segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Oração para 2013... e sempre




Senhor Deus, dono do tempo e da eternidade,
teu é o hoje e o amanhã, o passado e o futuro.
Ao acabar mais um ano, quero te dizer obrigado
por tudo aquilo que recebi de Ti.
Obrigado pela vida e pelo amor, pelas flores, pelo ar
e pelo sol, pela alegria e pela dor,
pelo que é possível e pelo que não foi.
Ofereço-te tudo o que fiz neste ano, o trabalho
que pude realizar, as coisas que passaram pelas minhas mãos
e o que com elas pude construir.
Apresento-te as pessoas que ao longo destes meses amei,
as amizades novas e os antigos amores,
os que estão perto de mim e os que estão mais longe,
os que me deram sua mão e aqueles que pude ajudar,
os com quem compartilhei a vida, o trabalho, a dor e a alegria.
Mas também, Senhor, hoje quero Te pedir perdão.
Perdão pelo tempo perdido, pelo dinheiro mal gasto,
pela palavra inútil e o amor desperdiçado.
Perdão pelas obras vazias e pelo trabalho mal feito,
perdão por viver sem entusiasmo.
Também pela oração que aos poucos fui adiando
e que agora venho apresentar-te, por todos meus olvidos,
descuidos e silêncios, novamente te peço perdão.
Nos próximos dias começaremos um novo ano. Paro
a minha vida diante do novo calendário que ainda não se iniciou
e Te apresento estes dias,
que somente Tu sabes se chegarei a vivê-los.
Hoje, Te peço para mim, meus parentes e amigos, a paz e a alegria,
a fortaleza e a prudência, a lucidez e a sabedoria.
Quero viver cada dia com otimismo e bondade,
levando a toda parte um coração cheio de compreensão e paz.
Fecha meus ouvidos a toda falsidade e meus lábios a palavras
mentirosas, egoístas ou que magoem.
Abre, sim, meu ser a tudo o que é bom.
Que meu espírito seja repleto somente de bênçãos
para que as derrame por onde eu passar.
Senhor, a meus amigos que lêem esta mensagem,
enche-os de sabedoria, paz e amor. E que nossa amizade dure
para sempre em nossos corações.
Enche-me, também, de bondade e alegria, para que
todas as pessoas que eu encontrar no meu caminho
possam descobrir em mim um pouquinho de Ti.
Dá-nos um ano feliz, e ensina-nos a repartir felicidade.
Assim seja!

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Recomeço


AÉCIO NEVES
FOLHA DE SP 


Hoje deixamos 2012 para trás e saudamos o ano que se inicia. O que dizer em uma data como esta, que seja diferente dos lugares comuns -ainda que sinceros- em que nos colocamos para desejar paz, saúde e alegrias àqueles que amamos? Um novo ano sempre traz consigo um valioso presente: nos oferece a oportunidade de retomar projetos e sonhos que tantas vezes são adiados pelas circunstâncias e acabam esquecidos, à espera de novos recomeços. Dos necessários recomeços que tornam a vida e seus ciclos uma verdadeira dádiva.

De certa forma podemos considerar que o país também recomeça com o início dos mandatos de mais de 5.000 prefeitos eleitos e reeleitos, que inauguram novas jornadas na base da administração pública brasileira. Muitos ainda não sabem, mas serão desafiados e terão a responsabilidade de mudar o curso daquele que é, seguramente, o maior problema do Brasil contemporâneo, disseminado por diferentes esferas do poder público: a crônica doença da ineficiência do Estado brasileiro.

Este enfrentamento parece ser cada vez mais inevitável, não só porque o cenário adiante é muito difícil -baixíssimo crescimento, inflação em alta e minúsculo investimento público-, mas também em função do crescente movimento de transferência de responsabilidades administrativas a Estados e municípios, enquanto o governo central concentra mais recursos, poder e bate novos recordes de arrecadação.

Tudo isso se soma a um volume inédito de críticas e cobranças dos cidadãos, cansados da repetição dos escândalos e do desperdício de recursos preciosos que dramaticamente faltam em áreas essenciais à vida das pessoas.

Ensaia-se no país um novo protagonismo dos cidadãos, que têm tudo para ocupar amplos espaços vazios na vida nacional, substituindo importantes atores sociais que se misturaram aos interesses do governismo e, desde então, mantêm um constrangedor silêncio obsequioso.

Em que pese o cenário negativo, o início de um ciclo de governança sempre carrega o precioso ativo da esperança. E a grande esperança dos brasileiros é que sejam dadas respostas a essas contradições de fundo, como o aparelhamento partidário da administração pública e o compadrio, a ineficiência dos serviços prestados, os desvios e a corrupção endêmica. O país tem a preciosa oportunidade de, a partir de nossas cidades, substituir estas práticas por outros valores e paradigmas, como a profissionalização do serviço público, a adoção da meritocracia que respeita o bom servidor, a qualidade dos gastos e um rigoroso controle de resultados.

Neste sentido -e a partir do importante processo de renovação que se iniciou nas urnas-, o Brasil que recomeça amanhã merece as nossas melhores esperanças.
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A década perdida

Uma radiografia sensata e realista da omissão da cidadania na fiscalização da coisa pública.

A década perdida

MARCO ANTONIO VILLA
O Estado de S.Paulo 


A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 foi recebida como um conto de fadas. O País estaria pagando uma dívida social. E o recebedor era um operário.

Operário que tinha somente uma década de trabalho fabril, pois aos 28 anos de idade deu adeus, para sempre, à fábrica. Virou um burocrata sindical. Mesmo assim, de 1972 a 2002 - entre a entrada na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e a eleição presidencial -, portanto, durante 30 anos, usou e abusou do figurino do operário, trabalhador, sofrido. E pior, encontrou respaldo e legitimação por parte da intelectualidade tupiniquim, sempre com um sentimento de culpa não resolvido.

A posse - parte dos gastos paga pelo esquema do pré-mensalão, de acordo com depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público - foi uma consagração. Logo a fantasia cedeu lugar à realidade. A mediocridade da gestão era visível. Como a proposta de governo - chamar de projeto seria um exagero - era inexequível, resolveram manter a economia no mesmo rumo, o que foi reforçado no momento da alta internacional no preço das commodities.

Quando veio a crise internacional, no final de 2008, sem capacidade gerencial e criatividade econômica, abriram o baú da História, procurando encontrar soluções do século 20 para questões do século 21. O velho Estado reapareceu e distribuiu prebendas aos seus favoritos, a sempre voraz burguesia de rapina, tão brasileira como a jabuticaba. Evidentemente que só poderia dar errado. Errado se pensarmos no futuro do País. Quando se esgotou o ciclo de crescimento mundial - como em tantas outras vezes nos últimos três séculos -, o governo ficou, como está até hoje, buscando desesperadamente algum caminho. Sem perder de vista, claro, a eleição de 2014, pois tudo gira em torno da permanência no poder por mais um longo tempo, como profetizou recentemente o sentenciado José Dirceu.

Os bancos e as empresas estatais foram usados como instrumentos de política partidária, em correias de transmissão, para o que chamou o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, de "projeto criminoso de poder", quando do julgamento do mensalão. Os cargos de direção foram loteados entre as diferentes tendências do Partido dos Trabalhadores (PT) e o restante foi entregue à saciedade dos partidos da base aliada no Congresso Nacional. O PT transformou o patrimônio nacional, construído durante décadas, em moeda para obter recursos partidários e pessoais, como ficou demonstrado em vários escândalos durante a década.

O PT era considerado uma novidade na política brasileira. A "novidade" deu vida nova às oligarquias. É muito difícil encontrar nos últimos 50 anos um período tão longo de poder em que os velhos oligarcas tiveram tanto poder como agora. Usaram e abusaram dos recursos públicos e transformaram seus Estados em domínios familiares perpétuos. Esse congelamento da política é o maior obstáculo ao crescimento econômico e ao enfrentamento dos problemas sociais tão conhecidos de todos.

