quinta-feira, 26 de abril de 2012

Líderes


Exame.com.br

Os personagens retratados são os protagonistas dos mais relevantes movimentos de negócios ocorridos no Brasil e no mundo nos últimos meses. Mais do que determinar episódios isolados, eles são o motor de fenômenos importantes -- que devem se consolidar ao longo de 2007 e dos próximos anos. É o caso do avanço das multinacionais de países emergentes, da inovação como principal responsável pelo surgimento de empresas gigantescas e da crescente interferência do mercado financeiro na consolidação de setores inteiros 

O expansionista
Roger Agnelli

O paulistano Roger Agnelli está à frente da maior expansão já empreendida por uma companhia brasileira no cenário internacional. Desde 2001, quando assumiu a presidência da Companhia Vale do Rio Doce, Agnelli comandou 14 aquisições -- uma média de três por ano. Em outubro de 2006, deu um passo sem precedentes ao coordenar o mais vultoso negócio envolvendo uma empresa sediada no Brasil em toda a história. Com a compra da canadense Inco, maior produtora de níquel do mundo, por quase 18 bilhões de dólares, a Vale tornou-se a segunda maior mineradora do planeta. Também diversificou seu portfólio, até então baseado quase exclusivamente no minério de ferro. As vendas da companhia crescem em uma velocidade fabulosa. Entre janeiro e setembro de 2006, as receitas chegaram a 18 bilhões de dólares, considerando a incorporação da Inco -- quase o dobro em relação ao mesmo período do ano anterior. A evolução poderá tornar a Vale o maior grupo privado brasileiro, à frente do Bradesco -- ironicamente, a casa onde Agnelli começou e construiu sua carreira. 

O barão e seu sucessor
Jorge e André

Pai e filho protagonizam um dos mais bem estruturados processos de sucessão realizados numa empresa familiar no país. Em janeiro de 2007, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter cederá a presidência da Gerdau ao filho André. Aos 70 anos, Jorge ficará apenas no conselho de administração ao lado dos irmãos Frederico, Klaus e Germano. A escolha do sucessor seguiu um meticuloso planejamento iniciado em 2000. Na reta final, o páreo esteve entre o filho de Jorge e o sobrinho Cláudio Johannpeter -- que acabou ficando com o posto de COO, executivo responsável pela parte operacional. André assumirá um dos 15 maiores grupos siderúrgicos do mundo, com faturamento de mais de 25,5 bilhões de reais por ano. Seu principal desafio será continuar a expansão in ternacional. Em 1983, quando Jorge assumiu a presidência no lugar do pai, Curt Johannpeter, o grupo tinha apenas uma usina no exterior. Hoje está em oito países, e metade da produção vem de fora do Brasil. Só os Estados Unidos representam mais de 90% desse total. A capacidade de internacionalizar-se cada vez mais e aumentar a musculatura da empresa para competir com os gigantes estrangeiros será fundamental para definir se André terá ou não sucesso à frente do grupo. 

O consolidador
Jorge Paulo Lemann


Em uma de suas raras exposições públicas, o empresário carioca Jorge Paulo Lemann certa vez disse à platéia que nunca teve dificuldades em sonhar grande. Nas últimas semanas de 2006, Lemann deu novamente um exemplo de seus sonhos de grandeza ao anunciar a fusão da Americanas.com (braço de comércio eletrônico da Lojas Americanas) com o Submarino. Controlador da Lojas Americanas -- ao lado dos sócios Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira --, Lemann deve imprimir à nova empresa, batizada de B2W, um ritmo acelerado de expansão -- incluindo em outros países, sobretudo na América Latina e na Índia. Segundo especialistas, esse movimento pode ter como objetivo final atrair um grande varejista global. Lemann -- o principal representante brasileiro de uma geração de financistas com notável habilidade para consolidar setores e, a partir daí, extrair lucros formidáveis -- já utilizou essa mesma estratégia no passado recente. Ao longo da última década, ele articulou uma improvável consolidação no mercado mundial de cervejas. Em 1999, Lemman e seus sócios na Brahma compraram a rival Antarctica e deram origem à Ambev, a maior cervejaria do país. A partir daí, o trio apostou no avanço no exterior até que, em 2004, costurou a união com os belgas da Interbrew. O resultado é a maior cervejaria do mundo em volume e a segunda em vendas -- a Inbev, com faturamento de 15 bilhões de dólares em 2005. 

