O Globo
No dia 6 de fevereiro de 2012, três grandes aeroportos brasileiros (Guarulhos e Viracopos, em São Paulo, e o de Brasília) começarão a se livrar de uma longa trajetória de administração incompatível com os desafios atuais e futuros do setor aeroportuário. Enquanto terminais marítimos e rodoviários em todo o país há muito tempo passaram para as mãos de concessionários privados, nos aeroportos prevaleceu a mentalidade retrógrada da estatização.
Com o crescimento vertiginoso do tráfego aéreo, e um visível esforço de companhias para atender a uma demanda que chegou a se expandir a quase 20% em um ano, os aeroportos viraram um gargalo. Quem busca o transporte aéreo como opção geralmente tem pressa para chegar a seu destino ou anseia por conforto. No passado, pagava-se muito caro para isso. Porém, o estímulo à competição entre as companhias aéreas em todo o mundo, com marcos regulatórios mais adequados aos novos tempos, fez com que as tarifas barateassem e mais pessoas tivessem acesso a essa modalidade de transporte.
A multiplicação do número de passageiros e de cargas abriu oportunidades para os mais competitivos, e, em tal quadro, foram ficando para trás as antigas empresas estatais, inclusive no segmento de administração de terminais (Infraero).
Diversos países perceberam que era hora de mudar e rapidamente puseram seus aeroportos sob concessão privada. E os resultados não demoraram a aparecer. Quando se compara a qualidade dos serviços nesses aeroportos, até mesmo de algumas nações da América do Sul, o quadro chega a ser vexaminoso para nós. Os brasileiros se acostumaram ao desconforto e à escassez de serviços quando passam pelos aeroportos nacionais, mas se envergonham ao receber visitantes estrangeiros, pois eles geralmente se surpreendem quando vêm ao país pela primeira vez: o impacto negativo na recepção contrasta com as notícias e os depoimentos a respeito dos avanços ocorridos no Brasil nas últimas décadas.
Infelizmente, a infraestrutura aeroportuária se transformou em um dos derradeiros baluartes do saudosismo estatizante. O governo Lula fraquejou o tempo todo diante dos interesses corporativos e não fez o que era óbvio, principalmente depois de o Brasil ter se comprometido a abrigar grandes eventos internacionais, cujo sucesso dependerá em parte de bons serviços aeroportuários.
Com enorme atraso, o governo Dilma tenta agora corrigir o erro do seu antecessor. Nessa corrida contra o tempo, espera-se que o cronograma dos leilões, da assinatura dos contratos de concessão e da transferência da administração seja cumprido à risca. Para isso, o governo não pode ser complacente com o corporativismo, com resistências ideológicas e não deve ceder às pressões para que a Infraero tenha um papel que vá além do que lhe cabe no novo modelo.
O cumprimento do cronograma é importante para que se consiga promover ainda em 2012 o leilão dos aeroportos internacionais do Rio de Janeiro (Antonio Carlos Jobim) e de Confins (Tancredo Neves).
A concessão desses cinco grandes aeroportos não resolve totalmente os problemas do setor, mas já representará um grande salto. Uma esperança, enfim, mesmo que, devido aos atrasos enervantes, seja difícil prestar serviços amplos de boa qualidade na Copa.
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