Não será tarefa fácil retirar o PT do poder. Foi criado um sólido bloco de sustentação que - enquanto a economia permitir - satisfaz o topo e a base da pirâmide. Na base, com os programas assistenciais que petrificam a miséria, mas garantem apoio político e algum tipo de satisfação econômica aos que vivem na pobreza absoluta. No topo, atendendo ao grande capital com uma política de cofres abertos, em que tudo pode, basta ser amigo do rei - a rainha é secundária.

A incapacidade da oposição de cumprir o seu papel facilitou em muito o domínio petista. Deu até um grau de eficiência política que o PT nunca teve. E o ano de 2005 foi o ponto de inflexão, quando a oposição, em meio ao escândalo do mensalão, e com a popularidade de Lula atingindo seu nível mais baixo, se omitiu, temendo perturbar a "paz social". Seu principal líder, Fernando Henrique Cardoso, disse que Lula já estava derrotado e bastaria levá-lo nas cordas até o ano seguinte para vencê-lo facilmente nas urnas. Como de hábito, a análise estava absolutamente equivocada. E a tragédia que vivemos é, em grande parte, devida a esse grave erro de 2005. Mas, apesar da oposição digna de uma ópera-bufa, os eleitores nunca deram ao PT, nas eleições presidenciais, uma vitória no primeiro turno.

O PT não esconde o que deseja. Sua direção partidária já ordenou aos milicianos que devem concentrar os seus ataques na imprensa e no Poder Judiciário. São os únicos obstáculos que ainda encontram pelo caminho. E até com ameaças diretas, como a feita na mensagem natalina - natalina, leitores! - de Gilberto Carvalho - ex-seminarista, registre-se - de que "o bicho vai pegar". A tarefa para 2013 é impor na agenda política o controle social da mídia e do Judiciário. Sabem que não será tarefa fácil, porém a simples ameaça pode-se transformar em instrumento de coação. O PT tem ódio das liberdades democráticas. Sabe que elas são o único obstáculo para o seu "projeto histórico". E eles não vão perdoar jamais que a direção petista de 2002 esteja hoje condenada à cadeia.

A década petista terminou. E nada melhor para ilustrar o fracasso do que o crescimento do produto interno bruto (PIB) de 1%. Foi uma década perdida. Não para os petistas e seus acólitos, claro. Estes enriqueceram, buscaram algum refinamento material e até ficaram "chiques", como a Rosemary Nóvoa de Noronha, sua melhor tradução. Mas o Brasil perdeu.

Poderíamos ter avançado melhorando a gestão pública e enfrentado com eficiência os nossos velhos problemas sociais, aqueles que os marqueteiros exploram a cada dois anos nos períodos eleitorais. Quase nada foi feito - basta citar a tragédia do saneamento básico ou os milhões de analfabetos.

Mas se estagnamos, outros países avançaram. E o Brasil continua a ser, como dizia Monteiro Lobato, "essa coisa inerme e enorme".
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Crescer ou crescer


PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O GLOBO

Fundamental é, sem dúvida, o crescimento econômico


O ano de 2012 termina com uma grande decepção: o baixo crescimento econômico do Brasil. Pelo segundo ano consecutivo, a economia cresceu a taxas medíocres e até agora não há sinais convincentes de retomada da atividade no seu conjunto. Aqui e ali, apareceram alguns sinais positivos, mas chegamos ao fim do ano sem a superação inequívoca do quadro de semiestagnação.

Não era o que se esperava. O governo reviu para baixo diversas vezes as suas projeções de crescimento ao longo do ano. A maioria dos analistas previa o começo da recuperação para o segundo semestre, mais tardar último trimestre do ano. O “staff” do FMI, por exemplo, esteve no Brasil e preparou relatório prevendo a recuperação no curto prazo.

Uma das razões desse consenso era a percepção de que certas medidas de estímulo adotadas pelo governo teriam de produzir efeito antes do fim do ano. Entre essas medidas, se destaca a diminuição das taxas de juros. Desafiando a sabedoria convencional, a Fazenda e o Banco Central trabalharam de modo coordenado para viabilizar uma queda sem precedentes dos juros no país — mas o crescimento não veio, pelo menos não de imediato.

Não quero dizer que a queda das taxas de juros não tenha sido de grande importância. Ela contribuiu para depreciar o real, ajudando a corrigir uma distorção que minava a competitividade externa da economia. Além disso, juros menores têm importante efeito positivo sobre o custo da dívida do governo. E, como o setor público é credor líquido em moeda estrangeira, a desvalorização cambial também afetou positivamente as finanças públicas. Com o novo patamar de juros e câmbio, diminuiu consideravelmente o superávit primário requerido para estabilizar a relação dívida pública/PIB. Diminuiu também o custo de carregamento das volumosas reservas do país.

Tudo isso é muito bom, mas o fundamental é o crescimento econômico. Para um país em desenvolvimento como o Brasil, com longo caminho a percorrer, não há opção: é crescer ou crescer. Somos a sexta ou sétima maior economia. Mas em termos de renda por habitante estamos ainda muito atrás dos países avançados. Sem crescimento a taxas elevadas, não há como melhorar de forma sustentada a qualidade e o nível de vida da população. Não há como erradicar a pobreza em que ainda vive boa parte dos brasileiros.

Políticas sociais, de cunho distributivo, são indispensáveis. Muito pode ser alcançado em desenvolvimento social com políticas desse cunho, como mostra a experiência brasileira nos últimos dez anos. Mas não se pode ter ilusões: no longo prazo, o que realmente faz diferença é o crescimento. E crescimento de longo prazo implica aumento do investimento e da produtividade.

Com crescimento medíocre tudo fica mais complicado. Sofre a geração de empregos e renda. O ajustamento das contas públicas se torna mais difícil. Os conflitos se intensificam. O horizonte se estreita.

O crescimento não é solução para tudo, mas sem crescimento não há solução para nada.
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Debret, defendendo o meu...cumpadi!!







Breves considerações acerca de involução social.



Escrever para mim vem se tornando um spa mental. Ver o lápis deslizando no papel, ou as letras logo após o teclar tem me feito bem, ao mesmo tempo que me sinto útil. Então,  raiar do terceiro ano da segunda década do século XXI vejo-me compelido a escrever para descrever o que penso, do que vi, de cenas cotidianas mas que estão, cada vez mais, preocupantemente pitorescas.

Quisera que o conceito pictorial de nossa sociedade fosse reforçado com bons valores, caso não possível, pelo menos com algo de palatável à coerência do bem-viver social, onde demais sociedades ao nos provar não nos veja como estranhamente aspirantes ao primeiro mundo, todavia com hábitos semi-trogloditas.

Talvez o troglodita seja pesado, reconheço. Contudo venho observando algumas contendas entre cidadãos "defendendo o deles" nas ruas vejo que o senso comum, sobretudo a preocupação com outrem, com o coletivo e público não prevalece. A perspectiva introjetada, goela abaixo, por nossa mui leniente Constituição de 1988, onde os "inalienáveis direitos individuais" prevalecem sobre o bem público, o bem-estar coletivo. O limite individual DEVA ser onde o limite de outrem começa. Pelo menos esse era o mantra ensinado por minha mãe em minha tenra infância.

