FOLHA
Com sua clássica tradição de culto à malandragem, o Brasil ainda tem um bom caminho a percorrer até o pleno cumprimento das leis e normas de convivência pela maioria dos cidadãos. É verdade, entretanto, que já começam a declinar a glorificação do "jeitinho", a racionalização tortuosa e mesmo a ridicularização do caráter mais rígido e disciplinado --identificado popularmente como "caxias".
Nesse quadro de paulatina mudança, nada pior --embora ainda frequente-- do que a sensação de ter-se comportado como otário ao procurar seguir os regulamentos impostos pelo poder público.
Segundo dados oficiais, publicados nesta Folha, apenas 57% dos veículos esperados passaram pela inspeção, de janeiro a novembro. Pelos cálculos da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, isso significa que, até janeiro de 2013, será de 1,6 milhão o número de carros que deixaram de comparecer ao controle antipoluente, de um total de 4,7 milhões esperados.
Pior do que os veículos de passeio é o caso dos ônibus, cuja nocividade à atmosfera literalmente salta à vista de qualquer cidadão. Apenas 58% do total esperado submeteu-se ao exame técnico.
Diante disso, é bem possível que a reação dos paulistanos que cuidaram de manter-se em dia com a inspeção veicular seja de revolta. O transtorno do procedimento é conhecido: cumpre agendá-lo, pagar taxa de nebulosa origem e inefável retorno, despender bom tempo do dia para ir aos postos de controle e obter o selo que atesta as condições adequadas do motor e dos poluentes emitidos pelo carro.
As quais, de resto, não teriam por que ser tidas como potencialmente poluentes nos veículos de pouca quilometragem, que não se livram, ainda assim, da obrigatoriedade da inspeção. Ocorre que se livram. Ou melhor: livrou-se da incômoda tarefa de cumprir a lei quem simplesmente não levou a obrigatoriedade a sério.
O modelo, aprovado em circunstâncias fuliginosas pela prefeitura, não funciona. Novos procedimentos de aferição, que excluem veículos novos, são promessa do prefeito eleito, Fernando Haddad --que não garante, todavia, sua imediata adoção. A racionalidade administrativa e o respeito ao cidadão recomendam que a promessa seja cumprida o quanto antes.
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