[...]América Latina e o Caribe vivem um grande paradoxo: convivem com a fome apesar de terem alimentos em abundância.
Segurança Alimentar também no contexto brasileiro vai bem mais além do que melhoria de renda para acesso ao alimento. O texto abaixo discorre acerca de um item fundamental. O Brasil tem um enorme elenco de itens fundamentais para a Seg Alimentar para ser um great player. Falta governança social para tanto.
Vale a pena ler e conhecer o assunto.
A quinua e a América Latina
Selvino Heck
Correio Braziliense
Assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência da República
Você sabe o que é a quinua? Sabe que 2013 é o Ano Internacional da Quinua, decretado pela ONU a pedido da FAO, Agência das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação? Eu não o sabia até semanas atrás. Fui descobri-lo na 32ª Conferência Regional da FAO para a América Latina e Caribe, no fim de março, em Buenos Aires, com a presença do novo diretor-geral do órgão, o brasileiro José Graziano.
A quinua é uma planta anual, de folhas e flores dispostas em ramos. Suas sementes, muito abundantes e pequenas, são comestíveis. Seu nome científico é Chenopodium quinoa. Suas folhas, que também são alimentícias, assemelham-se a uma parente próxima, o espinafre. A quinua é uma erva que floresce. Seus galhos crescem entre um e dois metros antes de coroar-se de flores.
Durante sua máxima expansão, o império inca ocupou 2 milhões de km² e governou sobre 20 milhões de pessoas. O alimento predileto de seus habitantes era a quinua. Os incas a chamavam chisaya mama, a mãe de todos os grãos. A quinua selvagem alimentou o pastoreio nos vales da cordilheira andina há 7 mil anos. Há 4 mil anos foi domesticada e incorporada ao consumo humano. Na Bolívia, encontram-se mais de 7 mil ecotipos de quinua, isto é, organismos adaptados a diversos microambientes.
O cultivo e a ingestão de quinua estavam no centro da tradição incaica. Os novos governantes tomaram nota de seu valor simbólico na política, cultura e religião do império derrotado. A estratégia de ocupação incluiu a proibição da semeadura, o comércio e o consumo de quinua.
Mas por que 2013 é o Ano Internacional da Quinua? A Agência Espacial Norte-americana (Nasa) organiza viagens tripuladas ao espaço. Com o êxito do seu programa lunar, projeta dar o seguinte passo: concretizar viagens interplanetárias para continuar avançando na exploração do cosmos. Em seus estudos, diz a Nasa: "Se bem que nenhum alimento em particular pode prover todos os nutrientes essenciais, a quinua é o que mais se aproxima a isso, tanto no reino vegetal quanto no animal".
Os biólogos têm determinado que a quinua é o melhor cultivo do globo terrestre, e que supera em valor nutricional a carne de todos os animais: os que crescem nas granjas, os que pastam nas pradarias, os que nadam no mar e os que voam entre as árvores. A ciência estabeleceu que a quinua é o alimento mais completo do planeta e por isso será a primeira semente plantada no mundo do futuro.
José Graziano, diretor-geral da FAO, disse que a América Latina e o Caribe vivem um grande paradoxo: convivem com a fome apesar de terem alimentos em abundância. É o resultado da desigualdade que tristemente ainda caracteriza o continente. Por isso, é preciso olhar o campo para solucionar o problema da insegurança alimentar. "Cremos que a fome pode e deve ser erradicada. Fomos a primeira região a assumir esse objetivo. Essa iniciativa pertence aos países e deve ser abraçada por todos: governos, parlamentos, iniciativa privada, sociedade civil e academia, porque a luta contra a fome não pode ser só compromisso de um governo. Tem que ser decisão tomada por toda a sociedade. A esse respeito, quero destacar que 2013 foi declarado o Ano Internacional da Quinua e pedir seu apoio à sua realização."
2012 é o ano do Cooperativismo. 2013 será o Ano Internacional da Quinua. 2014 será o Ano da Agricultura Familiar. Os movimentos sociais declararam na III Conferência da Soberania Alimentar, pelos Direitos e pela Vida, prévia à conferência regional da FAO: "A recuperação da autonomia e da soberania alimentar, cultura e política para os povos requer políticas e programas que fomentem a agricultura campesina, familiar e indígena, a pesca artesanal, como garantias para ter acesso a alimentos saudáveis, nutritivos, suficientes e culturalmente apropriados, produzidos por meio da agroecologia. É preciso tornar visíveis e restituir o valor dos saberes campesinos e indígenas para alcançar a soberania e a segurança alimentar". E esse pode ser ou está sendo o tempo da América Latina e do Caribe.
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