Falar de coisas não lúdicas, pouco oníricas, no último dia do ano é lasca. Chá de boldo pré-congestão carregada de culpa. Ninguém gosta. Entretanto não que eu não goste do senso comum, tampouco chego ao exagero de Nelson Rodrigues que asseverava que "toda unanimidade é burra". É bem certo que por vezes é o que percebo, notadamente ao ver motos costurando carros em deslocamentos, proibidos por lei mas aceitos, tacitamente, pela sociedade, e com elas vários acidentes, várias furadas de fila nos postos de saúde em emergência -ademais, o idoso que chega às cinco da manhã na fila entende que sua vez será passada para um irresponsável motoqueiro com membros quebrados, peles estraçalhadas etc e com uma ENORME despesa no SUS onde a fatura final irá, inexoravelmente, para a conta de políticos corruptos. Essa miopia perceptiva não será corrigida jamais. Daí meus pendores a concordar, de vez em quando, com Nelson Rodrigues.

Sim, amigos, essas divagações introdutórias são deliciosas, sobretudo quando ainda não embaladas por um bom vinho de fim de ano. A sensação de inspiração lírica fica mais genuína (talvez eu considere mudar essa palavra para não passar a idéia de simpatia mensaleira, enfim...)

Tais prolegômenos servem para antecipar um texto que dará barra de rolagem pequena, ou seja, será longo. Contudo, são divagações que podem, de chofre, ir para a lixeira a um clique da mouse.

Debret, intelectual e artista francês, caricaturou nossa sociedade com um afresco quando retratou um senhor carioca, mijando na parede de uma ruela com um negro escravo com uma sombrinha a lhe proteger do sol. ( Jean Baptiste Debret, Viagem pitoresca e histórica ao Brasil) Para quem quiser busque no google a capa do livro A nação mercantilista, diga-se de passagem, excelente livro, e entenderá o que digo. 

Retratava ele o comportamento do Brasil colônia. Mijar na parede ou poste não era afeto, apenas, a cães. Imagine-se o ambiente no qual a dengue proliferou ao chegar no país vinda da Rep Dominicana. Saneamento talvez fosse apenas nas casas mais nobres. Nas ruas eram excrementos colhidos em vasos e jogados janela fora, com eventual aviso, eventual mesmo, por vezes as escravas nem olhavam janela para fora. Aquele misto de fezes e urina espatifava-se nas ruas e lá ficavam até secar pelo sol e calor escaldantes. Melhor ambiente para proliferação de fungos, bactérias e demais micro-organismos perniciosos não havia.

Evoluímos até o segundo ano da segunda década do século XXI, o século onde, de acordo com os Jetsons, deveríamos ter carros voando, empregadas robôs e tele-transportação física. Deparo-me nas cidades onde passo que o mijadinha na árvore ou nas paredes já é lugar comum, e a vista dos demais transeuntes que já não se importam. Conseguimos, com nossa morena e irresponsável idiossincrasia social, involuir. Faça-se justiça, o que evoluiu foi a condição humana do escravo. Os direitos humanos deram dignidade aos negros. A visibilidade, contudo, está tanta que há uma comissão no Congresso Nacional que quer fazer com que a sociedade expie tais pecados cometidos quatrocentos anos antes. Querem nos impor, goela abaixo, uma indenização moral de 4 trilhões de reais a título compensatório a todo e qualquer descendente de escravo. A comissão existe, a mamata tem que ser institucionalizada. Como vamos, com 1,1 trilhão de PIB, em esforço máximo de produção com uma vexatória infra-estrutura, eu não sei, mas que é objetivo de vida dos espertos, lá isto é.

De paredes, postes de árvores venho constatando uma involução significativa, dentre elas após carreatas e muita bebida, presencio em minhas caminhadas moças acocorando-se para fazer xixi em cantinhos improvisados entre carros estacionados. Ontem mesmo, ao descer com meus cachorros, cinco da manhã, deparei-me com uma jove suspendendo a saia, apoiada pelo namorado, e na esquina de minha casa, ambos vendo-me passar, elas despejou o excesso de bebidas acumuladas na bexiga. Um dantesca cena. Lamentei por sua vestimenta cara, por sua maquiagem cara já em petição de miséria e um casal, ao amanhecer, representando-me toda evolução social guardada somente para a geração Y, tão celebrada por consultores. 

Nas calçadas da praia de Boa Viagem, ao caminhar estes dias, tive que desviar-me, a cada cem metros, de carroceiros conduzindo cadeiras de praia. Deveriam estar na rua devido a seu veículo, entretanto passeiam livremente, acuando transeuntes, nas calçadas. Junto a este "féretro" da ética social e cidadã, caminhões em petição de miséria, fazem parte do circo de horrores de apoio logístico, parando e empatando o trânsito, para distribuir gelo, cadeiras, cervejas, etc etc. Tudo tudo sem recolher impostos tampouco o lixo a sua volta, ao fim do dia. Barraqueiros defendem o dele sem recolher impostos, "informais" (tenho bronca de neologismos politicamente corretos e socialmente irresponsáveis) levam para casa uma gorda "féria".

Ontem presenciei algo horripilante. Um casal aguardando no sinal para atravessar a rua, ambos falando ao celular (acesso a tecnologia - gostaria que Castells e a sociedade do futuro socialmente responsável, de acordo com suas ilações em "A sociedade em rede" presenciasse um contraponto cartesiano, pragmático, a sua visão onírica de mundo europeu.) enquanto uma filha pequena, em torno de cinco anos, apoiava uma outra filha menor, em torno de dois anos, para que esta tirasse a fralda, fizesse coco na calçada com os pais complacentemente falando ao celular e presenciando. Após o "serviço" o bebe vestiu a fralda ante a meu espanto e cruzaram serelepemente a rua passando por dois guardas municipais, que com eu, presenciaram a cena. Nada fizeram, tampouco uma mera observação ainda que jocosa para ver se o casal se tocava. Nada, nadinha, nadica.

Uma das coisas ruins que atribuo a ascensão da esquerda ao poder (não sou de direita, não gosto de política, entretanto a esquerda vendeu uma imagem, ao longo dos últimos trinta anos, que não pratica, demagógica como sempre) é a sensação objetiva de permissividade, e a impunidade decorrente, que o cidadão tem. Ele faz na certeza de que nada lhe acontecerá. A noção morena e irresponsável de "justiça social" imposta por esta esquerda anacrônica, é leniente com esses absurdos e pesada com quem ganha bem, fruto de esforços e recolhimento de impostos enquantos os "informais" são tolerados, quando não celebrados.

Prefiro caminhar ao por do sol, contudo, ante ao fortíssimo cheiro de urina e cerveja, além de cenas degradantes no calçadão, aliado ao trânsito das infernais carroças em recolhida, captulo, preferendo o frescor da manhã. Ledo engano se achava ser mais serena e tranquila, ontem e hoje presenciei discussões de "comerciantes informais" defendendo o seu em dicussões agredindo, sobretudo, a língua mãe, também diante de homens representando a Lei. De tão normal ninguém mais se importa. Ao seguir para a quitanda encerrei, pelo menos assim espero, a cota de perplexidade ao deparar com uma inusitada discussão. Dois idosos prepararam banquinhos com isopores de cerveja, nas ruas de um cruzamento. Claro está que os banquinhos estavam nas ruas e os isopores impedindo a circulação da calçada. Presenciei o esforço de um jovem guarda municipal procurando impedir. O reforço que ele pediu chegou em duas motos. Ambos desceram e começaram a retirar os banquinhos aos brados de um dos idosos: "Isto é um absurdo, isto é truculência, é arbitrário!!  (a esquerda e sindicatos devem ter falado tanto estas palavras ultimamente que acho que se perguntaram eles não devem saber, apenas repetem) Tô defendendo o meu, cumpadi!!

Enfim, pensara em desejar aos amigos um alegre e serelepe ano de 2013. Vejo, entretanto, também ser prudente e cristão desejar CUIDADO!! Tenham muito cuidado em 2013, pois teremos crise de gás devido a leniência governamental, crise energética devido a quase quarenta por cento de fios estarem e petição de miséria causando apagões e despesas não ressarcíveis com eletrônicos, aumento da exclusão de postos de trabalho e substancial aumento de informais e com este a violência e desrespeito. 

