Valor Econômico
Se a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 7,25% era dada como certa, ontem, não há unanimidade igual em relação à previsão de quando o juro voltará a se mover. Tudo indica que o mercado embarcará em um dos mais longos períodos de estabilidade do custo do dinheiro. Depois de dez cortes seguidos, que acumularam uma redução de 5,25 pontos na taxa básica de juros desde agosto de 2011, a expectativa generalizada é que a Selic permanecerá no patamar atual por um bom tempo, para então subir.
Afinal, o próprio Copom avisou ao mercado em outubro que pretendia manter o juro estável por um período prolongado. Várias foram as indicações dadas de um "último ajuste nas condições monetárias". O próprio comunicado emitido após a reunião daquele mês (e repetido ontem) era bastante explícito: "O comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear".
A grande dúvida é o que o Banco Central (BC) entende por "tempo suficientemente prolongado". Naquele momento, a maioria do mercado retratada na pesquisa Focus do BC acreditava que a Selic voltaria a subir já em 2013, terminando o ano em 8%. Agora, o sentimento mudou. Segundo a pesquisa Focus, o juro continuará em 7,25% em 2013. De 35 analistas consultados na semana passada pelo Valor Data, nada menos que 20 esperam que a taxa volte a subir apenas em algum momento do primeiro semestre de 2014 ou só em 2015; 13 acreditam que a taxa subirá no próximo ano; um prevê uma redução nesse período; e um prefere não arriscar um palpite (Valor, 22/11).
A chave para essa equação é o comportamento da inflação, que subiu para perto de 5,5% nos últimos meses com o choque de oferta de alimentos no início do segundo semestre e a pressão do setor de serviços. Para o próximo ano, porém, a previsão recuou com a expectativa de que o arrefecimento dos índices de atacado deve repercutir nos preços ao consumidor e a indicação de que a desaceleração da economia internacional terá efeito desinflacionário.
Nesta semana, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu a projeção de crescimento no próximo ano de 31 de seus 34 membros. A OCDE prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) combinado de seus 34 integrantes vai crescer 1,4% em 2013, o mesmo que neste ano. Há seis meses, a OCDE esperava crescimento de 1,6% neste ano e de 2,2% em 2013. Para o Brasil espera-se 1,5% neste ano e 4% em 2013, em linha com os números do mercado doméstico.
Nos últimos dias um elemento dessa equação saiu do script e pode interferir nas previsões: o câmbio. O dólar deu uma esticada na esteira de declarações da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Em entrevista ao Valor, Dilma se mostrou insatisfeita com as cotações: "Estamos buscando um câmbio que não seja esse de um dólar desvalorizado e o real supervalorizado. Nós estávamos com um câmbio supervalorizado, ninguém duvida disso (...)". Já Mantega afirmou a empresários que a atual taxa é razoável, mas ainda não é satisfatória.
O dólar acabou superando os R$ 2,10, considerado o teto da banda cambial não admitida oficialmente, levando o BC a vender swaps cambiais, operação equivalente à oferta de dólares no mercado futuro.
A reação do Banco Central confirma que há limites para a disposição de tolerar uma inflação maior para que os exportadores tenham mais competitividade e para não sufocar o ainda frágil fôlego da economia.
Antes de elevar os juros, porém, há todo um arsenal de medidas macroprudenciais cuja eficiência já foi testada no passado e que podem ser novamente utilizadas principalmente para conter o crédito e reduzir a disponibilidade de liquidez, contribuindo para conter a inflação sem aumentar a taxa básica de juros. Poderão também ser usadas para manter o câmbio menos apreciado.
O calendário eleitoral também terá influência. Não é por outro motivo que dois dos três maiores bancos privados só esperam a retomada da alta do juro em 2015 - um quadro inimaginável até há pouco tempo em um país tradicionalmente instável como o Brasil.
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