PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O GLOBO
Fundamental é, sem dúvida, o crescimento econômico
O ano de 2012 termina com uma grande decepção: o baixo crescimento econômico do Brasil. Pelo segundo ano consecutivo, a economia cresceu a taxas medíocres e até agora não há sinais convincentes de retomada da atividade no seu conjunto. Aqui e ali, apareceram alguns sinais positivos, mas chegamos ao fim do ano sem a superação inequívoca do quadro de semiestagnação.
Não era o que se esperava. O governo reviu para baixo diversas vezes as suas projeções de crescimento ao longo do ano. A maioria dos analistas previa o começo da recuperação para o segundo semestre, mais tardar último trimestre do ano. O “staff” do FMI, por exemplo, esteve no Brasil e preparou relatório prevendo a recuperação no curto prazo.
Uma das razões desse consenso era a percepção de que certas medidas de estímulo adotadas pelo governo teriam de produzir efeito antes do fim do ano. Entre essas medidas, se destaca a diminuição das taxas de juros. Desafiando a sabedoria convencional, a Fazenda e o Banco Central trabalharam de modo coordenado para viabilizar uma queda sem precedentes dos juros no país — mas o crescimento não veio, pelo menos não de imediato.
Não quero dizer que a queda das taxas de juros não tenha sido de grande importância. Ela contribuiu para depreciar o real, ajudando a corrigir uma distorção que minava a competitividade externa da economia. Além disso, juros menores têm importante efeito positivo sobre o custo da dívida do governo. E, como o setor público é credor líquido em moeda estrangeira, a desvalorização cambial também afetou positivamente as finanças públicas. Com o novo patamar de juros e câmbio, diminuiu consideravelmente o superávit primário requerido para estabilizar a relação dívida pública/PIB. Diminuiu também o custo de carregamento das volumosas reservas do país.
Tudo isso é muito bom, mas o fundamental é o crescimento econômico. Para um país em desenvolvimento como o Brasil, com longo caminho a percorrer, não há opção: é crescer ou crescer. Somos a sexta ou sétima maior economia. Mas em termos de renda por habitante estamos ainda muito atrás dos países avançados. Sem crescimento a taxas elevadas, não há como melhorar de forma sustentada a qualidade e o nível de vida da população. Não há como erradicar a pobreza em que ainda vive boa parte dos brasileiros.
Políticas sociais, de cunho distributivo, são indispensáveis. Muito pode ser alcançado em desenvolvimento social com políticas desse cunho, como mostra a experiência brasileira nos últimos dez anos. Mas não se pode ter ilusões: no longo prazo, o que realmente faz diferença é o crescimento. E crescimento de longo prazo implica aumento do investimento e da produtividade.
Com crescimento medíocre tudo fica mais complicado. Sofre a geração de empregos e renda. O ajustamento das contas públicas se torna mais difícil. Os conflitos se intensificam. O horizonte se estreita.
O crescimento não é solução para tudo, mas sem crescimento não há solução para nada.
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