Nossa percepção do que é certo, ético e legítimo está seriamente comprometida, portanto, ser abordado ou apanhar de um informal, ou  motoqueiro nas ruas é uma perspectiva bastante realista. Ontem vi a lateral de um Duster ser maldosamente arranhada por uma carroça com o condutor dizendo..."Ele tem dinheiro, conserta logo..."

Fico imaginando um diálogo imaginário entre Debret e Nostradamus. Debret, meu infante, este país estará muito pior no futuro!! Ao que o francês retrucaria: "Velho louco, todas sociedades evoluem. O Brasil, muito por certo, estará bem melhor e evoluído no futuro.

Tristes trópicos!!

Ainda assim, Feliz 2013, amigos leitores que tiveram paciência de chegar até o fim.
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PARA ONDE ESTAMOS INDO, MESMO?






VICKY BLOCH


Imagine um avião lotado, comandado por um piloto que não lembra mais o destino de pouso nem fala o idioma da tripulação. É esse cenário que a consultora Vicky Bloch diz encontrar em várias empresas. Há mais de 35 anos ela ajuda altos executivos a refletir sobre as motivações no trabalho, ajudando-os a melhorar a performance por meio do autoconhecimento. O problema atual é que a falta de propósito se alastrou feito uma epidemia em todos os níveis de uma organização. 

Hoje em dia se fala muito em escassez de talentos no Brasil. O que falta para os líderes locais? 
O que falta é um sentido no trabalho. As pessoas estão infelizes. A gente perdeu a relação com a missão, com a causa do que estamos fazendo. Nos primórdios das cavernas, trabalhar significava resolver as necessidades da sociedade. Um cuidava de matar, outro de cozinhar, e a satisfação me parece que tinha a ver com você ter um papel nesse processo. Mesmo na industrialização, quando tinha um capataz que dizia o que você devia fazer, o trabalho resultava em um produto, como um carro, que é um meio de locomoção. Acho que as pessoas se viam realizadas. Hoje, principalmente quando se fala de liderança, não tem mais uma causa. Perdeu-se essa relação de troca com a sociedade. Não é o talento que está escasso. As pessoas não emburreceram. O que elas não têm mais é um vínculo que faz com que entreguem um trabalho diferenciado.

Qual a origem dessa infelicidade e falta de sentido? 
Do ponto de vista macro, é o sistema, que exige que você entregue resultados a qualquer custo. Esse qualquer custo acaba se refletindo nas relações com a equipe. Você não vai mais para o trabalho com prazer, para resolver uma equação que tem a ver com a melhoria da sociedade. A relação com seus subordinados é permeada por esse jeito de não gostar do trabalho que faço.


Então o problema de relacionamento com a equipe é a principal consequência dessa falta de vínculo com o trabalho? 
Acho que sim. Muitos gestores são encaminhados para treinamento por causa disso. Muitas vezes a pessoa ainda não sabe orientar, só comandar. Eu pergunto: ‘Você gosta do que faz? Está fazendo isso por quê?’. A dificuldade em responder é enorme. ‘Faço isso porque sou gerente.’ ‘Não, não é isso que estou perguntando. Quero saber se trabalho para você é uma coisa bacana?’ Tento ver se ele tem clareza de causa e missão. E poucos têm isso. Hoje, as empresas promovem pessoas de 30 anos para cargos de diretoria sem avaliar se estão preparadas. Não se pode promover apenas por uma questão técnica. É preciso avaliar a maturidade pessoal.

O que os gestores deveriam fazer diferente? 
Quando você fica responsável por outras pessoas, é uma opção de cidadania, não de trabalho. Está falando para o funcionário de sua equipe que vai cuidar dele. Para isso, deve aprender a falar e a ouvir. Mas com 30 anos, muitas vezes, o cara não sabe conversar abertamente nem com a mulher dele, como vai fazer diferente no ambiente profissional? Ouvir não significa apenas escutar o que a pessoa está falando. Mas prestar atenção em sua expressão física, o olhar... A relação com os subordinados é a zona de liberdade do gestor. A empresa não diz como você tem de fazer. É ali que o líder pode fazer a diferença – para o bem, ajudando a crescer, ou para o mal, bloqueando o crescimento.

Se o significado do trabalho não está claro, o que motiva os profissionais hoje? 
O pensamento de que têm de fazer, ou têm de ser pessoas bem-sucedidas. Aí o funcionário vai subindo na organização e o que leva para casa é a grana e o status. Mas não leva o prazer, o orgulho de ser um médico, um professor ou um gestor.

O propósito não pode ser simplesmente ganhar dinheiro? 
Sim, é legítimo. A medida é: está feliz? É o que importa. 
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2012, o ano que não terminou


GAUDÊNCIO TORQUATO
O Estado de S.Paulo


Nenhum homem, por maior esforço que faça, pode acrescentar um palmo à sua altura e alterar o pequeno modelo que é o corpo humano. Não fosse tal preceito sagrado da Escritura, o Brasil seria forte candidato a demonstrar que o extraordinário feito de mudar a anatomia humana é algo corriqueiro nos laboratórios da nossa engenharia genética. Basta anotar a conjunção de coisas espetaculares que se anunciam como inequívoco sinal de que o País lidera a vanguarda do desenvolvimento mundial e goza as delícias do Éden. Essa é a visão que se extrai das autoridades que comandam nossa economia ao fazerem um balanço das conquistas, na esteira de uma versão comum aos governantes que, em fins de ano, costumam transmitir esperança e crença no futuro da Nação. Como pano de fundo, um inevitável painel de realizações. O desenho é uma composição estrelada sob abóbada de anil, sem nesga de nuvem a turvar os céus. Como o Brasil é um país aproximativo, lembrando o embaixador Gilberto Amado, podemos encaixar o Hosana na ópera natalina das fantasias, onde não faltam Papais Noéis com magníficos presentes para nos convencer de que o momento é propício às versões mais exageradas.

Para começar, a impressão que faz cócegas em nossa mente é a de que o ano não terminou. Apreciável parcela de metas previamente acertadas deixou de ser cumprida, entrando no torvelinho de postergações, tergiversações e elucubrações. Muitos compromissos vão bater à porta das calendas. Não se trata de constatar que o cumprimento de penas de condenados do mensalão foi protelado. Nesse compartimento o bom senso até predominou, eis que ordenar prisão sem obediência rigorosa à liturgia processual seria um viés indesejável e causaria danos à imagem da instituição judiciária. Aliás, os passos mais avançados do País se deram na trilha do Judiciário, mais precisamente na esfera da Suprema Corte, que cumpriu de modo altaneiro seu papel, obedecendo ao ritual regrado por princípios de transparência, respeito aos contrários, independência e sintonia com a letra constitucional. Não é, pois, nessa vertente que se aduz sobre o capítulo de coisas inacabadas. As defasagens contabilizadas no ano são particularmente gritantes na frente da gestão, ao escancararem um conjunto de obras paralisadas, falta de estímulos aos investimentos, desorganização das estruturas administrativas e excessiva concentração de poder nas mãos da presidente, entre outros entraves. Ademais, pareceu imperar a concepção errática de que um Estado grande, forte e ativo é a ferramenta adequada para substituir a engrenagem privada na estratégia de alocar recursos para a vida produtiva. (O termo privatização ainda integra o rol de pecados originais assinalados no índex de condenações do velho petismo.)

