BENJAMIN STEINBRUCH
FOLHA DE SP
A inovação é responsável por saltos na economia mundial; incentivá-la deve ser prioridade de todo país
O arado puxado por cavalo e a plantação em fileira, instrumentos clássicos de eficiência na produção agrícola, somente passaram a ser utilizados na Europa no século 18. Os chineses já os usavam desde o ano 600 a.C.
Não por acaso, portanto, a China teve o crescimento demográfico que a levou a ser a nação mais populosa da Terra, com 1,3 bilhão de habitantes hoje. O arado, as fileiras de plantação e outras tecnologias agrícolas milenares, como o semeador múltiplo, inovações geniais só adotadas na Europa quase 2.000 anos depois, permitiram grande aumento de produção para alimentar uma população chinesa cada vez maior.
As invenções milenares chinesas estão descritas no livro "China - Origens da Humanidade", escrito pelo jornalista Carlos Tavares de Oliveira. Além dessas inovações na área da agricultura, o autor apresenta, com base em pesquisas, várias invenções chinesas na indústria, na navegação, na medicina e na astronomia, como a enxada, o carrinho de mão, o relógio, a bússola, a pólvora, o papel e a impressão. Muitos desses inventos, segundo Oliveira, acabaram sendo apropriados, centenas e até milhares de anos depois, por inventores do Ocidente.
Não é objetivo deste artigo discutir autoria de invenções. A leitura dos relatos de Oliveira, porém, desperta atenção para a importância da inovação no avanço dos povos. Foi assim na China milenar, com suas tecnologias da agricultura.
Foi assim na Inglaterra do século 18, com o início da mecanização dos meios de produção, no que se chamou de Revolução Industrial.
Foi assim nos Estados Unidos do século 20, com a adoção pioneira da linha de montagem por Henry Ford, que adicionou grande produtividade às indústrias e permitiu a produção em massa de automóveis e de bens de consumo.
Foi assim no fim do século 20, com a revolução da tecnologia da informação na qual se encaixa a internet, avanço talvez mais significativo do que muitos precedentes, porque democratiza o conhecimento, base para novas descobertas.
Essas reflexões são oportunas porque, no andar rápido da carruagem durante o ano, em geral nos fixamos demasiadamente na aridez dos problemas conjunturais. Olhamos dia após dia para as crises da Europa e dos EUA, por exemplo, como se isso fosse a única preocupação relevante para o nosso futuro.
À medida que o Brasil vai superando suas enormes deficiências, com a agregação de milhões de brasileiros ao mercado de consumo, já passa da hora de pensar com mais seriedade na educação e na formação profissional das pessoas.
É hora de investir pesado em instrumentos de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico em todas as áreas.
Com grata surpresa, vimos na semana passada números que mostram o aumento da procura de financiamento para inovação da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), agência do BNDES.
Neste ano, a demanda de crédito foi multiplicada por cinco, atingindo R$ 9 bilhões, sinal de que as empresas e a sociedade brasileira em geral passaram a olhar para o futuro com ênfase no desenvolvimento de projetos inovadores.
A inovação é responsável por saltos na economia mundial, que se deram com a locomotiva, a luz elétrica, o automóvel e muitas outras invenções. Há 20 anos, ninguém poderia prever a importância que teria a internet e o intenso uso dos engenhosos equipamentos eletrônicos móveis de hoje, como tablets e smartphones. Mas isso tudo já é uma realidade que fez nascer centenas de empresas bilionárias e criou milhões de empregos em todo o mundo.
O incentivo à inovação, portanto, deve ser uma preocupação recorrente em qualquer país, cada um colocando foco em suas vocações.
O Brasil, por exemplo, poderia investir preferencialmente em energias renováveis -muitos "profetas" acham que o novo salto da economia mundial será nessa área- e em matérias-primas. Mas isso é apenas palpite.
Depende de todos os brasileiros, estejam no governo ou na iniciativa privada, a construção desse país inovador, capaz de reinventar a roda ou o arado que os chineses criaram há 2.600 anos.
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