O pioneiro
Rubens Ometto


O engenheiro Rubens Ometto Silveira Mello, dono da Cosan, a maior produtora global de açúcar e álcool de cana, injetou modernidade num setor marcado pelo atraso e pela acomodação típica de negócios que, por décadas, foram tutelados pelo Estado. O pioneirismo o coloca hoje no epicentro de uma revolução energética, na qual se discute o álcool como um dos sucessores do petróleo em todo o mundo. Expoente de um clã que faz fortuna com a cana-de-açúcar há quatro gerações, Ometto não corresponde ao velho estereótipo de um usineiro. Ele anteviu e soube se preparar para uma consolidação que agora caminha para o ápice. Foi o primeiro em seu setor a perseguir o investimento estrangeiro e abrir capital na bolsa de valores, em novembro de 2004. Nos últimos cinco anos, suas exportações de açúcar dobraram. As de álcool mais do que triplicaram. Aos 56 anos, Ometto tem pela frente um desafio considerável: proteger-se das dezenas de concorrentes que não param de chegar. Especula-se que o homem mais rico do mundo, Bill Gates, fundador da Microsoft, esteja prestes a concretizar a aquisição de uma usina de etanol no Brasil. Outro bilionário, o investidor húngaro George Soros, fechou em fevereiro de 2006 a compra da usina Monte Alegre, em Minas Gerais. Em 2005, o mercado brasileiro de etanol movimentou 6 bilhões de dólares. A expectativa é que esse valor mais que dobre em cinco anos, alcançando 15 bilhões de dólares em 2010. 

O executivo global
Carlos Brito


São ainda raros os executivos brasileiros que conseguem assumir posições de liderança em multinacionais. Aos 46 anos de idade, o carioca Carlos Brito é uma dessas exceções (Carlos Ghosn, retratado ao lado, é outra raridade). Em janeiro de 2006, Brito passou a dar expediente como presidente mundial da Inbev, a maior cervejaria do planeta, sediada em Leuven, na Bélgica. Sua chegada simboliza uma verdadeira revolução cultural na empresa resultante da compra da Ambev pela Interbrew. Acostumados à hierarquia e a certa letargia, os belgas estão tendo de adaptar-se ao estilo do brasileiro -- baseado na informalidade, na meritocracia e na incansável busca por resultados. Esse choque de gestão está melhorando os resultados da empresa (nos nove primeiros meses de 2006, o lucro foi 11% superior ao do mesmo período do ano anterior), mas os europeus estão de cabelo em pé. Numa tentativa de resistir ao estilo de Brito, os funcionários da Inbev já fizeram diversas paralisações. Aparentemente, o executivo, que começou a carreira como trainee na Brahma, não se comove -- e continua disposto a transformar a Inbev numa máquina capaz de gerar cada vez mais dinheiro. 

O reestruturador
Carlos Ghosn

Uma notícia abalou o mercado automobilístico em 2006 -- a possível fusão da General Motors com a francesa Renault e a japonesa Nissan, ambas capitaneadas pelo brasileiro Carlos Ghosn. Em junho, Ghosn começou a negociar uma aliança com a americana General Motors, a convite do bilionário americano Kirk Kerkorian, então o maior acionista individual da companhia (Kerkorian viria a se desfazer de suas ações meses depois). A aposta do mercado era que, se a fusão saísse do papel, o brasileiro seria o líder da nova e gigantesca corporação resultante. Por trás da escolha estaria sua reconhecida fama de reestruturador, conquistada após tirar a Nissan do vermelho em apenas três anos. O acordo não saiu, mas Ghosn deve atrair os holofotes em 2007, por nova tentativa de associação com a própria GM ou com a Ford. Quanto à Renault, ainda não será em 2007 o ano da virada. O executivo aposta em novos modelos, previstos para chegar ao mercado daqui a dois anos. 