Os troféus triunfalistas são exibidos: as políticas de transferência de renda e de aumento do emprego, a queda da taxa de juros, a manutenção da estabilidade dos preços, a depreciação do real, os subsídios a programas como o Minha Casa, Minha Vida, entre outros, como se fossem suficientes para tirar o País do marasmo. Não se nega o efeito que esse pacote produz nos índices de popularidade do governo e na ótima avaliação da mandatária. Viu-se o esforço continuado para estreitar as bases da pirâmide social. Outras frentes, porém, clamam por urgência: os buracos na infraestrutura e a ausência de estímulos para a indústria melhorar seus níveis de inovação e produtividade. O sistema produtivo faz queixas. Pesquisa da CNI acaba de mostrar as notas que os empresários atribuem à áreas básicas: educação (7,08), vindo à frente de tributação (6,6), infraestrutura (6), inovação (5,29), relações de trabalho (5,28), ambiente macroeconômico (4,82), eficiência do Estado (4,53), segurança jurídica e burocracia (4,33). As fendas no cercado do desenvolvimento social se somam aos desajustes no território legislativo. A sensação de que o ano deixa muito a desejar se reforça pela reversão de expectativas na área da reforma política. A frustração emerge quando se compara a dinâmica social, caracterizada por correntes vibrantes, com a estática da política.

O estágio civilizatório de setores e grupos atinge graus elevados. O Brasil desfralda bandeiras de cidadania conduzidas com firmeza pelos mais plurais núcleos de gêneros, categorias profissionais e entidades não governamentais. Pulsa vibração pelos corredores institucionais, onde a sociedade bate bumbo em defesa de demandas. Expande-se um sentimento de Pátria, na corrente que arrasta uns e outros em torno do esforço coletivo pela dignificação nacional. O patriotismo, sagrado valor maltratado por borrascas dos interesses venais, volta a animar o espírito nacional. Nos termos usados por José Ingenieros em O Homem Medíocre, começa-se a distinguir "um conceito de Pátria, implícita na solidariedade sentimental do povo, e não na confabulação de politiqueiros que medram à sua sombra". E em que ancoradouro desaguarão as correntes de águas límpidas? Na fonte dos anseios por uma nova política. Que começa a se fazer presente no acompanhamento de práticas e costumes de governantes e representantes, na renovação de quadros municipais, enfim, no expressivo ingresso de perfis mais jovens na arena institucional.

Espraia-se o sentimento de que o copo da política poluída transborda. Há visível descompasso entre dois Brasis, o que abre os olhos e o que dorme em berço esplêndido. De um lado se posta um cidadão exigente, um eleitor crítico, um consumidor de serviços consciente, ao lado de um grupamento ainda amarrado ao tronco da secular árvore do patrimonialismo. A esperança é que a força da racionalidade consiga inundar os pulmões da sociedade com o oxigênio de novos padrões. E que todos, margens, centro e topo, possam proclamar, a uma só voz, o brado do profeta Zaratustra: "Novos caminhos sigo, nova fala me empolga; como todos os criadores, cansei-me das velhas linguagens. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas".
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domingo, 30 de dezembro de 2012

Desejos




HUMBERTO WERNECK
O Estado de S.Paulo 


Muito perguntador, o cronista quis saber o que se quer de 2013 - e traz aqui um pouco do que veio nessa rede.

A Wanda quer andar mais descalça.

A Adélia pede aos céus, com e sem maiúscula: quer tomar mais chuva.

A Ana, além de andar descalça e tomar chuva, gostaria de fazê-lo em companhia de um príncipe que nem precisa ser encantado, bastando ser encantador.

O Oliveira faz saber que pretende dar, e amiúde, o melhor de si em 2013 e nos anos todos a que tiver direito.

A Rô também quer dar o melhor de si, e amiúde - mas sem ter que dividir a conta do jantar.

A Angélica vai dar alta ao analista, com quem está prestes a completar bodas de prata - e se casar de novo.

O palmeirense Júlio pede forças para atravessar um ano que, num sentido ao menos, não será de primeira.

O que o Eugênio Bucci mais deseja em 2013 é desejo. "Um pouco mais de liberdade, sobretudo à tarde", rima ele, "além de teoria, filosofia e poesia, posto que a prática vicia".

O Fernando Portela, também para rimar, revela: "Nunca desejei tanto, como agora, a absoluta normalidade; as delícias da previsibilidade; e que tudo seja, além de simples, trivial".

"Gostaria", diz o Tauil, "de sair, não do armário, que não é o meu caso, mas da gaveta, com uma coletânea de crônicas."

Na padoca de que é freguês-residente, o Paulo Leite cruza os dedos: que seu Patativa do Assaré finalmente levante voo e vá pousar nas livrarias.

Enquanto me traz a média e o caseirinho com pouca manteiga, o Jean diz que gostaria de "mostrar aos outros que sonhos não são meros pensamentos". Da próxima vez, então, em vez de caseirinho vou pedir um sonho.

"O que quero em 2013?", pergunta-se o Afonso. "Sou de Peixes com ascendente em Original. Mais cerveja, portanto."

A Vanessa Barbara não tem dúvida de que "precisamos de uma constelação em homenagem às tartarugas". E detalha: "A Grande Tartarugona Menor e a Pequena Tartaruguinha Maior. Ou vice-versa".

O Claudio Leal pretende "aceitar as pessoas como elas são. E, discretamente, chamar a ambulância".

O Jaime Prado Gouvêa gostaria que em 2013 se preenchesse uma clamorosa lacuna, com a criação de mais uma cota nas universidades, reservada à vasta categoria das pessoas burras - pois essas, mais que quaisquer outras, também não conseguem ser aprovadas nos vestibulares.

O Alê Staut espera que 2013 lhe permita "ser mais palhaço na vida" - "pois equilibrista e contorcionista", explica, "eu já sou bastante..."

A Analu espera que o famoso pré-sal deixe de ser apenas aquilo com que se engana a fome antes do jantar.

O Paiva espera que 2013, 14, 15 e 16 passem a jato: "Não vejo a hora de poder estacionar em vaga de idoso".

O Luiz Horta gostaria que 2013 lhe trouxesse muitas coisas, a mais urgente delas sendo "perder a senha das redes sociais" de que participa. Outra: "Fazer mais voos de ida e menos de volta."

O Rogério torce para que o umbigo seja elevado à categoria de órgão sexual.

A Andrea, que só descansa no domingo, gostaria que seu sábado deixasse de ser o que o poeta Cassiano Ricardo chamou de "sétima-feira".

A Maria do Perpétuo Socorro pede um nome mais apetecível para ser chamada pelo eventual ocupante do travesseiro ao lado.

Com tanto pano pra manga, o Ronaldo Fraga quer "ter mais tempo para aproveitar a infância dos filhos, que está evaporando com o tempo".

Sem entrar em detalhes sobre quantidade e localização, a Cristina anuncia o propósito de livrar-se de "umas verrugas".

O Caíque quer entrar no vermelho - mais exatamente, faturar sua primeira ruiva, ou então a gêmea dela, quem sabe as duas.

O Beto vai desenvolver sua teoria segundo a qual as pessoas que a gente vê na rua estão indo, umas, e voltando, outras.

"Gostaria", pede a Mona Dorf, "de poder me divertir mais com meus amigos e menos com nossos congressistas".

O André Viana espera que o prefeito Haddad "revire São Paulo do avesso (e do avesso, e do avesso...), que pendure a cidade ao sol e bata forte pra tirar o mofo e a poeira".

O Villas gostaria "que o mundo acabasse de novo, do mesmo jeitinho que acabou em 2012: dia 21 de dezembro, na mesma hora".

