quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

AS DISTORÇÕES DO MERCADO DE TRABALHO

EDITORIAL
CORREIO BRAZILIENSE


A substancial melhora do mercado de trabalho retratada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é um alento e um desafio. Dezembro de 2011 registrou a menor taxa de desemprego de toda a série histórica, iniciada em 2002: 4,7%. Em relação ao mesmo mês de 2010, a população desocupada caiu 9,4%. Já os empregos com carteira assinada cresceram 6% na mesma base de comparação. Melhor ainda: o rendimento médio aumentou 2,6%, batendo em R$ 1.625,46, o equivalente a três salários mínimos, outro recorde.
Mas nem tudo é azul na pesquisa mensal do IBGE, que abrange as regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Um ponto negativo é a informalidade, que, embora em queda, ainda predomina. Se os trabalhadores com todos os direitos trabalhistas garantidos passaram de 46,3% em 2010 para 48,5% em 2011, desperta a atenção o fato de 51,5% seguirem desprotegidos.
A esses, nem sequer é assegurado o pagamento do salário mínimo, que diria o descanso semanal remunerado, as férias, o décimo terceiro salário e o FGTS. E falta mão de obra qualificada no país, o que pode ser indicativo de que a marginalização dessa massa de trabalhadores vem de outras duas grandes mazelas nacionais: a baixa escolaridade da população e a incompetência do sistema educacional. Não é mera coincidência que negros e pardos tenham menos acesso à escola e sejam mais mal remunerados.
Aliás, a distorção refletida no mercado de trabalho em relação à cor da pele é outro ponto adverso apontado pelo IBGE. Enquanto os brancos (que têm 1,8 ano a mais de estudo) tiveram média anual de renda de R$ 2.050,25 em 2011, os pardos atingiram R$ 1.121,44 e os negros, R$ 1.073,22. A disparidade se repete segundo o gênero. No ano passado, as mulheres ganharam 28% a menos do que os homens: R$ 1.343,81, contra R$ 1.857,64.
Esse quadro deve instigar o Ministério do Trabalho a buscar meios de equilibrar as oportunidades. A pasta manifesta-se otimista em relação a 2012, estimando a abertura de 2 milhões de postos de trabalho. Apesar da crise econômica nos Estados Unidos e na União Europeia, e da dependência global em relação a essas duas potências, as expectativas são, sim, de crescimento, não apenas para o Brasil, mas para a América Latina e o Caribe. Contudo, é preciso assegurar que os benefícios contemplem a todos, sem distinção de cor ou gênero, e permitam a inclusão dos informais.
Atrasos gritantes vêm sendo superados nos tempos recentes. Depois de vencer a hiperinflação, o país pôde recuperar o poder do salário e distribuir renda; se pôs no caminho do crescimento, resgatou milhões de cidadãos da miséria, tornou-se a sexta economia mundial. Entretanto, novos e velhos ajustes continuam a desafiar a escalada nacional rumo ao Primeiro Mundo. O IBGE revela avanços e ajustes necessários ao amadurecimento do Brasil. Maturidade, vale lembrar, se alcança sobretudo com educação qualificada.
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