O negociador
André Esteves


Egresso da baixa classe média, o matemático e analista de sistemas André Esteves agora faz parte do seletíssimo grupo de bilionários brasileiros. Em maio de 2006, ele vendeu o banco Pactual -- onde começou como estagiário em 1989 e do qual se tornou controlador, com pouco menos de 30% das ações -- para o suíço UBS por 2,6 bilhões de dólares. A transação é exemplo da maior temporada de fusões e aquisições da história do país. Esteves, que se transformou no principal executivo do UBS para a América Latina, tem um tino para realizar operações financeiras comparado ao de banqueiros como Julio Bozano e Joseph Safra. Apesar da habilidade financeira e da visão estratégica que o transformaram num negociador de primeira linha, Esteves terá agora de demonstrar um outro talento: a capacidade de conciliar duas culturas diferentes. Enquanto os suíços do UBS são mais conservadores, os cariocas do Pactual são famosos pela agressividade. 

O emergente
Liu Chuanzhi


Aos 62 anos, o empresário Liu Chuanzhi personifica o fabuloso avanço chinês pelo mundo. Nos anos 80, ainda como um pesquisador pobretão da Academia de Ciências da China, ele fundou a Lenovo num galpão empoeirado na periferia de Pequim. Em maio de 2005, Chuanzhi desafiou a hegemonia americana no setor de tecnologia ao adquirir a deficitária divisão de PCs da IBM, transformando sua empresa na terceira maior fabricante mundial de computadores. Seu estilo agressivo e expansionista lhe valeu o apelido de "Jack Welch da China". Hoje bilionário, ele preside a Legend, a holding da Lenovo. Mesmo distante do dia-a-dia, Chuanzhi continua exercendo forte influência na empresa, sobretudo como mentor do poderoso presidente do conselho Yang Yuanqing. No mais recente ano fiscal, encerrado em março de 2006, os chineses reverteram o prejuízo histórico da antiga divisão da IBM. A melhora, no entanto, ficou aquém da expectativa dos analistas. As vendas na China estão crescendo, mas caíram 9% nos Estados Unidos no último trimestre -- um claro sinal de que o caminho rumo à consolidação de uma marca global que sobrepuje a tradição da Big Blue será longo. 

Os inovadores
Chad Hurley e Steve Chen


Tudo o que os americanos Chad Hurley (à esq.) e Steve Chen queriam era dividir com um grupo de amigos vídeos feitos com câmeras digitais durante um jantar de aniversário. Para isso, montaram um site em fevereiro de 2005 e, meses depois, tinham nas mãos uma das manias mais movimentadas da internet, o YouTube. Hoje, calcula-se que mais de 80 milhões de pessoas o visitem por mês, atraídas por vídeos de todos os tipos, entre produções caseiras, trechos não autorizados de programas de TV, desenhos animados e videoclipes. Hurley e Chen só não conseguiram transformar o sucesso em um bom modelo de negócios. A melhor maneira que encontraram de ganhar dinheiro com o site foi vendê-lo ao Google por 1,6 bilhão de dólares, em outubro último (uma saída para lá de lucrativa, é bom que se diga). Agora, caberá ao novo gigante da internet descobrir como torná-lo rentável -- e se proteger contra eventuais ações judiciais que exijam indenizações pela exibição de vídeos não autorizados. 



Sergey Brin e Larry Page

A dupla de americanos Sergey Brin (à esq.) e Larry Page concretizou o sonho de todo garoto que estuda computação em Stanford, a prestigiada universidade americana. Eles desenvolveram um software genial, montaram sua empresa numa garagem e conquistaram, cada um, uma fortuna de mais de 10 bilhões de dólares. Se não bastasse a ascensão meteórica, os jovens empreendedores de 33 anos de idade hoje controlam uma companhia com uma capacidade ímpar de se renovar. De um simples site de busca, o Google transformou-se num provedor de serviços que oferece e-mail, blogs e até localização via satélite. A recente compra do YouTube é mais um passo nessa diversificação. De janeiro a setembro de 2006, seu faturamento ultrapassou 7 bilhões de dólares -- 80% mais que no mesmo período do ano anterior. Com capital aberto desde 2004, o Google é hoje uma das 20 companhias mais valorizadas do planeta, com valor de mercado próximo dos 150 bilhões de dólares. Sua curta história revolucionou a internet e agora influencia empresas de todos os setores que descobriram que inovação é determinante para o sucesso. 