E o cronista? Bem, o cara espera que sua coluna não volte a incomodar - não só a que o mantém de pé como a que serve aos leitores...
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Feliz ano-novo


JOÃO UBALDO RIBERO
O Estado de S.Paulo 


Como acho que já contei aqui, meu primeiro emprego, aos 17 anos, foi em jornal, na época em que não havia escola de comunicação e a gente tinha de aprender no tapa, ouvindo esbregues dos superiores (ou seja, todo mundo na redação, porque o status do foca equivalia ao de um recruta dos Fuzileiros Navais) e imitando os veteranos que mais admirávamos ou invejávamos. Fui um repórter esforçado mas bisonho, e desconfio que, nos primeiros tempos, só não me demitiram porque eu falava inglês e quebrava o galho da cobertura local, entrevistando os gringos que se hospedavam no velho Hotel da Bahia, então o único de nível internacional em Salvador.

Sobrevivi a esses duros tempos e cheguei a exercer, um par de vezes, uma função que não existia nos organogramas, mas era comum, a de redator de tudo. Ou redator de qualquer coisa, como se preferir. Não tenho grandes saudades dessa condição, que me levou a escrever horóscopos, reclamações de leitores contra a prefeitura, resenhas de livros, explicações sobre como votar nas próximas eleições, discursos (do patrão, é claro) para o Rotary Club, notas para inserir na coluna social, obituários, editoriais e o que mais fosse enviado a minha mesa. Mas sou obrigado a admitir que, para quem vive de escrever, como eu, foi um treinamento precioso, que já me possibilitou enfrentar vacas magras aceitando encomendas para escrever o que lá fosse - e hoje creio que só não redigi bula de remédio, sinto até falta de uma, em meu currículo. O resto eu fiz, de receitas de cozinha (Receitas do Giuseppe era o título da coluna; e o Giuseppe, vergonha mate-me, era eu) a manuais do usuário.

Devo ter escrito dúzias de artigos, crônicas, editoriais e assemelhados (sim, esqueci de mencionar que também escrevi mensagens de Natal e boas festas para cartões de empresas e para uma folhinha de padaria), a respeito do Natal e do fim do ano, ou começo do novo. Pensando bem, devem ser grosas e não dúzias, porque, mal a gente saía do "... que este Natal seja um verdadeiro momento de concórdia, entre homens de boa vontade" e já tinha de tascar o "... que este ano que se inicia traga com ele a paz que a Humanidade não tem conseguido alcançar". Um dos poucos competidores das categorias Natal e ano-novo eram o "Evoé, Momo" e sua sequela "Cinzas", em que, respectivamente, concitávamos os cidadãos a uma folia sadia e sem excessos ou violência e meditávamos na quarta-feira sobre a fugaz condição humana, sem deixar de deplorar, en passant, os miasmas de xixi evaporado que se evolavam das ruas centrais de Salvador após o tríduo momesco, lastimável consequência de falta de espírito cívico e do desaparelhamento sanitário da cidade.

Este ano, tivemos a onda que fizeram com o fim do mundo de acordo com os maias. Também não há nenhuma novidade nisso, a não ser para os muito jovens. Não lembro se já escrevi algum editorial sobre o fim do mundo, no que espero haver manifestado opinião contrária. Talvez tenha escrito, sim, no tempo da Guerra Fria, quando se temia que a Terra fosse pulverizada, até mesmo por algum governante louco ter apertado os botões errados. E, de tempos em tempos, aparece alguém anunciando o fim do mundo e, juntamente com o papa-figo, foi até um dos primeiros medos de minha infância, infundido pelas histórias de dona Antônia, quando eu morava em Aracaju. Dona Antônia era uma senhora de Muribeca, interior de Sergipe, que veio pedir uma ajuda a meu pai, se instalou numa das casinholas do quintal e ficou agregada durante uns três ou quatro anos, até minha família voltar para a Bahia.

- O primeiro fim do mundo foi ainda quando os bichos falavam e todo dia caía maná do céu, bastava rezar - explicava ela a sua mesmerizada plateia infantil. - Mas aí o povo foi ficando cada dia mais pecador, se fartava de maná e não queria mais nem ter o trabalho de rezar, só pecando, só pecando, só pecando, até que um dia Deus se aborreceu muitíssimo com essa situação, cortou o maná para sempre e chamou São Noé para conversar, numa grande montanha perto do Céu. Me compreenda uma coisa, disse Deus a São Noé, estou muito aperreado com tanta pecação e resolvi tomar uma atitude, de maneira que vou acabar o mundo, só me dá desgosto. Me faça uma grande arca de navegação, bote um casal de cada bicho dentro, embarque com a família, tranque tudo e espere, que não vai mais chover maná, vai chover é água mesmo, até encharcar e afogar tudo.

Acontecia, porém, que esse primeiro fim do mundo não havia sido suficiente para que os homens parassem de pecar e aperrear Deus. Pelo contrário, era pecado em cima de pecado, uma coisa demasiada mesmo, de maneira que se sabia que, mais cedo ou mais tarde, viria novo fim de mundo, desta feita pelo fogo e não pela água. Segundo dona Antônia, será o fim do mundo de São Pedro, até hoje não sei por quê, talvez por causa das fogueiras do dia do santo. Menino, naquela época, era muito mais besta que atualmente e continuei com certo medo de o mundo pegar fogo até a adolescência.

Hoje o medo passou, até porque não adianta, e me resta consolo na crença geral de que, quando o mundo acabar, lá em Itaparica só vamos saber uns cinco dias depois. E é claro que o início do ano não passa de uma convenção arbitrária que nem mesmo se tornou universal, pois outros povos usam datas diferentes da nossa. Mas não vamos pretender filosofar sobre essas coisas, já bastam os slides em Powerpoint que nos mandam pela Internet, com textos cujos autores mereciam uma condenação às galés. Este ano, me distraí e não desejei feliz Natal aos pacientes leitores. Então desejo um feliz ano-novo e, orgulhosamente, chamo a atenção para o fato de que enrolei, enrolei, fiz uma finta ali e acolá e acabei produzindo mais uma crônica de feliz ano-novo.
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Dois ouvidos para falar




Castells, sociólogo espanhol, escreveu uma excelente tríade entitulada Sociedade em Rede. Das grandes esperanças por ele registradas nos três volumes, havia uma idéia central de que as sociedades no futuro seriam mais participativas, mas desenvolvidas e, sobretudo, mais responsáveis e exigentes com a sustentabilidade. Ou seja, quanto mais acesso a tecnologia disponível mais a sociedade mundial iria se aproximar do desenvolvimento equalitário, barreiras de toda sorte seriam rompidas e as fronteiras físicas, com o tempo, desapareceriam.

Quando vemos o fisco da Rio + 20, das dificuldades do fechemento dos acordos comerciais e de desenvolvimentos inciados na famosa Rodada de Doha e os constantes desafios da ONU e OMC em promover desenvolvimento sustentável, respeito aos direitos humanos, diversidade cultural, de gênero e respeito ao meio-ambiente, notadamente frente a crise européia que não dá sinais de recrudescimento, pergunto-me o que deu errado nas esperançosas e otimistas previsões do ibérico sociólogo. A questão é mais profunda, o ser humano não altera sua estrutura relacional na mesma intensidade na qual a tecnologia avança. Revoluções no Oriente médio, na Ásia e demais conflitos de baixa intensidade, notadamente com motivos religiosos reforçam a ideía de que o mundo não é cor de rosa.

A revolução e o desenvolvimento social e econômico chegou em nosso país. Nossa sociedade aproveitou a experiência da progressão vertical de classes. Aos poucos houve uma significativa inclusão social onde egressos das classes E e D passaram a desfrutar de bens e serviços antes atinentes, apenas, às classes B e A. 

O crédito facilitado, a redução de IPI da linha branca e de automóveis permitiu a melhoria da sensação de bem-estar e de inclusão social. Empregos foram gerados, grupos sociais passaram a ter voz e apoio de ONG e simpatia da sociedade, em geral.

