quinta-feira, 10 de maio de 2012

Chapeleiro Louco


A GESTÃO EMPRESARIAL E O RELÓGIO DO CHAPELEIRO LOUCO






É possível introduzir na gestão empresarial um encontro imaginário entre Heisenberg, o físico da geração de Einstein, Alice e o Chapeleiro Louco do conto escrito por Lewis Carrol “Alice no País das Maravilhas”.

— Que relógio engraçado é esse o seu que mostra o dia do mês e não a hora do dia, observa Alice.
— E porque deveria? — o Chapeleiro Louco resmungou. Por acaso o seu relógio diz o ano que é
— Claro que não, mas é porque o ano permanece o mesmo por muito tempo, responde Alice.
— É este exatamente o caso do meu, a hora custa a passar, disse o Chapeleiro. 

Diante da interjeição de Alice, o físico Heisenberg esclarece.
— De fato, minha cara Alice, é impossível precisar sobre o funcionamento de qualquer coisa porque a sua constituição interna interfere e modifica as observações, seja qual for o instrumento (ou o relógio) utilizado.
— Mas isso somente acontece porque você observa as coisas como elas são e não como elas não são, mas que poderiam ser, retrucou Alice.

A conclusão de Alice encerra a essência da gestão empresarial “as coisas não precisam ser como são, elas podem ser como não são”. Nos últimos anos, cerca de sete milhões e meio de pessoas saíram da miséria e o crédito ao consumo passou de trinta e cinco bilhões de reais para cento e cinqüenta bilhões, um incremento de trezentos por cento. Poucos empresários perceberam o tanto que mudou, pois eles não acreditavam que as coisas podiam ser como não eram. E a condição para que isso seja verdadeiro é muito simples, basta o firme compromisso de querer mudar.


A partir desse conceito, a gestão empresarial pode se entendida em três partes constituintes: a organização das coisas que se quer, a eficiência alocativa dos recursos e o monitoramento dos processos de transformação.

A organização das coisas que se quer é a parte primeira e identifica o que as coisas não são e determina o que elas poderão ser. Ou seja, é o momento no qual o empresário ou o gestor imagina o que quer, compõe os arranjos de parcerias, firma o compromisso com as mudanças, modela os novos processos e determina as novas diretrizes. O problema mais difícil a ser superado nessa primeira parte é sair do quadrado, conseguir ver as coisas como elas não são, como elas poderão ser. É ter vontade de mudar o relógio, de inovar continuamente e aprender a capturar o futuro, mesmo que lá longe na incerteza.

A segunda parte da gestão empresarial é a eficiência alocativa dos recursos necessários à implementação de mudanças. Os recursos aqui referidos podem ser materiais ou imateriais, como por exemplo, a formação de uma cultura empreendedora, o espírito de coletividade, o compromisso em fazer a diferença, a formação de lideranças, promover o entusiasmo, a capacitação humana ou a simples mudança de uma instrução normativa. É uma etapa difícil, mas não é a mais difícil. Os seus três maiores problemas para vencê-la são a escassez dos recursos, a burocracia para adquiri-los e a vontade de não os ter. Muitas vezes a ordem é invertida.

Processar os recursos em cada uma das atividades da empresa é a terceira parte da gestão. É uma tarefa difícil que poucos conseguem alcançar. Significa a conquista do conhecimento, quando as pessoas realmente conseguem ter capacidade de analisar e interpretar particularidades e gráficos, de avaliar como os recursos estão sendo incorporados pela empresa, calcular os custos implicados e garantir que as transformações estejam sendo realizadas. É quando os gestores examinam que metas estão sendo superadas e a que custos, monitoram horas trabalhadas, despesas pendentes, orçamentos a executar, clientes a serem atendidos e vários outros indicadores. Em resumo, processar os recursos é avaliar se as coisas estão realmente se transformando e como isto está ocorrendo. O principal problema dessa parte está na própria estrutura interna que está sendo observada, que interfere e mesmo paralisa a gestão e que falseia o que não mudou. Uns chamam essa distorção de indeterminação de Heisenberg. O texto chama de o relógio do Chapeleiro Louco, que mostra o dia do mês e não a hora do dia.

A conclusão é que o diálogo entre Heisenberg, Alice e o Chapeleiro Louco não é tão imaginário quanto se pensa, pois ele se repete invariavelmente nas empresas que planejam mudar, que querem fazer a diferença, que pretendem ser referência no que fazem. Com certeza existem diferentes relógios: uns que concorrem com a noção de mudar e outros com a de falsear o que não mudou, de continuar a observar as coisas como elas são e não como elas não são, mas que poderiam ser. É preciso acreditar que as coisas podem ser diferentes e muita coisa já mudou.
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