O investidor
Steve Schwarzman


O exuberante mercado de private equity nos Estados Unidos produziu um dos negócios mais vultosos do ano. Em novembro de 2006, o fundo de capital de risco The Blackstone Group, capitaneado por Steve Schwarzman, comprou a Equity Office, dona de cerca de 600 imóveis comerciais espalhados por 16 estados americanos, por cerca de 36 bilhões de dólares. O movimento simboliza o poder de fogo construído pelos fundos de private equity nos últimos tempos -- apenas nos Estados Unidos o levantamento de recursos deve atingir 225 bilhões de dólares em 2006 -- e a tendência é que essa exuberância se mantenha em 2007. Só o Blackstone, um dos maiores do mundo, anunciou a formação de um fundo no valor recorde de 20 bilhões de dólares. A boa notícia é que parte dessa injeção bilionária de recursos dos fundos private equity deve ser destinada ao Brasil. 

O conquistador
Lakshmi Mittal


O empresário indiano Lakshmi Mittal ocupou as manchetes em todo o mundo em 2006 ao fazer uma oferta hostil à siderúrgica européia Arcelor. Após seis meses de longas negociações e um desembolso de 38 bilhões de dólares, Mittal tornou-se o controlador da companhia em julho. A Arcelor Mittal é de longe a maior fabricante de aço do mundo. Sua produção é três vezes e meia superior à da vice-líder, a japonesa Nippon Steel. No início, o comando ficou com o executivo da Arcelor Roland Junck. Logo depois, Mittal mostrou que daria as cartas e assumiu a presidência. (Seu filho e mais provável sucessor, Aditya, esteve à frente da área financeira desde a fusão.) Hoje, Lakshmi Mittal é o quinto homem mais rico do mundo, com uma fortuna de 23,5 bilhões de dólares. Em 1995, ele era um dos laterninhas, com cerca de 1,5 bilhão de dólares -- evolução que demonstra o extraordinário florescimento da economia indiana. 

O "matador" de Detroit
Katsuaki Watanabe


Katsuaki Watanabe, diretor-presidente da Toyota, teria motivos de sobra para estar tranqüilo. Enquanto as concorrentes sucumbem, a Toyota prospera e deve tirar da GM, em 2007, a liderança mundial do mercado de automóveis. Ainda assim, o executivo mostra-se adepto da máxima do ex-presidente da Intel Andy Grove de que só os paranóicos sobrevivem. Até 2010, ele prevê uma redução nos custos de produção de 8 bilhões de dólares. Para isso, pretende tornar ainda mais ágeis seus sistemas de produção. Hoje, a fábrica mais rápida da Toyota produz um carro a cada 56 segundos. Até o final de 2007, a empresa vai inaugurar uma unidade capaz de reduzir esse tempo em 6 segundos. 

O Ambientalista
AL Gore
Na última edição do Festival de Cinema de Cannes, em maio de 2006, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore chamou mais atenção no carpete vermelho do que qualquer astro de Hollywood. Seu documentário Uma Verdade Inconveniente, um alerta sobre o aquecimento global, era a grande expectativa do evento. Gore, sócio de um fundo que administra 200 milhões de dólares em proje tos de energia sustentável, quer provar que investir em sustentabilidade é bom negócio. O lançamento do filme revelou uma personalidade diferente do político que, em 2000, perdeu melancolicamente a eleição presidencial para George W. Bush. O homem pouco comunicativo deu espaço a uma figura engajada com causas sociais, simpático e (quase) carismático. Críticos afirmam que a bandeira ambiental tem finalidade política e que ele deve aproveitá-la numa futura candidatura. Qualquer que seja a motivação, o fato é que o alerta de Gore vem sendo cada vez mais ouvido por empresários de todo o mundo. 

Os filantropos
Bill e Melinda Gates e Warren Buffett
Aos 75 anos, o investidor Warren Buffett (à dir.) tornou-se o maior filantropo de toda a história dos Estados Unidos, berço de uma sociedade acostumada a manifestações desse tipo. Em julho de 2006, Buffett doou 85% de seu patrimônio, cerca de 40 bilhões de dólares, a cinco fundações. A maior parte desse dinheiro -- 30 bilhões de dólares -- será destinada à fundação administrada por outro filantropo, Bill Gates, que, ao lado de sua mulher, Melinda, abraçou a causa da melhoria do ensino nos Estados Unidos e a busca da cura para a Aids, a malária e a tuberculose. Com a doação, Buffett deixou para trás pioneiros como os magnatas Andrew Carnegie e John D. Rockefeller -- e tornou ainda mais poderosa a Fundação Bill e Melinda Gates, que já era a mais rica do mundo. 
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