De acordo com o programa nacional de amostra domiciliar (PNAD), atingimos a capacidade econômica dos lares, em 95%, ter acesso a televisão, 98% por cento a rádios. Há jornais em cidades custando R$ 0,25e 210 milhões de linhas de celulares foram vendidas até meados de 2012. Ou seja, o acesso a informação é farto e parece não recrudescer jamais. 

E como está o cidadão com tais avanços? Poderíamos, ao menos, comprovar a tese de Castells? Com acesso a informação, a novos postos de trabalho, sobretudo com aos novos segmentos de jogos eletrônicos, infra-estrutura informacional, etc.

53% das causas de nossas enchentes advém de lixo urbano, desconhecemos o que fazer e como exigir o Cód Nacional de resíduos sólidos, notadamente em função dos velhos eletro-domésticos substituídos pelos comprados em reduções de IPI e aumento de crédito. A violência urbana não diminui, os problemas de mobilidade urbana, saúde pública, saneamento parecem não nos deixar nos próximos vinte e cinco anos. 
Onde estamos errando? O que estamos deixando de fazer?

Tenho observado nos últimos vinte anos que apesar de amplo acesso a informação a sociedade parece ser acometida de um profundo alheiamento, sempre buscando coisas mais rápidas, mais simples, mas lights mais fluidas. Vargas Llosa, em seu último livro, denuncia que esta "civilização do espetáculo", que se desdobra em livros "light", filmes "light", arte "light", religiões "light" e até relacionamentos pessoais "light", serve apenas para fugirmos dos problemas do mundo. Numa palavra, serve para nos "alienarmos".(Civilização do espetáculo - Vargas Llosa). Em linha mais contundente o publicitário Andrew Keen denuncia em seu livro "Culto do amador" a questão do uso superficial da internet, notadamente o "corta, copia e cola". Enfim, em um lamentável contra-ponto a Castells estamos com tecnologia informacional em profusão, todavia, cada vez mais superficiais, light e sem querer aprofundamentos. 

De que outra forma justifica-se o apagão de mão-de-obra, o fenomenal aumento de mão-de-obra estrangeira em postos de trabalho de maior complexidade tecnológica, do celular jurássico ao slim smart phone temos produzido ordas de bacharéis em direito que não logram mais do que 3% de aprovação em exames da OAB, médicos que não obtém mais de que trinta por cento de aprovação em exames de conselhos, redução da produção industrial, aumento da criminalidade urbana, enchentes etc. Ainda mais se relembrarmos os índices do PNAD 2011.

O "encima do muro", denunciado por Llosa e Keen eu verifico entre meus três mil contatos, sobretudo quando posto assuntos de grande relevência. A informação precisa de reflexão, comparações dos elementos em dados com experiências prévias, acadêmicas ou vivenciais, mais reflexão, sobretudo com diálogo para, então, se replicar, debater, questionar, refutar ou aceitar. O conhecimento é perecível, não acredito que pessoas que leem, se é que se dão ao trabalho, leiam uma informação relevante, opte por apenas "pensar" e mais adiante tal experiência intelctual lhe permita alguma mudança substancial ou relevante. Sim, o "em cima do murismo" nos furta do caminho da reflexão, da ação, da mudança.

Procuro aceitar nossa idiossincrasia, a mesma que não nos impele ou mobiliza, a mesma que nos mantém na "zona de conforto", a mesma que endeusa nossos procuradores, nossos despachantes, afinal, não gostamos de colocar a mão na massa, pagamos para tal, VOTAMOS para tal. Neste particular, inclusive, mal sabe o cidadão que a participação em projetos muncipais de densidade estão, cada vez mais, fora do alcance do cidadão comum nas 5 565 "casas do povo". Tudo isto ocorre mediante o mutismo contemplativo do cidadão comum, o que não gosta de ir em reunião de condomínios para não se envolver, afinal, o que o síndico resolver tá resolvido, mais adiante se der merda reclamo do síndico, e o mesmo comportamento se dá com vereadores e deputados. Votou, vira as costas e ignora o que o eleito faz ou deixa de fazer.

Não consigo aceitar que no terceiro ano do século XXI, ainda tenhamos cerca de 51% dos lares sem saneamento adequado, que não tenhamos saúde pública decente, segurança pública, acesso universalisado ao ensino que nos livre da vergonha anual, eterna, contumaz de baixos índices d aprovação em exames internacionais.

A máxima de que Deus nos deu dois ouvidos para ouvir mais do que uma boca para falar está alimentando uma lamentável omissão, tornando nossa zona de conforto cada vez mais atrativa para dela não se sair.

Como pode se aceitar, com lucidez e coerência, termos medo de nosso dia a dia, em nossos deslocamentos para o trabalho, escola e casa? Como é que aumentamos os golpes tecnológicos, com é que temos cada vez mais direitos e pouquíssimas obrigações? Minorias ganharam espaço e vulto com a anuente e simpática omissão do cidadão. As três milenares instituições em nossa sociedade estão, cada vez mais, sendo fragilizadas com a distração, omissão e anuência do cidadão: Família, Escola e Igreja.

Buscamos nos sentir bem, aceitos, leves, sem obrigações. Queremos a irresponsabilidade do voto voluntário (não ser obrigado a nada e querer que tudo funcione), nossa mania de eleger o procurador, o despachante para nos livrar da obrigação de nos envolvermos em temas de densidade a cada dia aumenta, se intensifica. Já somos 28 partidos políticos. Em sociedades mais responsáveis e maduras são poucos, três ou quatro. Nossa mania de querer se aproveitar cria 28 partidos, cria 53 denominações religiosas e um número sem fim de coachs, palestrantes motivacionais e pessoas, aproveitadoras, boas de papo, de convencimento. A cada dia queremos, sem nos envolver, criar algo de diferente, algo que ninguém nunca falou e no fim, pouco se muda, pouco se melhora, o desemprego não recrudesce, as propaladas melhorias de desempenho não saem do campo do imaginário que só os consultores motivacionais enxergam e muitas pessoas cada vez mais penduradas no Estado.

No fim do ano onde o mundo não acabou o que posso desejar é que quem estiver lendo REFLITA e procure perceber seu papel, atuante ou anuente, ativo ou omisso, interfere no contexto geral. O que posso desejar é que 2013 nos traga melhor sorte tendo, antes e porém, uma vontade da sociedade mudar.

Enfim, boas festas.
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Os longos eu pulo.




Anos atrás corria uma interessante estorieta corporativa na internet, dessas que continham frases motivadoras de fecho. Um garoto telefonava para alguns vizinhos, com a voz um pouco modificada, oferecendo-se para cortar grama e limpar quintais nas férias de verão. Diante da negativa dos atendentes ele "oferecia" alguns diferenciais competivitos. Os ouvintes justificavam a negativa alegando que o jovem que já lhes atendia possuía,  também, os mesmos atributos  Por fim, satisfeito, o jovem desligava o telefone.  Sua mãe, ao presenciar os diálogos, peguntava-lhe os motivos, ao que ele respondia:  "Estou fidelizando minha clientela!!"

Vez por outra interpelo alguém quando, eventualmente, encontro nas ruas, por haver demonstrado interesse em receber, por email ou no FB, artigos publicados no blog. Muitas são as desculpas: sem internet, computador deu pau, estou sem tempo, estou separando para ler depois...etc, etc, etc. O mais pitoresco e, também, o mais frequente, é o tal do "os mais longos eu pulo, leio os mais curtos!"
Bem, perdoem-me, agora, se pareço pedante em exclamar minha perplexidade no mais refinado e elegante idioma francês que me ocorre: "Essa é fóóóda!!"

