Roberto Abdenur
Continuarão a ser fonte de instabilidade as situações ainda indefinidas da Primavera Árabe
Conforme o antigo vaticínio chinês, estamos fadados a viver, ao longo de 2012, "tempos interessantes". Tempos difíceis, de preocupações, riscos e incertezas. Depois de três décadas de prosperidade, o mundo entrou em 2008 em período de crise econômica com precedentes apenas na Depressão dos anos 1930.
A crise financeira transformou-se em crise "estrutural". Passou a abarcar, ademais dos problemas no setor bancário, as dívidas soberanas de países do euro. Estagnação e, em alguns casos, recessão marcarão o ano na Europa.
Nos Estados Unidos, alguma expansão ainda ocorrerá. Mas subsistem inquietações sobre até onde se conseguirá, com sistema político polarizado e em impasse, obter reativação econômica a curto prazo.
Na China, com a contração dos mercados europeu e americano, exportações e investimentos devem perder força. Enquanto o país procura aumentar o consumo interno, o crescimento cai da casa dos 10% para a dos 8% -índice perigosamente próximo do mínimo necessário para evitar descontentamento. E resta ver até que ponto possa a economia evitar o risco de estouro do que parece ser uma bolha imobiliária.
O Brasil precisa fomentar as forças domésticas para compensar a perda de mercados (sobretudo o de alguns produtos vendidos à China, como minério de ferro) e de créditos externos. Em quadro de generalizadas dificuldades e baixo crescimento na economia internacional, precisaremos esforçar-nos para manter crescimento de entre 3 e 4%.
No plano político internacional, continuarão a ser fonte de instabilidade as situações ainda indefinidas da Primavera Árabe no Egito, Síria, Iêmen e partes do Golfo, como no Bahrein. Novos desdobramentos podem dar-se no conflito entre israelenses e palestinos. E deverão ganhar força as tensões em torno do Irã, por conta do programa nuclear em acentuada evolução e do que representa Teerã como perigo para Israel e para a estabilidade regional.
O futuro do Iraque após a retirada norte-americana se mostra incerto. Não é de todo impossível a eclosão de uma guerra civil.
Uma certa guerra fria já em curso entre Irã e países do Golfo, de uma parte, e EUA, de outra, pode chegar a entreveros militares de graves repercussões para a economia global, pelos efeitos sobre o petróleo.
Com a estagnação nos EUA e na Europa, continuará na direção da Ásia-Pacífico o deslocamento dos eixos principais de dinamismo econômico. Mas a região será também palco de novas tensões. Há a incógnita da agora renovada imprevisibilidade do governo norte-coreano pós-Kim Jong-il. Prossegue a surda, mas crescente disputa por espaços geopolíticos entre a China e os EUA. E, mais ao Sul, entre Índia e China.
Uma China que tenderá a beneficiar-se do distanciamento entre EUA e Paquistão e do possível surgimento de um Afeganistão que não mais terá mais presença americana.
Em meio a isso, a grande incógnita: que desfecho terá a eleição presidencial nos EUA. Se a continuidade, num segundo mandato de Obama, de um mínimo de sobriedade e comedimento no plano externo, ou o retrocesso para posturas unilaterais e agressivas, como pregam pré-candidatos republicanos.
Serão tempos interessantes, sem dúvida.
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