45,6 MILHÕES DE DEFICIENTES
EDITORIAL
ESTADO DE MINAS
Censo 2010 do IBGE traz alerta para a necessidade de novas iniciativas
É muito maior do que se pensava o número de brasileiros portadores de algum tipo de deficiência: 45,6 milhões, ou quase um quarto da população. Em Minas, são 4,43 milhões; em Belo Horizonte, 550.997, praticamente a mesma proporção do país, segundo dados do Censo 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Reportagem do Estado de Minas (Gerais, 3/5) desmembrou detalhes da pesquisa por tipo de deficiência, chegando a conclusões impressionantes. Os que declararam ter deficiências visuais somam 33.7 milhões em todo o país, 3, 33 milhões em Minas e nada menos do que 430.328 em Belo Horizonte. São pessoas que disserem não enxergar de modo algum ou só enxergar com dificuldade. Os deficientes auditivos, segundo o Censo 2010, são em menor número, mas ainda assim formam contingente expressivo: 9,7 milhões de brasileiros não ouvem coisa alguma ou têm alguma dificuldade de ouvir. Desses, pouco mais de 1 milhão vivem em Minas e 111,6 mil em BH.
É verdade que algumas medidas têm sido implantadas na cidade para diminuir a dificuldade dessas pessoas, especialmente as que não enxergam. Mas basta uma volta pelas ruas, praças e mesmo locais públicos em companhia de uma delas para constatar que ainda há muito a fazer. E não apenas para diminuir as desvantagens que elas enfrentam em relação aos demais cidadãos com quem dividem a cidade. Orelhões, abrigos de pontos de ônibus, postes, desníveis ou buracos nas calçadas podem fazer parte da paisagem para quem já se acostumou a percebê-los de longe. Mas são verdadeiros tormentos ou perigosas armadilhas para os que não enxergam. A iluminação deficiente que deixa na penumbra, acessos, degraus e bocas de lobo abertas pode causar acidentes com graves consequências para os que enxergam com limitação.
Não têm vida mais fácil os que têm deficiências motoras ou limitações mentais ou intelectuais. E eles também não são poucos. Mais de 13,2 milhões de brasileiros (1,3 milhão de mineiros e 152,7 mil em BH) disseram não conseguir se locomover ou o fazem com grande dificuldade. A existência de um grande número de cadeirantes na cidade tem, na verdade, levado à adoção de medidas para facilitar o acesso dessas pessoas a repartições, supermercados e bancos, por meio de rampas alternativas aos degraus, e com a instalação de elevadores em parte da frota de ônibus. E a BHTrans anuncia que vai reservar cota de 60 unidades entre os 560 novos táxis que serão licitados este mês para veículos especiais adaptados para atender os deficientes.
Notam-se, portanto, iniciativas aqui e ali, que demonstram haver pelo menos um potencial de sensibilidade da população para a situação dos portadores de deficiências, que enfrentam uma desigualdade pela qual não podem ser responsabilizados e que nem de longe os tornam menos detentores do direito à cidadania e a uma vida produtiva. Os números do IBGE assustam, mas não devem intimidar ninguém de boa vontade. Eles devem, sim, ser tomados como ponto de partida para a conscientização de que o tamanho do problema deve ter correspondente senso de responsabilidade de cada um que está fora dessa estatística. É hora de a sociedade brasileira fazer mais do que dar soluções pontuais. É preciso construir uma cultura de solidariedade e de compreensão capaz de ancorar iniciativas amplas, inteligentes e duradouras.
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