Bem, passados os arroubos de lirismo robespiérico, voltemos a realidade: "Os longos eu pulo..." De onde viria essa grassante preguiça intelectual? Como pode-se entender, falar ou debater assuntos de tamanha complexidade social, tais como claudicante educação, insipiente saneamento e saúde pública etc, em mensagens curtas? Será que a perspectiva do conhecimento " light", agradável, palatável está produzindo na sociedade pessoas com um mar de conhecimentos com a profundidade de um palmo? A perspectiva é o breve, o conciso, o rápido, o tático, o operacional, o light. Mas também é o fátuo, o inconsistente, risível e efêmero.

O laureado Nobel de literatura, o escritor peruano Mário Vargas Llosa em seu último livro, denuncia que esta "civilização do espetáculo", que se desdobra em livros "light", filmes "light", arte "light", religiões "light" e até relacionamentos pessoais "light", serve apenas para fugirmos dos problemas do mundo. Numa palavra, serve para nos "alienarmos". (Civilização do espetáculo - Vargas Llosa). Em linha mais contundente o publicitário Andrew Keen denuncia em seu livro "Culto do amador" a questão do uso superficial da internet, notadamente o "corta, copia e cola". Enfim, bem no modelo do adotado por nossa sociedade, ultimamente.

Pessoas de leitura light e descompromissada aceitam 26 partidos políticos, com mais de 100 mil políticos lhes prometendo o que menos de dez por cento poderia fazer de forma mais barata e eficiente. Esse enorme número gera partidos nanicos, de aluguel, que proliferam ambientes onde a corrupção e clientelismo prevalecem. As leiutras ligh permitem que os bons de papo lhes enrolem em argumentos genéricos, fúteis, repetitivos e pouco críveis, quando não impossíveis, com base na lei, de serem realizados. Os de leitura breve e concisa, ao final, ficam com a sensação de estarem votando na pessoa certa.

As pessoas de leitura curta, tweetica, permitem e aceitam que existam 53 igrejas em nosso país, 53 denominações religiosas distintas. Todas para convencer que Deus, Jeová, Maomé, Jesus lhes levarão para o céu, para a vida eterna (quanto as responsabilidades na família, na sociedade, enquanto não morrem...). O catolicismo romano, a igreja universal, o luteranismo, o espiritismo, as testemunhas de Jeová, os adventistas, os mórmons, os da reconciliação, islâmicos -fundamentalistas ou não-, os ubandistas, os da seita do falecido reverendo Moon, até  os rastafari são reconhecidos oficialmente. Enfim, todos tentam convencer os de leitura light da validade dos seus melhores argumentos. Todas prometem o reino dos céus.

Nos últimos anos a febre do "coach executivo" está proliferendo. Palestrantes motivacionais a cada bairro, tem até Instituto, e proliferam com surpreendente rapidez entre os incautos de pouca e superficial leitura. Pelo que vejo nos argumentos a propagandas apresentadas, qualquer um lê com cuidado um livro de Coaching Executivo (são vááários nas livrarias), abre uma página no FB ou tweeter, compra um terno ou um taller, faz uma pose de sério, comprometido e circunspecto na foto da venda e da página e "vendem conhecimento" em consultoria, sempre motivacional - aliás já vi de tudo, astrologia, quiromancia etc, nas ferramentas de preparação dos coach- em performances quase circenses, com um apreciável cabedal de frases de efeito em powerpoint muito bem elaborados - aliás já existem empresas que fornecem powerpoints sobre qualquer motivo, com músicas, slow motion, etc etc - um verdadeiro mercado farisáico-. Claro está que tudo, absolutamente tudo, com cunho emocional, psicológico, motivacional se sempre, inexoravelmente sempre, demonizando o "chefe" e enaltecendo o "líder".

Acordo cedo, na folga ou na quinzena de trabalho, leio os artigos que selecionei na noite anterior, escolho os que vão para o blog. Escolha cuidadosa, como se fora a limpeza de um jardim de clientes. Meu objetivo: A pessoa que gastar cinco minutos lendo um post no blog terá ganho cinco profícuos minutos, jamais disperdiçado-os. Mas a leitura de alguns requer atenção, cuidado, reflexão. É uma informação que colidirá com a experiência prévia, acadêmica ou vivencial do  leitor e por ela será envolvida. Como se fora em um útero intelectual o leitor, após essa reflexão, ou refutará ou germinará um novo conhecimento. Mas o "espermatozóide" terá que ser denso, consistente. Se for light, breve, "tweetico" então...

Muito de meus leitores conhecem muito mais dos assuntos que posto do que eu. Muitos tem mestrado, doutorado etc. Tais títulos foram outorgados pelo Estado que, eventualmente, remuneram para produzir e repassar conhecimento. Assumo que desconheço muitas coisas, no tenho como me aprofundar, sobretudo, por falta de tempo, em detalhes do que posto, sendo editoriais e artigos assinados, e mantenho a expectativa que um acadêmico me corrija, me complete, enfim, me informe de especificidades que venham a dominar em seu campo de expertise. Todavia tal oportunidade me é furtada. Como bem disse um colega antigo em um grupo de turma, de velhos amigos..."se o fulano for embora o Jeff vai falar merda sozinho...". Claro, reconheço, pois não sou onipresente, tampouco onisciente. Minha intenção é colocar temas de profundidade, essenciais a nosso dia a dia de cidadania, para reflexão contando com a colaboração dos acadêmicos. Acho justo, ademais a sociedade merece a produção do conhecimento cujo preparo o Estado viabilizou. É um retorno. Não sou acadêmico, não sou pesquisador formal, doutor com produção financiada pelo Erário ou empresa privada. Meu trabalho é artesanal, sem o rigor do método acadêmico e científico. Tal rigor requer tempo, dedicação quase que exclusiva, mas essa eu não tenho como, tampouco posso. Outra fator de desestímulo é o silêncio também dos não-acadêmicos. Esse "encima do murismo" deixa-me perplexo mediante tantos eventos sociais e econômicos fundamentais para nosso futuro, acontecendo de forma quase caótica.

Quando passei para a reserva remunerada -para a grande maioria, reforma- apresentei meus dois diplomas de mestrado e dois de pós-graduação para cinco faculdades distintas no Recife. Não queria mais ser piloto, não queria ficar longe de minhas filhas, queria-lhes todo meu tempo disponível, pois acredito que a presença paterna na educação dos filhos é fundamental. Queria continuar sendo professor, assim como fora em minha última função na ativa. "Não contratamos militares", disse-me a primeira, "Seu curriculo acadêmico e experiência funcional é muito rico, mas não temos como empregá-lo aqui..." completou outra. As demais com outros argumentos também declinaram meus préstimos. uma sexta ofereceu-me pagamentos módicos, quando não, irrisórios. Enfim, joguei a toalha, enviei meu curriculo de piloto e hoje ganho bem mais, apenas voando em uma quinzena, que como professor em seis dias de trabalho em dois turnos. Tento dar prosseguimento, hoje em dia, aos meus pendores professorais de forma voluntária, pouco metodológica e muito artesanal. Contudo, com muita seriedade e dedicação, afinal, ao fim das leituras e posts são, quase, três horas. Abro mão de meu dileto hobby, sessenta páginas de um bom livro, para trabalhar no blog. Ao fim, quando relembro as "desculpas"...

Enfim, o "knock out" desse "round" está próximo. É o momento de me recolher no "corner" do ring para tomar fôlego, refletir, rever conceitos e me readaptar à morena e preguiçosa idiossincrasia brasileira. O light, o lúdico, o serelepe folguedo da nossa atual cultura é o retorno do swing do lutador oponente. a rigidez de minha cintura torna meus passos trôpegos. É momento de recolher, um pouco, os remos para ver onde o curso dessa correnteza me levará. Quem sabe um sabático conceitual não seja o próximo passo. Um sabático, ao menos, seletivo para saber quem, por merecimento, absorva os textos longos. Afinal, "pular" é coisa de lutador, rasteiro, light, risível e saltitante. A arena onde ele pula não é minha praia.
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