer a história dos dias que estão chegando ,mais éticos e mais moralizados para nós brasileiros.

    Cada vez mais precisamos melhorar nossa educação!

    Você é um educador de linha de frente! Que mostra a vontade de mudar e lutar.
    Ama o trabalho e por isto vive a nos sensibilizar com seus pensamentos e com isto todos ganhamos corpo e alma nesta mudança que é inevitável e positiva para todos.

    Parabéns pelo texto , e também lhe desejo um 2012 com muitas realizações.

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